Dahlia
Minha cabeça doía, não tinha coragem de abrir meus olhos ainda. Imagens desconexas vagavam pela minha mente e a dor aumentava quando eu tentava lembrar da noite passada. E como toda vez que eu bebo de mais, a memória chega até mim de uma vez. Assim como a vergonha das palavras ditas pela bebida e a moleza enorme do corpo.
—Vai dormir pra sempre? —Uma voz controlada fala próximo de mim, em um tom não muito alto, mas o suficiente para fazer minha canela latejar mais ainda. Essa é a voz de Noah quando ele tenta engolir a raiva e passar uma falsa sensação de calmaria.
—Isso vai evitar que você brigue comigo? —Minha garganta está seca e ardendo, minha voz está rouca e minha cabeça lateja ainda mais. Escuto o som como se fosse algum objeto sendo colocado bruscamente sobre a mesa ao meu lado. Lembro de não conseguir subir as escadas para o dormitório e ter dormido em um dos sofás próximo da lareira do salão comunal.
—Beba. Vai lhe ajudar com a dor de cabeça. —Faço um esforço para abrir os olhos e puta merda, a luz quase me cega, tento me acostumar, mas parece uma tentativa falha. Depois de algum tempo eu finalmente consigo enxergar alguma coisa. Gradativamente e com muita preguiça eu vou me sentando no sofá e primeiro encaro o pequeno frasco azul, que a muito tempo eu não precisava usar. Depois de beber todo o conteúdo da poção, vou levantando o meu olhar para Noah que está sentado em uma poltrona me observando.
—Como está Adam?
—Muito bem!
—Que pena! — um silêncio pesado se instala entre nós dois. Observo que não tem muitas pessoas pelo salão, os poucos estudantes presentes estão ocupados com seus próprios grupos.
— Café da manhã? —Tento aliviar o clima com um sorriso culpado no rosto em direção a Noah. Mas a verdade é que eu realmente preciso comer, meu estômago já começa a dar sinal de vida.
—São 3 da tarde. —ele diz ainda de modo frio, o que não combina com ele, já que essa é a minha função.
—Ahhh... vamos comer? — com um suspiro cansado, Noah concorda e me ajuda a me levantar do sofá. Devagar nos encaminhamos até a cozinha.
—Régulos já deve ter pedido para algum elfo preparar a sua comida. —Ele diz no caminho. É claro que régulos pediu, aquele menino é um anjo na minha vida.
—Desculpe por ter exagerado na bebida ontem, sei o que isso significa pra você.
—Tudo bem, Dahli. —Mas eu sei que não está bem, sua cara triste e decepcionada me demostram isso. Noah não tem uma relação muito boa com a bebidas alcoólicas, é claro que ele bebe um pouco e não se importa se os amigos fizerem o mesmo, mas ele não suporta o exagero.
Quando chegamos na cozinha vejo diversos elfos correndo pelos cantos, trazendo e fazendo comida, lavando pratos ou limpando as cozinhas. Mas eu me surpreendo com algo realmente inédito, Régulos Black está cozinhando? Observo ele desligar o fogão e colocar parte do conteúdo da panela em cima de um prato. O cheiro invade minhas narinas e minha barriga responde, eu amo espaguete a bolonhesa.
—Eu já disse que você é um anjo, Rég? —dou um beijo em sua bochecha e já me ponho a comer o macarrão. Até minha dor de cabeça passou.
—Mais de uma vez. —Ele disse também se servindo.
—Vejo vocês mais tarde. — Noah diz antes de se despedir de mim com um beijo na testa e um aceno com a mão para o Black.
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Verde e prata
FantasySempre costumamos torcer pelo herói, mas isso porque ouvimos apenas sua versão da história. Mas e os vilões? Aquelas pessoas verdadeiramente interessantes, que só querem defender aquilo que acreditam? Como seria ouvir a parte deles da história? Da...