Capítulo quatorze

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Josh

Tem muitas coisas que me fazem chorar.

1. Ouvir Demons do Imagine Dragons.
2. Meu aniversário.
3. Toda vez que volto para casa no fim da tarde e encontro os meus pais assistindo novela na TV.
4. Às quatro da manhã quando lembro da minha avó que faleceu de madrugada.
5. A Nora.
E uma infinita lista de outras coisas.

Eu sei disfarçar bem. Por isso, quando o Todd ou o Jimmy me pegam chorando uma vez ou outra, eles sempre caem na velha história do cisco no olho.

Mas não consigo disfarçar com a Nora. Quando você está com ela e a escuta falar sobre a vida, é impossível não chorar. Se tem uma coisa que eu detesto, é que me vejam derramar lágrimas como um bebê.

Eu sempre considerei a família Summer como um grupo poderoso de super heróis. Eles transmitem aquela sensação boa de paz e tranquilidade. E parecem ter uma solução para todo e qualquer problema que apareça.

Nunca imaginei que a Elie fosse se desvincular do grupo e deixar de ser a heroína que me dava carona para o colégio. Era estranho não enxergá-la mais como a garota de cabelo escuro, que usava jaqueta preta e colocava para tocar no carro músicas coutry dos anos 90. A Elie mascava chiclete de hortelã toda manhã e a picape velha já possuía aquele cheiro natural.

Depois da formatura, eu senti falta do cheiro. Da Nora com a cara emburrada no banco do passageiro, comendo pedaços frescos de cenoura. E dela. Da Elie. Senti falta de vê-la batucar os dedos no volante ao som de alguma música esquisita que eu nem sabia o nome. Falta de sorrir quando ela desligava o carro no estacionamento, nos encarava pelo retrovisor e dizia: dêem o fora, pirralhos!
E é instantâneo quando a gotinha de água escorre pelo rosto, acompanhada de outras mais.

Meu coração sempre falha uma batida quando Nora me toca. E no segundo em que ela me abraça, afundando o rosto no meu suéter, eu sinto que vou sufocar. Mas não demoro muito para retribuir, subindo e descendo a mão pelas costas dela, tentando de alguma maneira confortá-la.

E, de repente, vêm tudo de uma vez. Estou abraçando Nora, enquanto na minha cabeça está tocando Demons do Imagine Dragons, alternando entre as lembranças dos meus pais assistindo novela e pesadelos com a morte da minha avó.

Droga.

Tenho que ser forte pela Nora. Ela precisa saber que enquanto eu estiver aqui, nunca ficará sozinha. É o nosso momento de resiliência. Cada segundo, diminui uma lágrima.

Acomodo meu queixo no topo da cabeça dela e ficamos em silêncio, abraçados dentro da tenda de lençóis, com as luzes amarela e vermelha do pisca pisca iluminando tudo ao nosso redor e minha mente tocando no último volume a canção do Imagine Dragons.

— Desculpe. Eu fiz a gente ficar triste. — Nora diz por fim, se afastando o suficiente para me encarar.

— Não estou nem aí. — Asseguro, afastando os cabelos espatifados do seu rosto e os jogando para trás da orelha. Ela sorri. — Se quiser dormir um pouco, vou estar bem aqui quando acordar.

— Promete?

— Eu prometo.

Ela acente, com um sorriso doce enfeitando os lábios e fechando os olhos devagar.

Não posso dizer que sou especialista e sei exatamente o que ela está passando. Mas garanto que consigo entender uma boa parte. Porque querendo ou não, eu já vivi o mesmo.

Eu tinha sete anos quando o meu tio morreu de overdose. Na época, eu não fazia idéia o motivo do ocorrido e nenhum adulto tinha coragem o suficiente de explicar a uma criança como o parente favorito dela tinha falecido. E também, eles tinham consciência que contar a um menininho sobre drogas e afins, ainda não era o momento certo.

Alguns anos mais tarde, mamãe abriu o jogo sobre o assunto. É perigoso, Josh. Um caminho sem volta. Essas foram as exatas palavras que ela usou. Se entrar nessa vida, você não pode mais sair. E eu sinto tanto pela Nora. Queria que ela fosse imune a esse tipo de sofrimento. Mas chega uma hora que todos temos que passar por isso. Até mesmo ela.

Há uma porta decisiva no meio do nosso caminho chamado vida. Você decide se quer atravessar ou seguir em frente. Eu queria ter impedido que a Elie segurasse a maçaneta e abrisse a maldita porta.

 Eu queria ter impedido que a Elie segurasse a maçaneta e abrisse a maldita porta

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Vamos brincar de listas?

Liste aqui 3 coisas que te fazem chorar.

Liste aqui 3 músicas favoritas.

Liste aqui 3 pessoas que você queria abraçar agora.

Quero saber mais sobre vocês. ❤

Preparem o coração!!!
Muitas emoções estão vindo aí.

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora