Capítulo nove

110 76 7
                                    

Nora

A neve estraga tudo. Ela sempre estraga tudo.
E é aqui, amantes do natal, que a história começa de fato.

De todos os lugares improváveis onde alguém pode ficar preso, o apartamento de Josh Will é o menos conveniente. As lojas da Water Street, a casa da minha tia avó Marry-Anne em Nova York ou o café na esquina de casa parecem ser mais adequados para problemas como esse.

Empurro com o ombro, a porta de entrada do prédio. Não consigo descrever com palavras a quantidade de força que estou usando, mas mesmo assim, ela não se move. Pela janelinha coberta por gelo, consigo enxergar uma rua, literalmente, feita de neve. Não é possível ver as calçadas e nem mesmo as portas de entrada das casas. Tudo se resume a neve.

Irritada, chuto a porta em fúria e a única coisa que ela faz é ranger com o impacto.

É natal, merda! E estou presa com meu ex melhor amigo que não converso há um ano e meio! Droga!

O celular vibra no meu bolso e puxo o aparelho depressa. Uma mensagem de Mike brilha no centro da tela.

Estou com o seu bônus. Se conseguir chegar, me avise. Lizzy, eu e o Sr. Grinni estamos presos aqui.

Respiro fundo, procurando manter a calma. A única alternativa que me resta é subir as escadas, me trancar no apartamento de Josh Will sei lá por quanto tempo, e esperar a maldita nevasca passar.

Furiosa, me arrasto pelos degraus. Um a um.

Se eu tivesse previsto toda essa situação, eu com certeza não teria saído de casa. O objetivo era bem simples. Acordar cedo no dia 24 de dezembro, pegar o salário desse mês no Sr. Grinni, juntar as minhas seis semanas de gorjetas e gastar tudo em presentes de Natal. Mas o próprio papai Noel resolveu estragar os meus planos. E no melhor dia do ano, ele constatou que seria uma excelente idéia me deixar presa com Josh Will.

Parada na porta do apartamento, encarando a cor azul cinzenta da madeira, eu mordo os arredores da minha bochecha imaginando se seria melhor passar a noite lá em baixo, só aguardando a neve se mandar. Mas e se demorar? Se eu ficar com fome ou precisar usar o banheiro? É uma droga saber que o banana do Josh tem um banheiro ótimo para minhas necessidades e comida suficiente para nós dois.

Irritada comigo mesma, ergo o punho e soco a porta. Ele não demora nem três segundos para abrir e me receber com aquele olhar que diz: "vejam só, você voltou."

— A porta está bloqueada. A neve, ela… — Suspiro, desembaraçando os pensamentos. Que se foda! — Olha, eu posso entrar? Você já deve saber sobra a droga da neve.

— Claro! — Josh abre espaço para eu passar e agradeço com um sorriso leve, já desenrolando o cachecol do pescoço. E aqui estou de novo. No apartamento estranho de Josh Will. — Ainda aceita aquele sanduíche?

— Sim, por favor. — Peço, jogando o casaco grosso no sofá.

Josh acente, sorridente e atravessa a sala de estar até a bancada da cozinha. Enquanto me acomodo num banquinho a sua frente, divido minha atenção em observar a agilidade dele em cortar um simples pedaço de queijo e no noticiário da TV. Estão falando sobre a neve repentina que cobriu a cidade inteira. Nenhum lugar saiu intacto e eles não sabem ao certo os motivos que tornou St. John's na cidade branca da América.

— Acha que vai acabar logo? — Ergo os olhos para Josh, mas ele não está olhando para mim. — Espero que não me ache intrometido, mas quem ligou para você?

— Era do trabalho. Mike é o cara da louça e ele me disse que o meu chefe estava distribuindo o bônus de Natal. — Sutil, belisco um pedaço de queijo. Ele sorri.

— É uma pena que não vai receber. Aposto que é muita coisa. — Josh puxa uma sacola marrom de dentro do armário e tira de lá quatro pedaços de pão integral.

— Não muito. O Senhor Grinni é excessivamente pão duro. — Observo Josh distribuir as fatias de queijo igualmente nos pães. — Tenho certeza que só são dez dólares a mais.

— Que mão de vaca. — Ele comenta, franzindo as sobrancelhas. Depois de espalhar um pouco de manteiga nos sanduíches, Josh os coloca num prato de vidro dentro do microondas. — Vocês devem trabalhar muito para receber essas migalhas.

— É. Acho que sim. — Giro na cadeira para olhar ele usar o armário como encosto. Josh tem o velho costumo de se escorar em tudo quanto é lugar. Ele fazia muito isso no ensino médio.

O som estridente do microondas nos faz sorrir um para o outro, e Josh se ergue para tirar o prato dos sanduíches. Antes de me entregar, com uma faca de mesa, ele retira as bordas do pão.

É ruim admitir isso, mas estava errada sobre ele. Ainda há um pouco do Josh Will que eu conhecia ali parado naquela cozinha, agora olhando para mim, com um sanduíche inteiro e outro com as bordas cortadas. Gosto do fato dele lembrar das minhas manias.

Talvez, não seja de todo ruim ficar presa num apartamento com ele. Só com ele.

Olha a neve aí, genteeee

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Olha a neve aí, genteeee.
Por mais que a Nora negue, ela tá apaixonadinha pelo Josh, né?
Concordam?

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora