Capítulo três

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Nora

Não gosto que chamem meu nome. Especialmente se o alguém que me refiro — gritando desesperado no meio da rua — for Josh Will. Ex melhor amigo, ex colega de turma. Ex tudo que for possível.

Eu e Josh Will cruzamos juntos o assustador e insano ensino médio. Eu como a cedêf e estranha jogadora do time feminino de futebol. E Josh como o garoto craque em matemática de óculos de grau e aparelho odontológico. Tínhamos um ao outro e só. Trabalhos em duplas, apresentações, provas e afins, estávamos juntos na maior parte do tempo. Não sei ao certo como nossa amizade mudou, mas posso dizer quando isso aconteceu.

Último ano. Acampamento Kings Kingston. Férias de verão.

Eu não pude participar. Meus pais e minha irmã mais velha Elie, tiveram que resolver umas coisas fora da cidade e ninguém assinou minha autorização. Ao contrário de Josh, que conseguiu as assinaturas e fez as malas mais rápido que o próprio flash. Juramos um ao outro não sofrer mudança alguma com esse distanciamento. Ele prometeu voltar como o velho Josh — meu Josh e melhor amigo —, e eu, prometi que continuaria a mesma garota de sempre.

Mas depois de três semanas, quando ele desceu do ônibus numa tarde de segunda-feira, eu sabia que aquele não era o Josh que eu conhecia.

Não sei como ele voltou sem o aparelho e usando lentes ao invés dos velhos óculos. Só sei, que deixamos de fazer os trabalhos juntos e de sair para comer fora. Ele preferia estar com um grupo de garotos radicais que usavam jaquetas, e matar aula para dar uma volta com meninas líderes de torcida.

Aquele antigo sentimento de abandono retornou quando meus ouvidos capturaram o meu nome sair da sua boca. Não posso simplesmente deixar que o sentimento voe pela janela e a gente volte a conversar como antes. É questão de princípios.

— Josh. — Cerrando os punhos, volto minha atenção para o garoto de cabelo meio ondulado parado embaixo do toldo de um café, segurando um exemplar de as crônicas de narnia.

Ele sorri.

— Você pode me ajudar a carregar algumas coisas? — Ele pede, dando um passo longo na minha direção.

— Carregar esse livro aí?

— Não. Hã… — Seus lábios se contorcem em um sorriso bobo. Explique melhor a situação. — Eu moro logo ali, subindo a rua. — Ele ergue o braço, indicando a direção e eu automaticamente me viro para observar. — Estou me mudando para um apê com uns amigos. Tenho que empacotar umas caixas.

— Então quer minha ajuda para empacotar caixas? — Ergo as sobrancelhas, sugestivamente. Seu sorriso aumenta mais um pouco. Ao modo que suas bochechas estão ficando rubras, estou deixando-o nervoso e constrangido. É legal ver Josh Will ficar vermelho.

— Carregá-las. — Ele corrigi. Depois de uma fração de segundo ponderando, ele completa: — Claro, depois de eu terminar de empacotar.

Acho que estou meio perplexa com o pedido de ajuda e provavelmente estou fazendo alguma cara engraçada e cética, porque ele se apressa em dizer:

— Eu posso te pagar.

Estou ofendida. É o cúmulo. Josh Will me dando propina. O que minha mãe vai achar quando eu disser que meu antigo amigo do ensino médio, simplesmente, apareceu do nada e resolveu me oferecer dinheiro para ajudá-lo com a mudança?

Josh Will e sua cabeça de vento.

— Não quero seu dinheiro. Não quero dinheiro algum. — Bufo, revirando os olhos e cruzando os braços na frente do peito na defensiva. — Fala sério, Josh!

— Desculpe. Não devia ter dito isso. — Ele joga a mochila nas costas, passando a mão pela testa. Vermelho de tão constrangido, Josh não consegue me olhar nos olhos. — Eu vou embora. Hã… foi muito bom ver você de novo. — Ele cambaleia um pouco, passando por mim. Acenando freneticamente, ele emenda: — Sinto muito. Até mais, Nora. Mande um abraço para os seus pais. E a Elie.

Droga.

Eu devia estar brava por ter visto ele outra vez depois de tanto tempo. Devia estar feliz por ele estar dando no pé. Devia me sentir ofendida por ele ter oferecido dinheiro. Mas não estou. Não estou brava, nem feliz, muito mesmo ofendida.

Droga.

Me condenando mentalmente, deixo meus braços caírem dispostos ao lado da cintura, desnorteada.
Um carro verde musgo engraçado atravessa o meio fio com uma velocidade acima do limite, espichando água. A chuva não provocou muitas poças, mas aqui está bem aqui, me acertou como um banho.

Não há muitas opções a se fazer.

Sacudindo os braços e as pernas para secar a roupa, grito seu nome já me arrependendo.

— Josh!

Ele se vira, ligeiramente, como se já esperasse que eu voltasse atrás. Na ponta dos seus lábios, surge um breve sorriso ousado que eu posso descrever como: eu sabia. Josh está apertando as alças da mochila, justamente como ele fazia no ensino médio.

— Sua casa fica muito longe? — Arrependimento é pouco para o que estou sentindo.

— Sua casa fica muito longe? — Arrependimento é pouco para o que estou sentindo

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O que vai rolar com esses dois, hein? Comenta aí, quero ver quem vai adivinhar.
😉

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora