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❭Lisa, 01:40 da madrugada❬

Ando por aqueles becos apertados e escuros com certo medo, tateando as paredes em busca de algum buraco para me esconder.

Percebo uma sombra vindo em minha direção, identifico que é um homem, e meu coração quase pula para fora.
Dou às costas e começo a andar rapidamente, com medo do que pudesse acontecer.

- Ei.

Fingo não ter escutado e continuo andando, o lado ruim de isso tudo é que em lugares como esse não se sabe em quem confiar.

Duvido até da minha sombra.

- Lis?

Puta merda.

Congelo no mesmo instante em que ouço meu nome ser pronunciado por aquela voz.

Aquela voz.

Filipe, seu filho da puta, você de novo?

Fico parada de costas para ele, enquanto o mesmo continua vindo em minha direção, tento formular uma resposta para a sua possível pergunta de o que eu estaria fazendo ali naquele horário.

- Caralho, quanto tempo!

- Oi, Filipe, quanto tempo né?

Finalmente me viro com um sorrisinho desconcertado, e posso ver aquele brilho nos olhos que só ele tem.

- Nossa, tu tá um mulherão, hein?

Pode ir parando, seu ordinário.

- Ah, o tempo deu uma mão né. - dei de ombros tentando esconder a vergonha.

- Verdade. Mas então...por que tu tava correndo igual uma barata tonta por aqui?

Merda.

O Lucas.

Demorei alguns segundos para responder, pois estava pensando se pedir ajudar ao meu ex que me traiu e me magoou, seria uma boa opção.
Mas, a verdade era que qualquer opção seria boa, com tanto que o Lucas não me encontrasse.

- Então...eu...- olho para trás e me inclino para frente, apenas para chegar se ele não estava por ali, e acabei vendo o que mais temia.

Lucas estava lá, atrás de Filipe, e apenas alguns metros separavam os dois.

Nunca quis envolver ninguém nos meus problemas, mas aquilo foi uma necessidade.

- Filipe, pelo amor de Deus, me ajuda, me tira daqui!!

Ele não sabia o que estava acontecendo, e tampouco sabia que o meu namorado louco estava atrás dele, então é claro que ele ficou confuso.

- Que? Do que se tá falando?

- Vai ajudar porra nenhuma.

A voz de Lucas surgiu ao lado de Filipe, e eu fiquei lá, parada, sem saber o que fazer, sem saber se corria, se gritava ou se apenas obedecia e ia embora dali com ele, já que era o que ele queria.

- Quem é tu, parceiro?

Só pude ver Filipe olhando Lucas de cima para baixo, aparentemente irritado pela forma como Lucas chegou repentinamente.

- Sai fora, mano.

Senti meus pulsos serem agarrados novamente, assim como senti meu rosto esquentar e as lágrimas descerem.
Ele tentou me puxar para si, mas, dessa vez foi impedido.

- O caralho, tu é maluco?!

Filipe agarrou os ombros de Lucas, e o puxou para trás, fazendo o mesmo ficar vermelho de ódio.

- Seu vagabundo, rapa o pé daqui!

Lucas avançou em cima de Filipe, mas parou, deu dois passos para trás e disse:

- Tu nem é homem pra isso.

E então, eu olhei para Filipe.

Não sei quando, e nem de onde, só sei que em suas mãos havia uma arma, uma arma apontada para Lucas.

- Se liga, seu filho da puta, não sei o que deu em você, e não sei qual a porra do problema de vocês dois, mas vou te mandar a real: em mulher tu não encosta um dedo. Morô?

Me surpreendo com essa fala, e só consigo observar os dois, não faço nada, a não ser alternar o olhar entre Filipe e Lucas.

- Agora some daqui, antes que eu meta uma bala em ti parceiro.

Por incrível que pareça, Lucas obedeceu, se virou e sumiu no meio da escuridão.

Eu fiquei lá, parada, observando sua sombra sumir.

O que foi isso?

- Se tá bem, pô?

- Você...ia dar um tiro nele?

Minha voz saiu um tanto quanto indignada, mas, no fundo eu estava aliviada.

- Claro que não, doidona, foi só um susto.

- Ah...

- Vai ficar aí paradona? Vem, bora, bora.

- Bora pra onde seu do...

Ele simplesmente me pegou pela mão e saiu me puxando para fora daquele beco, e eu, novamente, estava sem reação.

De madrugada, sem bolsa, sem celular, sem nada, só a roupa do corpo, com o meu ex namorado, que me traiu, correndo pelas ruas escuras e mal cheirosas da favela.

Que porra é essa?

- Para!

Segurei os pés firmemente no chão e me soltei de sua mão.

- Eu tenho que ir pra casa, meu Deus!

Passei as mãos pelo rosto, enquanto Filipe apenas me olhava com uma mão na cintura.

- E tu acha que tô te levando pra onde? Pro meu barraco?- ele disse, irônico - Vambora logo, tenho mais o que fazer.

Nossa.

Ele se virou e continuou andando, eu nem havia percebido, mas havia uma moto estacionada mais para frente, deduzi ser dele.

E era mesmo.

Observei enquanto ele montava naquele troço enorme com facilidade, observei como seus músculos se contraiam conforme ele apoiava as mãos no guidão, observei como...

Por que eu tô observando ele? Meu Deus!

Ele cruzou os braços, ainda sentado na moto, e me olhou.

- O caralho, tu vai ficar aí?

Nesse momento, me lembrei dos vacilos que ele tinha dado comigo, me lembrei de como fiquei nervosa com tudo e de como ele fodeu com o meu psicológico.

- Não preciso da tua carona, Filipe, obrigada.

Virei as costas e sai andando.

❭Filipe, 02:00 da manhã❬

Continua marrenta.

Mesmo depois de eu ajudar, sacar até uma arma pra defender a maldita, ela continua sendo uma mal agradecida.

Quer saber? Que se foda não sou pai dela, já fiz até demais, ela que vá sozinha.

Giro a chave e saio com o motor estralando, faço questão de passar do lado da bandida.

Chego em casa, tomo um banho, e dou risada lembrando de alguns anos atrás, eu e ela era vida louca mesmo, um casal mó chavoso. Hoje em dia ela tá bem diferentona, tá mais...mulher.

Saio do banho e fico só de cueca, é bom pra refrescar o Filipão, me jogo na cama e pego o celular.

Lisa Santos.

Mó gatona no Facebook, mas nem posta nada, envio uma solicitação, na maior cara de pau tá ligado.

Dou risada só de imaginar a cara de putassa que ela vai fazer.

É, Lisa, o tempo te fez bem.

(Não revisado)

Louco pra voltar • RetOnde histórias criam vida. Descubra agora