Um monte de coisas passava pela sua mente e todas elas terminavam com uma imagem de Kiiari morta.
Agora ele podia sentir o peso do tempo e podia ve-lo se esvair por entre seus dedos.
Ele era jogado para um passado doloroso e arrebatado, logo em seguida, para um presente penoso e vazio.
Se ao menos ele tivesse ficado com a irmã ao invés de seguir um sonho idiota. Se ao menos ele tivesse rejeitado a ajuda de estranhos, ou lembrado da irmã… haviam tantos "se".
O frio entrava pela porta aberta e arrepiava seu tronco. Suas pernas estavam dormentes. Ele não ousara se mexer.
Era noite, a chuva parará, mas todas as outras coisas seguiam seu curso.
Então uma voz dentro de si questionou o que aconteceria com o corpo de Kiiari.
Ele não sabia a resposta. Precisava achar o corpo da irmã. Pelo menos ele daria isso a ela. Ser enterrada por um familiar.
Asoke correu pela sala descalço e sem camisa. Dirigindo-se para fora de casa.
Bateu a porta de seu vizinho.
— Que merda é essa. — Ouviu uma voz abafada dizer. A porta foi aberta e um homem baixo e calvo apareceu. Eles trocaram olhares, e o homem continuou:
— Que porra você quer?
— O que acontece com os corpos que são executados? — Asoke indagou, sentindo seus pés começarem a ardar pelo frio.
— Isso é algum tipo de piada? Malucos filhos da puta.
O homem tentou fechar a porta, mas Asoke o impediu.
— Não é uma piada, responda por favor. — Asoke insistiu, fazendo força com a mão esquerda.
— Porque você quer saber isso?
—Só curiosidade.
— Só curiosidade — o homem repetiu em falsete — Acha que sou algum tipo de biblioteca?
— Eu posso te dar dinheiro em troca.
— Eu não preciso do seu dinheiro, agora solte a minha porta e saia daqui antes que eu exploda sua mão.
— Por favor eu preciso saber isso. — ele empurrou ainda mais a porta, fazendo o homem recuar.
Asoke viu uma sala comum com móveis semi-usados — uma poltrona vermelha encostada à parede, um carpete também vermelho sobre o chão e uma tv a cabo enorme, ele não prestou atenção no que estava a passar nela. Seus olhos foram directos para a mesa de centro onde repousava uma cabeça mumificada de uma palanca Negra Gigante. Com os olhos negros vidrados e chifres com mais de meio metro.
Animais extintos a muito tempo atrás, Asoke pensou, mesmo assim, possuir qualquer coisa deles era crime.
O homem seguiu o olhar de Asoke.
— Ok — disse, por fim — mas você não vai contar nada do que viu aqui, se não eu mato você, estamos entendidos?
— Estamos — Asoke respondeu.
— Os corpos são jogados na fornalha. Agora saia daqui.— Você têm certeza disso?
— Merda! tenho. Todas as execuções terminam com os corpos transformados em cinzas.
Ele empurrou Asoke e fechou a porta.O frio era insúportavel, Asoke dirigiu-se até sua casa.
Isso piorava tudo.
Nem um simples enterro ele pudia fazer pela irmã. Que tipo de irmão ele era?
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Nova Angola
Short StoryO futuro é um tempo obscuro e muita coisa pode brotar na escuridão. Sinopse: [{EM REVISÃO}] Em uma Angola distópica. Uma deusa, um grupo de rebeldes e um ditador, lutam para alcançar seus objectivos. Um dos poucos cantores a quem o governo déspota...