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Asoke não sabia o porque de se ter aproximado tanto, nem o motivo que o fez tirar o capuz do casaco e encara-la. Aconteceu tudo muito rápido.

A jovem olhou para ele como se o conhecesse e mesmo sob a chuva forte, Asoke a viu chorar.

Ela está morta, ele disse para si mesmo, não adianta ficar pensando sobre isso. Era só mais um dos membros da rebelião de Bela, mais um corpo como tantos outros que morriam naquela praça.

Então porquê que ele não conseguia esquecer aquele rosto?
Porque ele tentava lembrar de alguém que não conhecia?

Pelo menos um deles conseguiu escapar, ele pensou. Mas sabia que mais cedo ou mais tarde, ia acabar por ser apanhado.

Hoje aconteceram coisas estranhas, concluiu.

Passou o resto do caminho observando, sob o vidro do taxi, o mundo inundado e distorcido que o aguardava.

Luanda é como uma droga. Ela te da prazer, mas leva seu figado junto, a voz do motorista ecoou por sua mente.

Asoke abriu a porta de casa, dirigiu-se até ao banheiro e despiu a roupa encharcada.

Vestiu uma calça que encontrou pendurada no chuveiro e quando saiu uma pessoa estava sentado em sua mesa.

- Quem é você? - ele disse e olhou rapidamente para a porta, ela estava trancada.

Não houve resposta.

O figura remexeu-se na cadeira, como se estivesse desconfortavel. Seu rosto estava inundado em sombras.

Asoke andou até um canto da sala e retirou um bastão de ferro, que muitas das vezes perguntou pra si mesmo se um dia o usaria.

Então a figura apoiou-se sobre a mesa de madeira. A luz fraca das lampadas incidiu sobre si e sorriu...

Haviam dois rostos.

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