《1.5》

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Pov's Dove

Às vezes eu acho que minha mãe tem razão, talvez eu não devesse continuar essa busca, eu procurava por ela já a tanto tempo e nunca achei nenhum vestígio de Ana.

Conhecendo bem os tratamentos, Ana poderia estar morta, era quase que impossível tanto anos em busca dela e nunca achar nenhuma pista sequer daquela mulher. Era difícil abrir mão dela, eu tinha medo de desistir e ela ainda estar por aí, precisando de mim.

Mas também tinha medo de não desistir, ela já ter saído do lugar onde os pais a jogaram e ter seguido sua vida. Ela pode ter construído sua vida e ter me esquecido, eu pensava enquanto terminava de colocar minha roupa.

Hoje eu começaria em mais uma clínica nova, talvez essa devesse ser a última, talvez eu devesse morar naquele lugar, era afastado de tudo era um país esquecido. Talvez ali seria o lugar certo para recomeçar.

Assim que cheguei ao hospital psiquiátrico, logo me entregaram algumas fichas. A maioria era por causa da maldita cura gay, como era possível tantas famílias sujeitarem seus filhos a esses tratamentos desumanos?

- Doutora Dove. - Um homem falou com um sotaque estranho, se aproximou de mim e me deu sua mão, o cumprimentei. - Você veio só olhar ou veio colocar a mão na massa?

- Vim apenas garantir que fiquem vivas. - Respondi da forma que eu pude e logo ele me deu passagem. Fui em todas as pacientes, uma a uma e meu estômago já estava embrulhado, mas agora faltava apenas uma.

Eu entrei na sala e ouvia os gritos da jovem, eu não queria olhar, aliás, queria olhar o mínimo possível. Os gritos dela me davam vontade de chorar.

Analisei as fichas, ela estava a muito tempo lá, havia sido esquecida e essa era a única ficha sem fotos. Acabei de ajeitar minhas coisas sobre uma pequena mesa de ferro e permaneci o maior tempo possível sem olhar para a paciente.

Os gritos dela estavam me fazendo mal, imagine ver ela sendo torturada, os choques eram desumanos, o tratamento em si era desumano.

- É tudo tão simples, querida, basta ficar molhada vendo um homem se tocar e eu paro. - Ouvi o médico falando e aquilo era asqueroso demais de se ouvir.

- Eu não consigo. - A garota falava com sua voz embargada, mesmo que ela estivesse quase sem voz. - Eu não consigo, eu quero, mas não sei como mudar! Me casem com um deles, só parem, por favor. - A jovem pede em total desespero, foi quando ouvi o médico gritar e aí eu me virei, ele segurava sua mão sangrando.

- Esse animal me mordeu, para mim chega! - Ele esbravejava alto. - Ela é toda sua. - Ele falou para mim e saiu andando, levando todos os enfermeiros e me deixando sozinha com ela. Eu olhei a ficha, ela era uma paciente super agressiva, já havia mandando mais de vinte pessoas para a enfermaria. Eu respirei e fui até a cama, o cabelo dela cobria todo seu rosto.

- Não vou machucar você. - Falei e ela bufou.

- Não tem como me ferir mais do que já estou ferida e se não quer perder alguns dedos, não chegue perto de mim. Apenas faça seu trabalho.

- Não sou com eles. - Falei, tentando ganhar a confiança dela.

- Então não deveria estar aqui, a última que tentou me ajudar, eles internaram aqui como louca. Uma médica está presa aqui, passando pelo mesmo que eu,bentão faça o que veio fazer. - Ela falava olhando para o lado, eu a analisava, seus braços estavam muito roxos e marcados pelas amarras. Ela estava magra e sub-desnutrida, aquilo era, sem dúvidas, desumano.

- Eu não quero te fazer mal, eu só estou aqui porque procuro alguém especial para mim, alguém que eu amei no passado e ainda amo muito. Eu tinha uma namorada, ela era tudo para mim, mas os pais dela eram muito religiosos e pagaram para alguém sumir com ela e interná-la. Eu não pude impedir, isso me destruiu por dentro, mas eu me formei em medicina e comecei a ir a clínica por clínica que tem esse tratamento nojento em busca dela. As pessoas me mandam desistir, dizem que ela pode estar morta, que ela pode estar livre, já casada e com sua família. Mas eu não posso desistir, eu preciso saber como ela está e se ela está bem. - Eu já estava chorando, lembrar de como foi ter Anna arrancada de mim sem que eu pudesse impedir, me dilacerava por dentro, era horrível toda aquela sensação.

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