Capítulo um

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Nora

As nevascas sempre acabam com a graça dos feriados. Hoje, por exemplo, é 24 de dezembro, praticamente natal e provavelmente as lojas estão iluminadas com decorações vermelhas e recheadas de presentes a serem comprados. A pura e simples definição do capitalismo. Como uma garota que não está nem aí para o consumismo e o gasto exagerado, eu queria muito a habilidade de esquentar o tempo. Esse sim, seria o melhor super poder da história.

Morar em St. John's no Canadá tem seus defeitos. É frio demais e neva bastante. O gelo costuma chegar até a altura dos joelhos e sem contar que é irritante usar três camisas, dois casacos, calça jeans, cachecol e duas meias. Basicamente, você precisa ficar toda empacotadinha mesmo se for ao mercado do outro lado da rua. Se botar os pés na calçada sem nenhum desses "equipamentos de proteção", como mamãe costuma chamar, você será conhecido como o próximo Steve Rogers vulgo capitão América. Aquele Vingador que ficou congelado.

Voltando ao tópico, é véspera de Natal e como tal, garotas da minha idade deveriam estar no centro da cidade, dentro dessas lojas pomposas, gastando o máximo de dinheiro possível. Eu, como consumidora, economizei seis semanas de gorjetas da lanchonete fajuta que chamo de emprego, para comprar quanto é de presente possível. Épocas comemorativas me fazem perder a cabeça e gastar até o que eu nem tenho em compras. Mas não. Não me classifique como uma garotinha mimada. Esse tipo de estereótipo não cabe no meu vocabulário. Comprar presentes nos feriados, principalmente natalinos, é uma necessidade.

Eu queria poder estar enchendo as sacolas de roupas e sapatos diversos, mas a neve estragou tudo. Ela sempre estraga. E eu acabei num lugar onde nem deveria estar. Na casa do meu antigo melhor amigo.

Ok, ok. Essa história precisa ser contada do começo.

Lá estava eu, Nora Summer, caminhando tranquilamente pelas ruas movimentadas de St. John's, com um céu meio acinzentado acima de mim. Quando olhei a previsão no celular pela manhã, basicamente, o tempo deveria estar acima de quinze graus e com um sol amarelado brilhando no alto. Os caras do tempo, obiviamente, erraram nos cálculos e eu acabei levando chuva e sendo, praticamente, obrigada a parar nas portas de um café lotado de gente.

O pior nem foi a parada obrigatória e repentina, mas quem apareceu para desperdiçar espaço no mini toldo do café.

Aquele sorriso maldito misturado a um olhar zombeteiro, tinham o estranho dom de fazer o meu corpo inteiro tremer. Ainda bem que a sensação térmica era fria. Dá para fingir que você está tremendo toda por causa do gelo e não da presença de certo alguém.

— Não acredito! — Ele diz, se aproximando, sacudindo as páginas de um livro grosso que estava na sua cabeça servindo como guarda-chuva. — Nora!

Josh. — Sussuro, sem tanta animação na voz.

Com um gesto de cabeça, ele me pede para abrir espaço para se abrigar comigo ali embaixo do pequeno toldo. Num revirar de olhos, arrasto meus pés em passos de bebê um pouquinho para o lado, o bastante para que metade do corpo de Josh não se molhe e a outra metade fique encharcada.

— Como você está? E a Elie? — Ele retira, cuidadosamente, a mochila das costas e a acomoda em cima dos sapatos. Mordo o lábio ao lembrar da minha irmã.

— Ainda no Texas. — Suspiro, encarando as minhas botas de coturno ao invés dos olhos dele. Consigo sentir meus dedos grudando na meia. O cheiro de chulé mais tarde será horrendo.

— Já são nove meses que ela está lá? Nossa, quanto tempo!

Atrás de nós, uma movimentação dentro do café se inicia. Automaticamente, Josh e eu nos viramos para observar a cena. Ao que parece, uma mulher gorducha de calça rolê, esbarrou num casal de velhinhos e não está muito afim de se desculpar.

— Jogou a educação no lixo essa aí! — Não consigo identificar quem gritou. Mas lá no fundo, uma garota loira deposita um tapa atrás da cabeça no cara que parece ser o namorado. Sou péssima em ler lábios, mas acho que ela disse alguma coisa do tipo: "fique quieto".

Dividida em observar a situação e a discussão do casal no fundo, sinto o ombro de Josh enroscar no meu e acabo distribuindo minha total atenção ao ingênuo toque. Dou um curto passo para o lado, mas Josh não percebe meu distanciamento repentino. Ele está mais concentrado na pequena briga.

Os estalos da chuva estão reduzindo e o casal de velhinhos com um dispensar de cabeça, se afasta da mulher gorducha, murmurando alguns insultos e saindo do café.

— Que mal educada. — Josh comenta, desviando os olhos de dentro do estabelecimento e dando atenção ao cessar da chuva. — Parece que só foi uma nuvem.

Acento rapidamente, saindo debaixo do toldo. Agora é só seguir caminho e deixar esse banana para trás. Sem nem ao menos me despedir, viro de costas para Josh e aperto o passo. Já sinto o cheirinho dos presentes e embrulhos das lojas. Eu só não esperava ele gritar meu nome.

— Nora!

Bem vindo(a), caro leitor(a)!Você acaba de conhecer Nora Summer!

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Bem vindo(a), caro leitor(a)!
Você acaba de conhecer Nora Summer!

A curiosidade tá batendo para descobrir mais sobre o Josh? Fica ligado nos próximos capítulos. 😉

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