XIII

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Um monte de coisas passava pela sua mente e todas elas terminavam com uma imagem de Kiiari morta.

Agora ele podia sentir o peso do tempo e podia ve-lo se esvair por entre seus dedos.

Ele era jogado para um passado doloroso e arrebatado, logo em seguida, para um presente penoso e vazio.

Se ao menos ele tivesse ficado com a irmã ao invés de seguir um sonho idiota. Se ao menos ele tivesse rejeitado a ajuda de estranhos, ou lembrado da irmã… haviam tantos "se".

O frio entrava pela porta aberta e arrepiava seu tronco. Suas pernas estavam dormentes. Ele não ousara se mexer.

Era noite, a chuva parará, mas todas as outras coisas seguiam seu curso.

Então uma voz dentro de si questionou o que aconteceria com o corpo de Kiiari.

Ele não sabia a resposta. Precisava achar o corpo da irmã. Pelo menos ele daria isso a ela. Ser enterrada por um familiar.

Asoke correu pela sala descalço e sem camisa. Dirigindo-se para fora de casa.

Bateu a porta de seu vizinho.

— Que merda é essa. — Ouviu uma voz abafada dizer. A porta foi aberta e um homem baixo e calvo apareceu. Eles trocaram olhares, e o homem continuou:

— Que porra você quer?

— O que acontece com os corpos que são executados? — Asoke indagou, sentindo seus pés começarem a ardar pelo frio.

— Isso é algum tipo de piada? Malucos filhos da puta.

O homem tentou fechar a porta, mas Asoke o impediu.

— Não é uma piada, responda por favor. — Asoke insistiu, fazendo força com a mão esquerda.

— Porque você quer saber isso?

—Só curiosidade.

— Só curiosidade — o homem repetiu em falsete — Acha que sou algum tipo de biblioteca?

— Eu posso te dar dinheiro em troca.

— Eu não preciso do seu dinheiro, agora solte a minha porta e saia daqui antes que eu exploda sua mão.

— Por favor eu preciso saber isso. — ele empurrou ainda mais a porta, fazendo o homem recuar.

Asoke viu uma sala comum com móveis semi-usados — uma poltrona vermelha encostada à parede, um carpete também vermelho sobre o chão e uma tv a cabo enorme, ele não prestou atenção no que estava a passar nela. Seus olhos foram directos para a mesa de centro onde repousava uma cabeça mumificada de uma palanca Negra Gigante. Com os olhos negros vidrados e chifres com mais de meio metro.

Animais extintos a muito tempo atrás, Asoke pensou, mesmo assim, possuir qualquer coisa deles era crime.

O homem seguiu o olhar de Asoke.

— Ok — disse, por fim — mas você não vai contar nada do que viu aqui, se não eu mato você, estamos entendidos?

— Estamos — Asoke respondeu.
— Os corpos são jogados na fornalha. Agora saia daqui.

— Você têm certeza disso?

— Merda! tenho. Todas as execuções terminam com os corpos transformados em cinzas.
Ele empurrou Asoke e fechou a porta.

O frio era insúportavel, Asoke dirigiu-se até sua casa.

Isso piorava tudo.

Nem um simples enterro ele pudia fazer pela irmã. Que tipo de irmão ele era?

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