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(É agora que o pau vai cume)

Filipe

Só chegamos de noite, não consegui dormir durante a viagem e só conseguia pensar se tinha alguma notícia. Meu celular tava sem bateria, então nenhum dos caras falou comigo.

Mandei o Beterraba arrumar um lugar pra Eduarda ficar e depois ir de encontro comigo.

Andei pelo centro procurando o rostinho conhecido dele, mesmo imaginando que provavelmente não estaria por lá. Mostrei uma foto pra algumas pessoas, ninguém sabia dizer se tinha visto ou não.

Andei até tarde procurando ele por tudo que era canto naquele lugar. Quando vi já era quase uma hora da manhã, fui pra um posto que tava aberto e comi um salgado. Depois fui pro hotel que tava todo mundo, pra tomar um banho.

- Filipe? - ouvi a voz da Duda atrás da porta.

- Que que cê quer... - parei de falar quando abri a porta e dei de cara com a pessoa que eu não via há anos.

- Eai, irmãozinho - Leandro sorriu.

Coloquei a mão na cintura e apontei pra eles.

- Que porra é essa, Eduarda? Que droga vocês estão fazendo? - gritei.

- Ah, qual é? Abaixa isso aí, Filipe. Cumprimenta seu irmão direito - Eduarda sorriu também.

- Se eu fosse você, eu abaixaria mesmo - Leandro deu risada, e em seguida 3 caras apareceram atrás dele, todos com arma também.

- Vamos pra dentro, temos muito que conversar ainda - Eduarda disse entrando.

Os outros entraram atrás e nem percebi quando minha arma já estava no chão.

- Amarra - Leandro apontou para mim.

- Cê tá louco? Vai se fuder - empurrei um deles e dei um soco no outro.

Mas Leandro foi mais rápido e me deu uma coronhada.

Quando acordei, já estava todo amarrado em uma cadeira e com um pano enfiado na boca.

Pisquei zonzo e encarei os dois na minha frente.

- Meu amor, como você é burro - Eduarda deu risada.

- Pra caralho - Leandro riu junto.

- Eu tentei de tantas formas ter você - Duda falou, chegando mais perto - Mas você é um pau no cu, Filipe, me tratou mal desde o começo, lembra? Então eu precisei recorrer a ajuda do seu irmão!

- Pois é - Leandro encostou na mesa e olhou para mim - Eu lembro até hoje de quando a Dudinha veio pra mim pedindo ajuda. Coitada, fez até o que não queria: engravidou.

Pisquei.

- Ah, é - ela continuou - Não foi fácil, essa droga deixou meu corpo todo marcado - ela revirou o olho.

Tentei cuspir o pano fora, mas um dos caras que estavam com eles empurrou mais para dentro.

- Não, pode arrancar - Leandro falou.

O mesmo cara tirou o pano da minha boca e comecei a falar.

- O que vocês dois querem? Dinheiro? É dinheiro que querem? Eu dou, pede quanto quiser aí - falei alto.

- Não só dinheiro, Filipe - Duda colocou a mão no meu rosto - Eu quero você, quero uma família.

- Vai pro inferno,  Maria Eduarda - esquivei da mão dela.

- Uma pena que você tava se dando bem com a Lisa, né? - ele riu - e agora vai ter que abrir mão de tudo e ficar com a Dudinha.

- Vocês estão loucos? Só pode - dei risada - Nunca que eu vou ficar com você, muito menos abrir mão de tudo.

- Ah você vai, você vai sim - Duda sorriu - Me dá esse celular, Mamute.

Um dos caras jogou um celular na mão dela.

- Olha só quem tá aqui! A família reunida - ela virou a tela para mim, mostrando todo mundo lá de casa na mesa: A Lisa, Miguel, Ana, a bebê, Davi, dona Clarice...

- Todo mundo juntinho! - ela sorriu - Imagina se sem querer, nós mandassemos matar todos? Um por um, da pior forma, com direito a tortura e tudo mais? Você sabe como funciona, sabe que morte na favela é sempre da pior forma.

Fiquei sem reação.

Era minha família.

E eu sabia bem do que o Leandro era capaz, e a Duda, com aquele olhar de louca psicotica, me fez acreditar que seria capaz de tudo mesmo.

Louco pra voltar • RetOnde histórias criam vida. Descubra agora