Capítulo dez

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Josh

— De quem você lembra da nossa turma de ciências? — Estamos sentados no sofá da sala, com The Christmas Waltz de Frank Sinatra tocando baixinho no fundo. Pelo modo como Nora desvia os olhos e joga o cabelo para trás da orelha, me arrependo de ter feito a pergunta. Falar sobre tempos de colégio é um assunto um tanto delicado.

— Hã… eu lembro da May Timothy. — Ela responde, abraçando as pernas. — A minha dupla de mesa no laboratório de ciências e a número quatro no time de futebol feminino.

— A garota que usava franjinha. — Sorrio para ela, ao lembrar de uma Nora sentada nas cadeiras geladas da sala de aula, que sempre sorria com todos os dentes sempre que May atravessava as portas.

— Também me lembro da Jane Williams. Ela costumava sentar no fundo da sala. E era excepcionalmente ótima na matéria. — Nora ergue os olhos para mim. — Só tirava dez.

— Você também era incrível. — Reconheço, pendendo a cabeça nas costas do sofá. — Eu não conseguia abrir um sapo. Deve se lembrar que eu sempre vomitava durante essas aulas. — Nora ri, afirmando com a cabeça.

— Você era horrível. — Ela diz entre uma gargalhada e outra. — O zelador te dava um balde quando a gente entrava na sala.

— Fiquei conhecido como o cara do baldinho. — Rimos juntos, encarando o chão.

A voz de Frank Sinatra se mistura as nossas gargalhadas. Fazia um tempão que eu não via Nora Summer rir. Esse com certeza é o melhor presente de Natal desse ano.

— E você? — Ela pergunta, recuperando o fôlego. — De quem lembra da turma de ciências?

— Sou péssimo com nomes. — Fecho os olhos tentando lembrar de alguém. Costuma ajudar quando visualizo a antiga sala de aula. — Bradley Fallen. O ruivo de cabelo cacheado.

— Ele sempre chegava atrasado. O Sr. Ramone cansou de dar advertências para o coitado.

— Suzie Parker. — Solto outro nome, ainda imerge na escuridão dos meus olhos.

— Ela usava tanto rosa, que eu ficava cega. — Nora ri de novo e eu a acompanho. Para falar a verdade, eu gosto desses momentos nostálgicos. Me fazem querer voltar para escola e viver tudo aquilo novamente.

— Eu lembro dos caras do time de basquete. — Abro os olhos e encontro uma Nora de bochechas vermelhas, carregando um sorriso no rosto. — Eles eram legais. Me passavam cola durante as provas.

Ela sorri.

Eu não consigo explicar como gosto de olhar para ela. Tudo em Nora me deixa… estranhamente estranho. Acho que são os olhos dela. Eu sinto um nó no estômago sempre que eles encaram os meus. Parecem querer me perfurar e sei lá… descobrir o que há por trás deles. O que há além de mim.

— Posso te fazer uma pergunta? — Solto de uma vez. Nora está recolhendo as sobras do sanduíche no prato e levando-o até a cozinha.

— Já fez. — Ela brinca e nós sorrimos em uníssono.

— Onde esteve esse tempo todo? — Ela se vira para mim, cruzando os braços na frente do peito. The Christmas Waltz já está quase no fim. — Provavelmente, não aqui em St. John's. Senão a gente tinha se esbarrado antes por aí.

— Depois da formatura… — Ela começa, suspirando e se arrastando de volta ao sofá. — Eu me mudei para Nova York. Achei que morar com a minha tia avó Marry-Anne seria… legal.

— E não foi? — Franzo as sobrancelhas, confuso e um tanto curioso.

— Foi, no início. — Ela se corrigi, encarando a caixa de papelão aberta no chão da sala com todos os bonequinhos dos personagens embalados em plástico bolha. — Eu voltei para cá no verão. Achei uma boa idéia.

— Nada melhor que St. John's. — Sorrio de lado, mas ela não retribui.

Burro, burro, burro, Josh!

— E você? Continuou aqui depois da formatura?— Nora, finalmente, me encara, acomodando as mãos sobre as coxas.

— Sim. Afinal, tudo que eu gosto está aqui. — As últimas notas da música ecoam pela sala, penso em me levantar e desligar o toca fitas, mas permaneço sentado, olhando para os meus próprios sapatos. — As casas coloridas, as lojas no centro da cidade, os meu pais. — Automaticamente, minha boca se contorce num sorriso ao recordar dos dois. Eu deveria estar preparando o peru para ceia com a mamãe justamente agora. — E a neve. Não consigo me ver em nenhum outro lugar.

A sonoridade da risada de Nora enche meus ouvidos. Ergo os olhos e nos encaramos de novo.

O que há comigo? O Natal me deixou sentimental esse ano? Eu não estava preparado para isso. É bizarro me dar conta só agora que estou preso com Nora Summer no apartamento do meu melhor amigo. Eu não deveria, mas estou surtando.

A ficha caiu só agora, Josh? Hahaha

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A ficha caiu só agora, Josh? Hahaha

Vocês já acabaram os estudos ou ainda estão presos na sala de aula? Tem muitos amigos lá? Conversaram com alguém da escola nesses tempos de quarentena?

Responde aí, gosto de interagir com vocês.🌟

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora