Não podia ser verdade, Asoke pensou, ela achou a arma e a mensagem primeiro que ele e agora queria faze-lo acreditar que é uma rebelde para ter sua vida poupada.
Mas se ela fez isso, uma voz disse dentro dele, porquê simplesmente não avisar Odruarde e prenderem quem ali entrasse?
Luena percebeu a descrença nos olhos de Asoke.
Sua mão percorreu seu vestido até a borda e ergeu levemente. Havia uma tatuagem de uma Angola antiga — porém completa, a mesma tatuagem que Bela possuía — em sua coxa.
— Sua vagabunda traidora — Odruarde esbravejou, ele tentou se mover, mas Asoke firmou o aperto.
Ele continuou:
— Eu dei tudo para você, a tornei minha vice presidente e acolhi aquela criança esquisita sem pai e é assim que você retribui?
Luena riu.
Era uma risada que Asoke nunca imaginara que alguém como ela daria.
Não parecia forçada, era como se estivesse ali apenas esperando o momento certo para sair.
— Por favor Odruarde. Nós dois sabemos que você fez tudo isso, inclusive arranjar uma mulher como vice presidente porque achou que assim não seria traído. — ela fez uma pausa — Não sou um cachorro, não devo lealdade a ninguém.
Nesse mesmo instante, irromperam da porta, duas silhuetas.
— Só a alguém — Luena corrigiu.
Bela e Gui. Os dois cobertos de respingos de sangue e poeira dirigiam-se so centro da sala.A luz agora oscilava desgovernadamente.
— Odruarde — Bela disse.
— Almirante Jamba? Você…
— Ela não está morta — Luena terminou.
A sala imergiu em um silêncio perturbador e pulsante que abafava qualquer outro som.
Bela e Luena se beijavam.
Um beijo sedento e untuoso. Que envolvia muito mais do que apenas os lábios. Durara apenas um minuto ou menos, mas para Asoke aquela cena passava em sua mente, uma, duas, três vezes.
Ele sentiu uma pontada em alguma parte do corpo, só não conseguiu identificar o lugar exato, mas sabia oque causara à tépida dor: a morte de qualquer esperança que havia se formado a horas atrás.— Sua vagabunda! — Odruarde rugiu, ainda mais furioso — Eu devia te-la enforcado.
— Acabe logo com isso — Luena disse. Odruarde estalou a língua.
— Agora eu entendi tudo — Odruarde disse. Asoke não podia ver seu rosto, mas imaginou o presidente sorrir, como se tudo isso se provasse uma piada.
Bela retirou a arma de seu coldre.
— Não. Eu faço isso — Asoke berrou.
Ele virou Odruarde, e percebeu que estava certo. Havia sim um sorriso em seus lábios murchos. Uma linha fina, feito a boca de um camaleão.
— Você foi enganado esse tempo todo cantor. Usado igual uma chave.
— Do que você está falando?
— Acabe logo com isso ou eu mesmo faço isso — Bela alertou, irritada.
— Foi Luena que informou o ataque ao armazém, e se ela trabalha com os rebeldes então… — Ele fez uma pausa e estalou os lábios, como se a confusão de Asoke tivesse gosto — esse sempre foi o objectivo. Para atrai-lo e fazer o trabalho sujo.
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Nova Angola
Short StoryO futuro é um tempo obscuro e muita coisa pode brotar na escuridão. Sinopse: [{EM REVISÃO}] Em uma Angola distópica. Uma deusa, um grupo de rebeldes e um ditador, lutam para alcançar seus objectivos. Um dos poucos cantores a quem o governo déspota...