XII

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O primeiro rosto, ele conhecia.
Era o motorista que o levou para a festa de aniversário.

No mesmo instante a luz oscilou e uma mulher ocupava o lugar.

Sua tez era escura e brilhante, seu cabelo trançado pendia sobre um dos ombros. Usava um vestido transparente que delineava seu corpo de tal jeito, que Asoke podia ver suas partes femininas superiores.

Ele piscou várias vezes tentando entender o que estava acontecendo e quem realmente estava sentado sob a cadeira, até decidir que era à mulher.

— Eu perguntei quem é você? — Ele repetiu.

— Quem eu sou não é importante — ela respondeu.

Então Asoke teve a certeza que estava louco, pois a voz que saia da boca da mulher era estranha e sobrenatural.

— Então o que é importante? — Ele indagou.

— O passado, o seu passado.

Asoke concluiu que a voz da mulher soava como ondas furiosas despejando sobre a costa, era uma comparação idiota, mas foi essa a associação que seu cérebro fez.

— Como uma estranha poderia dizer alguma coisa sobre o meu passado?

— Me diz, você lembra de como chegou aqui, como arranjou essa casa? Lembra de como era sua vida antes de vir para Luanda?

Ele não quis pensar sobre isso, quando o fazia passava o tempo em algum outro lugar e dava por si muitas horas depois.

Ao invés disso questionou:
— Como entrou aqui?

A mulher sorriu e deu palmadinhas na mesa, um gesto para que Asoke se juntasse a ela.

— Se você procura respostas, melhor sentar.

Isso pareceu mais estranho do que tudo que estava acontecendo. O tom dela parecia ser maternal ou na melhor das hipoteses, Asoke pensou, o tom de uma mulher vivida. Mas a moça que estava sentada usando uma veste transparente era tão jovem quanto os primeiros raios solares de um dia nublado.

Ele se viu colocando o bastão no lugar, dirigiu-se a mesa e sentou.

Uma parte dele continuava em alerta, a outra, era simplesmente a parte de um homem.

— Quem é você e como entrou aqui? — Ele perguntou mais uma vez.

— Eu sou sua amiga e não é dificil entrar em minha casa…

Tudo isso parecia divertido para a mulher.

Asoke percebeu que o seu vestido estava molhado.

— Você andou até aqui? Na chuva?

A mulher olhou para sua veste, como se só agora tivesse notado.

— Ah, isso. Não se preocupe. É difícil prestar atenção aos detalhes e as cores quando se têm um arco íris duplo no céu.

— O que isso significa? — Asoke indagou confuso.

— Significa que está na hora de você receber oque sempre foi seu.

— E  isso é?

A mulher levantou-se. Sorriu lascivamente e caminhou devagar, arrastando os dedos pela lateral da mesa.

A metade alerta de Asoke o avisou para ele se levantar e ficar o mais longe possivel dela, mas ele não o fez.

Ela colocou as mão sobre a cintura, tocando o tecido do vestido longo e ergeu-o levemente, evidenciando pés descalsos.

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