IV

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Asoke terminou sua actuação, fez uma reverência para a plateia e mais outra para a mesa do Presidente. Só por precaução, ele pensou. Saiu do palco e dirigiu-se ao bar.

Sentou-se. Não havia ninguém atendendo por isso esperou sem saber oque fazer.

Uma mulher aproximou-se.

- Odruarde adorou suas canções, ele quer você aqui, novamente. - Ela disse.

Asoke reconheceu a mulher, quase que instantaneamente. Era a vice presidente. Luena Gonçalves. Ele sentiu sua boca secar ainda mais e o estomago explodir.

Ela usava um vestido de gala, azul metálico, deixando seus ombros nús e usava um rêgo preto.

- Obrigado... obrigado sra vice presidente. - Asoke balbuciou.

- Me chame de Luena quando não tiver ninguém por perto - Ela murmurou, piscou e esboçou um sorriso sincero.

Seus pêlos eriçaram ao perceber que a vice presidente tinha os mesmos traços que Ana.

- Então o que você bebe? - Luena questionou.

Asoke sentia-se como um adolescente. O ardor nas suas bochechas aumentava.

A vice presidente não possuia uma beleza tradicional, mas isso não a tornava menos atraente.

Seu rosto era arredondado com uma covinha no queixo quando sorria, tinha ombros largos e um quadril protuberante para as laterais.

- Minha filha disse que você era estranho, mas não achei que fosse tanto assim.

- Desculpe, é que as coisas estão acontecendo tão depressa. É muito para processar.

- Bom, nada como beber para desacelerar, não é mesmo?
Ela inclinou-se sob a banca, era baixa, por isso, esforçou-se mais ainda.

Asoke sentiu alguma coisa roçando sua mão e pensou em coisas.

Claramente estava regredindo para a adolescência, concluiu.

Ela retirou uma garrafa com conteúdo transparente e serviu para os dois.

- Pela sua bela atuação e pelo esquecimento. - Ela disse.

O gosto era diferente de tudo que Asoke já provara. Agridoce, e no inicio frio, mas quando descia pela guela, tornavasse morno e acolhedor. Ele tentou reconhecer alguma coisa, mas alêm do sabor doce e amargo, não sabia mais nada.

- Então, você têm alguém te esperando em casa para comemorar, uma irmã talvés.

Ela voltou a servir
.
- Não.

- Ninguém?

- Ninguém, eu acho.

- Deve ser solitário não?

- É, mas as vezes eu nem noto.

- Não entendi.

- É como se o tempo não fosse mais mesurável, eu estou lá e quando percebo, horas se passaram.

Dias se passaram, ele omitiu.

Um homem usando um terno preto se aproximou, Asoke decidiu levantar-se.

- Aqui está o nosso jovem cantor - Ele disse, sua voz era aguda e potente. Como se pudesse derrubar homens apenas com discursos.

- Sr. Presidente. - Asoke disse. Seu aperto de mão era firme.

Odruarde podia parecer um velho, mas tinha a garra de um boi na flor da idade, Asoke reconheceu.

- Eu vou cumprimentar alguns dos convidades - a vice presidente disse, entornou o conteúdo de uma só vez.

- Adorei a sua roupa, cantor.

Odruarde observou ela se afastando. Balançou a cabeça e disse:

- Um furacão.

Asoke quase engasgou com a bebida.

- Oque foi? - ele questionou - acha que não aguento?

- Não, nada disso senhor.

- Bom. Qual é mesmo o seu nome?

- Asoke Kiluanji, senhor.

- Ah, sim, de onde você é Asoke?

- Huambo - Ele disse. O presidente fez uma careta e Asoke acresceu apressadamente.

- Eu nasci lá, mas vim para Luanda pequeno.

Era uma mentira, mas saiu de um geito tão fluído e verossímil que ele próprio acreditou.

- Uma praga têm crescido la e se alastra para as outras provincias, seria uma pena saber que você têm uma ligação com eles. - Ele disse. Parecia uma ameaça.

- Não senhor. Mas eu concordo.

- Quem não - ele brincou e riu da própria piada. - Mudando um pouco de assunto, nós iremos comemorar meu aniversario por pelo menos mais alguns dias, gostaria de convida-lo a participar...

- Seria uma honra, senhor.

- Ótimo, vou deixa-lo então.

Odruarde desapareu entre as mesas e Asoke terminou sua bebiba.

Ele cantou mais uma vez, a pedido de Luena. E até certo momento, o tempo deixara de importar, as luzes estavam mais fortes, os objectos menos nítidos e a bebida mais familiar.

Asoke se viu na entrada do Edificio enquanto os convidados eram despachados.

Ele andou pelo passeio, alguém ofereceu ajuda mas ele rejeitou.

Um carro parou a frente dele, e o motorista de cabelo preto e oleoso sorriu para Asoke.

- Uma noite emocionante, não? Melhor o senhor subir, eu não quero virar fertizante porque deixei meu passageiro ser atropelado.

Asoke subiu.

- Obrigado - disse, a voz empapada.

- O que deram para você?

- Não sei... mas era bom.

- É. A banana também, mas têm potássio que é mortal.

Asoke achou aquilo um absurdo, mas decidiu não argumentar.

- Sabia que eles aumentam o potássio da banana quimicamente? É verdade. Você morre se comer mais de cinco.

Eles pararam em um sémaforo.

- Parece que o você têm visita - o motorista disse, então Asoke viu uma coisa, pelo espelho retrovisor, que ele se convenceu ser apenas o efeito da bebida, ou talvés eles também colocavam potassio nas bebidas.

Os olhos do motorista brilhavam, eram azuis, estranhamente azuis.
- Boa sorte - O motorista voltou a dizer e tirou um cigarro de seu bolso.

A porta ao lado de Asoke foi aberta, um homem enorme, ou talvés um rinouseronte socou seu maxilar, e um choque elêtrico explodiu em seu peito.

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