Josh
— Por que estava trancado no banheiro? — Nora pergunta, acomodando a cabeça no travesseiro de bolinhas coloridas que costumo usar quando passo a noite na casa do Todd.
Montamos uma tenda de lençóis no chão da sala de estar. Reunimos todos os cobertores grossos para usar como colchão no assoalho duro. Todd me proibiu de entrar no seu quarto, então peguei uns lençóis velhos no armário de vassouras, alguns deles remendados com linha. Coloquei duas cadeiras distantes e paralelas. Fiz uma gambiarra com o cabo de uma vassoura e joguei o lençol por cima. Nora resolveu decorar com pisca-piscas de Natal. E depois de muito trabalho duro, lá estávamos nós, deitados um ao lado do outro, dentro da tenda mal improvisada.
A idéia de fazer aquela coisa só surgiu na minha cabeça de vento. No momento, pareceu uma ótima maneira de conversarmos, sem se preocupar em empacotar coisas em caixas de papelão. Mas agora, deitado do ladinho dela, ombro a ombro, talvez eu tenha feito a decisão errada.
Eu nunca tinha visto a Nora dançar daquele jeito. Ela tinha vergonha de até balançar a cabeça durante nossas aulas de música do colégio. O mais estranho é que ela fez tudo aquilo por mim. Fez tudo aquilo porque eu fui um covarde e me tranquei no banheiro fedorento de Todd Pulman. Porque eu não queria ter que olhar nos olhos dela e dizer que nunca senti nada. Eu estaria mentindo descaradamente.
— Você não acreditaria se eu disser que foi dor de barriga, não é? — A pergunta sai mais como uma afirmação. E ela sorri em resposta, negando freneticamente com a cabeça.
Como dizer a verdade? Como vai contar para ela, Josh? O que vai dizer? Que queria ter uma máquina do tempo e voltar para o colégio quando vocês ainda eram amigos? Ela vai rir de você. E vai acabar indo embora.
— Eu me dei conta… — Suspiro, encarando o teto feito de lençol velho. Já passava da hora de ser sincero. — Me dei conta só agora que estou preso num apartamento minúsculo com Nora Summer por causa de uma nevasca em St. John's.
— E isso é uma coisa ruim? — Nora não me encara quando pergunta. Mas pelo modo como sua voz falha no fim da frase, ela deseja que minha resposta não seja o que está pensando.
— Não. Não é ruim. — Viro-me devagar, ficando de frente a metade de uma Nora. Apoio minha cabeça na mão para encará-la completamente. — Não me imagino preso com mais ninguém.
Ela sorri. E é tudo de que preciso para sorrir de volta.
Desligamos o toca fitas e a caixa de som, mas na minha cabeça ainda está tocando música. Como naquelas cenas de filmes de comédia romântica e musicais. Não é nenhuma natalina. Mentalmente, ouço Conversation in the Dark do John Legend passear por toda a extensão da sala de estar. De um jeito constrangedor, eu quero segurar a mão dela. Mas a coragem não vem. Ela nunca vem.
— Posso te perguntar uma coisa, Josh? — Nora arrisca de repente ainda encarando o teto feito de lençol.
— Quantas quiser.
— Como ficou sem o aparelho e os óculos depois do acampamento?
Fecho os olhos, com um sorriso nostálgico cobrindo toda a região do meu rosto. Lembrar da loucura que foi para tirar esse aparelho, me faz rir, incontrolavelmente. É uma das coisas mais loucas que já fiz na vida. Disso eu tenho certeza.
— Essa é uma história engraçada! — Adimito, voltando a deitar de barriga para cima. — Eu e alguns caras estávamos jogando cartas e quem perdesse teria que se livrar de alguma coisa.
— Devo adivinhar que você perdeu? — Nora afasta os cabelos do rosto para me encarar. Desta vez, um sorriso maroto preenche seus lábios pequenos.
— Eu tive que tirar a droga do aparelho com um alicate. — Eu nunca contei essa história para mais ninguém. Ela é o gatilho perfeito para gargalharmos descontrolados como se assistissímos a alguma apresentação de circo. — Eu fiquei com a boca dormente por uma semana.
— Céus… — A risada de Nora é ligeira, doce e frenética ao mesmo tempo. Ela puxa o ar depressa, respirando fundo e retomando o controle. — E o que houve com os óculos?
— Não houve nada. Eu resolvi usar lente ao invés deles. — Meus lábios automaticamente se contorcem em um sorriso ao me lembrar das armações remendadas com figurinhas e fita adesiva. — Eu já estava querendo me livrar deles mesmo. A oportunidade surgiu.
Nora morde o lábio, segurando a próxima risada.
— O que foi? Acha que eu ficava melhor com óculos e aparelho?
Ela balança a cabeça em constante negação, fechando os olhos e sorrindo ainda mais como quem mente. Nora tem a mania fofa de jogar o cabelo para trás da orelha quando está nervosa ou envergonhada. E é o que ela faz.
Eu poderia terminar a noite, adimirando os olhos castanhos e aquele sorriso bobo que só ela tem e que ainda insiste inutilmente segurar. Mas como já disse uma vez, sou altamente manipulável e um tagarela com PhD.
— Ei, a Elie está se divertindo lá no Texas?
John Legend cantando Conversation in the Dark combina 100% com esse capítulo!!!
Vocês estão preparados para conhecer mais sobre a irmã da Nora?
Qual a sua teoria sobre ela?
Será que a Elie está mesmo no Texas?
❄
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Uma Noite de Neve |Reta Final|
RomanceCopyright © 2021 por Laysla Ferreira Assim como todo e qualquer fã de papai Noel, presentes e embrulhos coloridos, Nora Summer é apaixonada pelo Natal. Isso se deve ao fato dela ser fissurada em fazer compras, especialmente, nessa época do ano. Para...