Asoke terminou sua actuação, fez uma reverência para a plateia e mais outra para a mesa do Presidente. Só por precaução, ele pensou. Saiu do palco e dirigiu-se ao bar.
Sentou-se. Não havia ninguém atendendo por isso esperou sem saber oque fazer.
Uma mulher aproximou-se.
- Odruarde adorou suas canções, ele quer você aqui, novamente. - Ela disse.
Asoke reconheceu a mulher, quase que instantaneamente. Era a vice presidente. Luena Gonçalves. Ele sentiu sua boca secar ainda mais e o estomago explodir.
Ela usava um vestido de gala, azul metálico, deixando seus ombros nús e usava um rêgo preto.
- Obrigado... obrigado sra vice presidente. - Asoke balbuciou.
- Me chame de Luena quando não tiver ninguém por perto - Ela murmurou, piscou e esboçou um sorriso sincero.
Seus pêlos eriçaram ao perceber que a vice presidente tinha os mesmos traços que Ana.
- Então o que você bebe? - Luena questionou.
Asoke sentia-se como um adolescente. O ardor nas suas bochechas aumentava.
A vice presidente não possuia uma beleza tradicional, mas isso não a tornava menos atraente.
Seu rosto era arredondado com uma covinha no queixo quando sorria, tinha ombros largos e um quadril protuberante para as laterais.
- Minha filha disse que você era estranho, mas não achei que fosse tanto assim.
- Desculpe, é que as coisas estão acontecendo tão depressa. É muito para processar.
- Bom, nada como beber para desacelerar, não é mesmo?
Ela inclinou-se sob a banca, era baixa, por isso, esforçou-se mais ainda.Asoke sentiu alguma coisa roçando sua mão e pensou em coisas.
Claramente estava regredindo para a adolescência, concluiu.
Ela retirou uma garrafa com conteúdo transparente e serviu para os dois.
- Pela sua bela atuação e pelo esquecimento. - Ela disse.
O gosto era diferente de tudo que Asoke já provara. Agridoce, e no inicio frio, mas quando descia pela guela, tornavasse morno e acolhedor. Ele tentou reconhecer alguma coisa, mas alêm do sabor doce e amargo, não sabia mais nada.
- Então, você têm alguém te esperando em casa para comemorar, uma irmã talvés.
Ela voltou a servir
.
- Não.- Ninguém?
- Ninguém, eu acho.
- Deve ser solitário não?
- É, mas as vezes eu nem noto.
- Não entendi.
- É como se o tempo não fosse mais mesurável, eu estou lá e quando percebo, horas se passaram.
Dias se passaram, ele omitiu.
Um homem usando um terno preto se aproximou, Asoke decidiu levantar-se.
- Aqui está o nosso jovem cantor - Ele disse, sua voz era aguda e potente. Como se pudesse derrubar homens apenas com discursos.
- Sr. Presidente. - Asoke disse. Seu aperto de mão era firme.
Odruarde podia parecer um velho, mas tinha a garra de um boi na flor da idade, Asoke reconheceu.
- Eu vou cumprimentar alguns dos convidades - a vice presidente disse, entornou o conteúdo de uma só vez.
- Adorei a sua roupa, cantor.
Odruarde observou ela se afastando. Balançou a cabeça e disse:
- Um furacão.
Asoke quase engasgou com a bebida.
- Oque foi? - ele questionou - acha que não aguento?
- Não, nada disso senhor.
- Bom. Qual é mesmo o seu nome?
- Asoke Kiluanji, senhor.
- Ah, sim, de onde você é Asoke?
- Huambo - Ele disse. O presidente fez uma careta e Asoke acresceu apressadamente.
- Eu nasci lá, mas vim para Luanda pequeno.
Era uma mentira, mas saiu de um geito tão fluído e verossímil que ele próprio acreditou.
- Uma praga têm crescido la e se alastra para as outras provincias, seria uma pena saber que você têm uma ligação com eles. - Ele disse. Parecia uma ameaça.
- Não senhor. Mas eu concordo.
- Quem não - ele brincou e riu da própria piada. - Mudando um pouco de assunto, nós iremos comemorar meu aniversario por pelo menos mais alguns dias, gostaria de convida-lo a participar...
- Seria uma honra, senhor.
- Ótimo, vou deixa-lo então.
Odruarde desapareu entre as mesas e Asoke terminou sua bebiba.
Ele cantou mais uma vez, a pedido de Luena. E até certo momento, o tempo deixara de importar, as luzes estavam mais fortes, os objectos menos nítidos e a bebida mais familiar.
Asoke se viu na entrada do Edificio enquanto os convidados eram despachados.
Ele andou pelo passeio, alguém ofereceu ajuda mas ele rejeitou.
Um carro parou a frente dele, e o motorista de cabelo preto e oleoso sorriu para Asoke.
- Uma noite emocionante, não? Melhor o senhor subir, eu não quero virar fertizante porque deixei meu passageiro ser atropelado.
Asoke subiu.
- Obrigado - disse, a voz empapada.
- O que deram para você?
- Não sei... mas era bom.
- É. A banana também, mas têm potássio que é mortal.
Asoke achou aquilo um absurdo, mas decidiu não argumentar.
- Sabia que eles aumentam o potássio da banana quimicamente? É verdade. Você morre se comer mais de cinco.
Eles pararam em um sémaforo.
- Parece que o você têm visita - o motorista disse, então Asoke viu uma coisa, pelo espelho retrovisor, que ele se convenceu ser apenas o efeito da bebida, ou talvés eles também colocavam potassio nas bebidas.
Os olhos do motorista brilhavam, eram azuis, estranhamente azuis.
- Boa sorte - O motorista voltou a dizer e tirou um cigarro de seu bolso.A porta ao lado de Asoke foi aberta, um homem enorme, ou talvés um rinouseronte socou seu maxilar, e um choque elêtrico explodiu em seu peito.
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Nova Angola
Short StoryO futuro é um tempo obscuro e muita coisa pode brotar na escuridão. Sinopse: [{EM REVISÃO}] Em uma Angola distópica. Uma deusa, um grupo de rebeldes e um ditador, lutam para alcançar seus objectivos. Um dos poucos cantores a quem o governo déspota...