Junto as mãos sobre o colo assim que me sento no sofá. A imagem dos olhos dela cheios de água está presa na minha mente. E eu não me canso de repetir o quanto fui idiota. Simplesmente deixei que ela escapasse entre meus dedos.
Foi tudo tão rápido que até agora, ainda estou digerindo o que aconteceu. Eu equilibrava a caneca de leite e o pote de biscoitos nas mãos quando voltei para o quarto. Quando Nora se virou para mim segurando o maldito papel, no momento em que percebi que a ficha havia caído, os biscoitos escorregaram e se espalharam pelo assoalho. E depois lágrimas e acusações. Eu não conseguia pensar em nada.
Esfrego as palmas, deixando minha cabeça pender nas costas do sofá. Eu devia ter dito mais, me esforçado mais. É claro que um pedido de desculpas não adiantaria, mas o esforço talvez. Eu gelei, no entanto. Não conseguia me mover e as palavras tinham desaparecido completamente do meu vocabulário. Eu só a encarava, tentando com os olhos dizer alguma coisa. Mas a raiva e o ódio dela, não enxergavam nada além de culpa.
Suspiro, desnorteado. Faz quinze minutos que ela foi embora, mas ainda consigo ouvir a porta bater. Não me resta mais nada além de um apartamento estranho e vazio que nem mesmo me pertence.
Como se soubesse que estou pensando nele, o celular vibra na mesinha de centro. Quando levanto o aparelho, o nome de Todd brilha na tela. Pelo menos ainda tenho o meu melhor amigo.
— Hey, cara. — O tom de voz dele soa cansado. — Como estão as coisas aí? Eu soube que já estão liberando as ruas. Quero logo sair desse inferno de trabalho.
— Nada bem. — Resumo de pronto. Ouço ele bufar do outro lado. Lá vem sermão.
— Qual é, Josh? Você é um imã de desgraças. — Ouço um barulho ensurdecedor do outro lado da linha e depois Todd murmura um palavrão. — Não consegue ficar com nenhuma garota. O que foi que aconteceu?
— Resumindo, ela foi embora. Eu fiz merda, Todd. Eu sempre faço, você sabe.
— Ela descobriu sobre o apartamento? Que era meu? Merda, cara.
Todd parece realmente estar mal por mim. Desde que nos conhecemos, ele sempre me viu como o solteirão e costumava dizer que eu ia terminar sozinho. Ele me levou a inúmeras festas para conhecer garotas e me fez até entrar num site de namoro. Ambas as situações foram desastrosas. Todas as meninas que conversavam comigo nos encontros, terminavam dizendo a mesma frase: "você fala muito." E até hoje, eu acabei realmente sozinho.
— Mas está tudo bem. Eu vou empacotar suas coisas. — Garanto, encarando as caixas de papelão abertas no chão da sala de estar. Nora e eu não conseguimos terminar de juntar tudo.
— Mas como aconteceu, Josh? Como ela descobriu?
— Ela encontrou a sua conta de luz e outras cartas. — Explico em um suspiro pesado. — Ela disse que se apaixonou por mim e eu a magoei. Você tinha que ter visto como ela chorou. Eu fiquei mudo, Todd. Não consegui dizer uma palavra para ela ficar.
— Mas você foi atrás dela, né? — Ele pergunta de uma vez. Mordo o lábio, com os olhos fixos no corredor estreito. Com o meu silêncio, Todd continua: — Fala sério, Josh! Às vezes eu acho que você veio de outro planeta. Você realmente não entende nada sobre garotas, cara.
— Eu não podia ter ido atrás dela, está bem? Eu estava errado. Seria só mais um erro. — Reconheço, segurando o celular com força contra a orelha.
— É claro que não seria! — Todd quase grita. Alguém o repreende em chinês do outro lado. — Josh, isso é o que ela pensa, mas não o que sente. Ela quer que você vá atrás dela, seu idiota extraterrestre!
— Ela não quer não. — Fecho os olhos, levando os dedos as têmporas. Eu não devia ter atendido esse telefonema. — A Nora é diferente. Ela está brava comigo.
— Ela pode até ser diferente, mas todas as garotas fazem e sentem a mesma coisa. — Essa frase não fez o menor sentido. Estou começando a duvidar que Todd anda conversando demais sobre assuntos femininos com a namorada. — Ela ama você, ainda não percebeu isso? Levanta agora da droga desse sofá e vai atrás dela!
— Como sabe que estou no sofá?
— Josh! — Ele repreende. — Conheço você até mais que o seus pais. Me diz que você ama ela também.
— Eu amo.
— Mais alto!
— Eu amo! — Grito, dando um salto do sofá.
— Então foda-se essa neve. Nem que você fique enterrado, eu quero que dê o fora do meu apartamento e corra atrás daquela garota! — Estou sorrindo, enquanto seguro a maçaneta da porta. Esse discurso motivacional de fato funcionou. — Se ela for como você diz que é, então não deixe ela escapar. — Alguém chama ele ao fundo. — Tenho que ir, preciso lavar umas louças. Quem sabe, se tudo der certo, a gente saia junto em algum encontro de casal.
Escapo uma risada, trancando o apartamento. Todd desliga.
Eu posso não ter a mínima idéia onde Nora trabalha, mas vou correr por toda St John's se for preciso. Todd está certo. Ele sempre está. Eu devia tê-la feito ficar e agora ela vai me ouvir.
Colocando toda a força que posso no braço, eu empurro a porta enferrujada do prédio. Meus pés se afundam na extensão da neve e eu não consigo mais enxergá-los. A rua está deserta quando ergo a cabeça. Ou pelo menos, deveria estar. Meu coração quase salta do peito quando a encontro ofegante parada a alguns metros longe. Minha mente se recusa a acreditar no que meus olhos estão vendo.
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Vocês gostam do Todd? Porque, sinceramente, eu amo ele. Kkkk O coitado não sabe, mas é o cupido do meu casal. ❤
O Josh foi atrás dela!!! Eu ouvi um amém?
O próximo capítulo é a versão da Nora. Como ela chegou até aí. Hihihi.
O fim está chegando. Mas com ele, novidades virão. Aguardem ansiosos❤❤
