XIX

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Por instantes, apenas por alguns instantes, ele teve a certeza que de que se tratava de sua irmã Kiiari.

- Ei - a voz familiar chamou.
Quando o guarda virou o rosto, foi atingido com o extintor, e estatelou-se no chão.

- Venham por aqui - Ana disse.
Asoke encarou a filha de Luena.

Sua juda castanha cintilava e os olhos dela eram tão cinzentos quanto os seus e o de Kiiari, ele lembrou.

- Porque confiariamos em você? - Indagou.

- Porque eu sou a única chance de vocês sairem daqui - ela retrucou e abriu uma porta castanha ao seu lado.

Eles desceram as escadas e deram de cara com outro corredor.

Esse era mais tenebroso, iluminado apenas por pequenas lampadas fosforecentes presas em gradilhas. Canos gigantes ocupavam as paredes e chão estava inundado de água.
Ana retesou, olhando para água como se um monstro fosse imergir delas.

Gui se aproximou e pisou na água, que chegava apenas até a extremidade de sua perna.

- Okey - ela começou - Okey...

- Você têm medo da água? - Gui indagou.

- Não da água - Ela disse - Não propriamente.

Ela Finalmente ganhou coragem.

Enquanto eles andavam pelo corredor, a adrenalina se esvaí e sua mente começava a pensar em tudo que havia acontecido, então Asoke lembrou de seu sonho.

Ele parou, os outros sons de passos chacualhados também sessaram.

- Você - Ele disse a Ana - Você é a voz no meu sonho.

- Sou, fui? Foi a minha voz, agora podemos continuar andando?

- Porque você está nos ajudando? Sua mãe nos quer mortos.

Ana encarou Asoke. Ele desviou o olhar.

Aqueles olhos o faziam lembrar demais sua irmã. Possuíam a mesma fúria e parecia que diversas emoções lutavam para ganhar a liderança.

- Porque eu sou igual você...- Ana começou - e sua irmã, desde os dias que os vi, eu soube que também eram bençãos de Kianda. E porque eu não quero acabar como uma oferenda, juntos temos mais chances.

- Benção de Kianda? Do que você está falando?

- Quem é Kianda? - Gui indagou.

Ana ignorou a pergunta e continuou.

- Eu, você e sua irmã, somos uma espécie de milagre que a deusa realiza, basicamente ela faz mulheres engravidarem sem a ajuda de homens.

- Você está dizendo disparetes - Asoke disse.

- Você não acredita nisso, mas acredita em uma deusa do mar que consegue roubar memórias com beijos?

- Como sabe disso?

- Você me mostrou em seus sonhos.

Asoke não sabia oque isso significava. Parecia que ela apenas dizia frases aleatórias, que mesmo unidas não significavam nada. Como se as palavras chaves tivessem sido apagadas deixando um lacuna impreenchível.

- Do que ela está falando, que deusa é essa e que raios é Kianda?

- Você pode por favor parar de dizer esse nome? - Ana rugiu.

- Você disse primeiro.

- É, mas connosco - Ela apontou para Asoke - é diferente. Você está curioso para descobrir, quer vê-la, e isso é poderoso.

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