VI

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Asoke acordou em um quarto escuro.

A visão estava embaçada e seu maxilar latejava de dor.

- Não devia beber tanto. Principalmente em um covil de cobras como aquele lugar - uma voz feminina disse.

- Não. O idiota só não têm culhões para aguentar como um homem. - Outra voz soou. Era masculina.

- Quem são vocês?… - Asoke questionou, piscando para se habituar a luz fraca que vinha de algum lugar - o que vocês querem comigo?

- Oh, desculpe o comportamento violento de meu irmão, sabe como é, uma vez soldado sempre soldado. - a voz feminina disse.

Kuando já podia distinguir melhor as silhuetas:

A mulher era alta e magra. Ela andou até uma cadeira a frente de Asoke e sentou-se.

- Meu nome é Bela. E esse é Manuel. - apontou para o homem grande no canto do quarto.

Asoke reconheceu-o imediatamente. Ele estava de pé e a luz incidia directamente sobre sua tez.

Seu rosto era bruto e cheio de cicatrizes. Ele brincava com um fação.

- O que vocês querem?

- Sua ajuda - Bela disse.

- ajuda?

- Você é surdo ou apenas burro? - Manuel rugiu.

- Para com isso. - Bela disse olhando para Manuel. Sua voz mudou, não era um tom de sugestão, era uma ordem.

Ele endireitou-se e guardou o fação na bainha de sua fivela.

Asoke percebeu que não estava amarrado. Ele podia levantar e passar por Bela, ela não parecia uma ameaça. E Manuel? uma voz perguntou em sua cabeça.

Manuel era um muro de carne e se por algum milagre ele conseguisse passar, o que encontraria lá fora?

- Uma coisa ruim vai acontecer com Odruarde e sua laia, e nós precisamos de sua ajuda.

- Que tipo de ajuda? - Asoke Indagou.

Bela estalou a língua em reprovação.

- Primeiro você precisa concordar em ajudar.

- Isso é um absurdo. Desculpe mas não posso ajuda-los.

- Asoke, não é esse o seu nome? Sabe quantas crianças morrem, a fome, chicoteadas ou estupradas por dia, desde que o VLP-14 governa Angola?

Asoke não respondeu. Ela continuou.

- Ou quantos homens e mulheres são executados sem sentido algum? As vezes porque tentaram proteger suas crianças? Garanto que você não conseguiria contar.

Ela lavantou-se e andou até Asoke.Tranças grossas cobriam seu crânio.

- E quem ajuda essas pessoas? ninguém. Somos um povo que sofre a mais de cem anos, governado por ditadores que se importam mais com seus aniversarios do que com nossas crianças.

Ela ergeu a palma de sua mão, havia uma tatuagem do mapa angolano. Um desenho antigo, quando dezoito próvincias ainda constituiam o país.

- O povo está cansado. E nós, nós somos o vento incorruptível que não pode ser travado e nem apaziguado. Somos a porra da mudança.

A sala ficou em silêncio. Bela voltou a sentar-se.

- Desculpem, mas eu não posso ajuda-los - Asoke repetiu.

- Eu achei que você, mais do que ninguém entenderia. - Ela disse, mas Asoke não entedeu oque significava. - Tudo bem, Manuel vai deixar você em casa.

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