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(Lisa)

Abri os olhos, vendo somente o branco do teto no meu campo de visão. Mais nada.

Fechei os olhos outra vez, e respirei fundo, sentindo a agulha na veia da mão se afundar mais ainda ali.

Abri os olhos outra vez, dessa vez percebendo que as coisas que vinham na minha mente não faziam parte de um sonho, mas que realmente haviam acontecido.

"Nem pra isso você prestou"

Senti meus olhos encherem de água.

Uau, isso machucou.

Me sentia de um jeito inexplicável. Era como se eu tivesse sofrido tanto que nem chorar mais fizesse diferença. Meu corpo estava pesado, quente...

- Nossa, finamente você acordou! - Ana apareceu na beirada da maca.

- O que aconteceu?

- Você teve uma reação nervosa...seu corpo não suportou tudo que deve ter ouvido daquele maldito do Filipe, e então juntou com todas as outras coisas que aconteceram, e você desmaiou. Nossa, pensei que tinha morrido ali mesmo na minha frente.

Filipe.

Pisquei.

Ele foi embora.

Com ela.

- E...olha, o Miguel falou com ele... É tudo verdade - Ana segurou minha mão - ele realmente quer ficar por lá com a...Duda.

- É... acho que entendi... - olhei para o outro lado, enquanto uma lágrima quente escorria pelo meu nariz.

- Lisa, olha, não fica assim. Você sabe que ele não é pra você, nunca foi.

- Ana - ergui a mão - Só...para, tá? Me deixa, fica quieta.

- Tudo bem - ela deu um passo para trás - Se você precisar...Me chama, tô aqui do lado!

Novamente sozinha, chorei.

Chorei, chorei, e chorei.

Chorei como nunca havia chorando antes.

Afinal, era essa a dor de se perder um grande amor?

Cada parte de mim estava tão dolorida.

Mas não era eu quem dizia não querer nada com ele? Sim, era, e agora, depois de enganar tanto eu mesma com meus sentimentos, negar até a morte que gostava dele, eu estava ali.

Meu corpo jogado em uma maca de hospital, eu totalmente incapaz de reagir, com o coração dolorido por ouvir que, na verdade, servi somente como um escape.

No fundo talvez estavam soubesse disso, mas mais no fundo ainda, talvez eu torcesse para que não fosse assim, e para que ele, Filipe, me amasse de verdade.

As lágrimas desciam teimosamente, meu olho já ardia e meu nariz estava entupido.

Mas não me importei, se era para chorar, eu iria chorar.

As vezes,  a única coisa que o coração precisa é isso: se derramar em água, e depois se reerguer.

Louco pra voltar • RetOnde histórias criam vida. Descubra agora