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Ela estava adorando seu novo trabalho.

Não se divertia tanto assim desde séculos.

Agora que não recebia mais tantos sacrificios, ou a adoração dos ilhéus. Esse era um dos pontos altos de sua reencarnação.

Adorava, principalmente, ser um motorista. Sentia que o papel era parte de si.

O homem paranoico que adora metáforas e está sempre soltando teorias de conspiração. Que ama a mulher, mas, que as vezes dormia com outras, que fumava um maço por dia e culpava a cidade pelos seus problemas de saúde.

Ela odiava receber ordens, tanto quanto odiava dormir em água doce — que limitava seu poder.

Mas receber ordens era melhor que ficar presa no lugar em que seus primos deuses chamam de molimo.

Apenas observar e ser parte de tudo, ser tudo que existe, ser vida, ser energia e observar os humanos esquecerem de você, enquanto adotavam deuses ocidentais fracos, era aborrecido demais.

Nunca mais voltaria para o molimo, e se conseguisse influenciar as pessoas certas, nunca mais precisaria de pequenas oferendas.

Lembre-se, uma voz estrondosa ressoou em sua mente, não faça nada com suas próprias mãos.

Um contra-tempo, ela pensou, a parte boa desse novo mundo é que as pessoas estavam desesperadas por mudança, e pessoas desesperadas faziam qualquer coisa…

Não precisa ser uma deusa para saber isso.

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