Capítulo oito

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Josh

Eu acho que sou um excelente dançarino.

Aprendi a maioria dos passos do Michael Jackson, assisti High School Musical duas vezes e eu adoro filmes de dança. Ainda espero a chegada de alguma carta de Londres anunciando que fui chamado a me apresentar para a rainha.

No segundo ano, a minha turma encenou a noviça rebelde, com algumas alterações. Quase consegui o papel principal, mas a senhorita Lorelay disse que eu era muito mais eficiente cuidando da iluminação. Tentei até contrariá-la mostrando minhas habilidades, mas ela insistiu.

Estou guardando os HQ's do Todd numa caixa de papelão, enquanto Nora está terminando de embalar os bonequinhos de plástico. Nós dançamos juntos a poucos minutos e eu queria muito que a música não tivesse acabado. E pelo modo como Nora está cantarolando Jingle Bells sem me encarar, acho que ela também queria que ainda estivéssemos dançando.

A canção que passeia pela sala de estar agora, eu reconheço bem. Blue Christmas na voz de Elvis Presley me deixa nervoso com frequência. Principalmente, na situação em questão. Estamos nós dois, sozinhos, com uma música coutry sensual no fundo. O que poderia ser mais constrangedor que isso?

Olhando bem para Nora agora, ela parou de cantarolar Jingle bells e está embalando os bonequinhos dos personagens com mais força do que necessário. Eu reconheceria uma pessoa envergonhada em qualquer lugar, especialmente Nora Summer. Por isso, não penso nem duas vezes quando levanto do chão depressa e desligo o toca fitas.

— Você quer… hum… — Pigarreio, passando a mão pelo cabelo. — … comer alguma coisa, sei lá, um sanduíche?

— É. — Ela ainda está encarando o chão. — Pode ser.

— Eu vou… — Ergo o braço na direção da cozinha, apesar dela nem estar olhando para mim. — Você sabe, hã… ver se tem alguma coisa para comer.

Me afasto antes mesmo que ela consiga dizer uma letra. A bancada da cozinha é a única coisa que me separa de uma Nora vermelha igual tomate sentada no chão do apartamento. Ela está de costas para mim, mas estou a encarando como se estivéssemos olhando um para o outro.

Céus, que vergonha!

Foi eu quem deu essa fita de Natal para o Todd no aniversário dele. Soa meio contraditório, mas ele é fanático por canções que envolvam papai Noel e presentes. Não lembrava que tinha colocado essas músicas constrangedoras. A letra não é adulta, nem nada do gênero, é só o instrumental que parece insinuar alguma coisa.

Estou esfatiando um pedaço de queijo quando uma música estridente, diferente das canções de Natal começa ecoar pelo ambiente. Surpreso por ela ainda possuir o mesmo toque de celular desde o ensino médio, me faz lembrar do quanto ela ficava de olhos arregalados quando o aparelho tocava Justin Bieber durante as aulas de matemática.

Nora puxa o celular depressa do bolso e inicia uma conversa com alguém do outro lado da linha.

— Alô? Mike? — Pausa. Pelo jeito que ela se levanta do chão rapidamente, a ligação já era esperada. Quem é esse tal de Mike? — Não, eu… sério? Muito mesmo? — Ela ainda está de costas, andando de um lado para o outro. — Mas esse era o bônus de Natal. Não era? Quê? Espera um segundo…

Abaixo a cabeça, quando seu corpo se vira na minha direção. Espero que ela não tenha notado.

— Josh, vamos ter que deixar o sanduíche para outra hora. Eu preciso ir.

— Agora!? — Quase provoco um torcicolo quando ergo a cabeça para olhar para ela. — Mas…

— Eu sinto muito. Desculpe por não ajudar com o resto das coisas. Mas eu… — Com um sorriso, Nora prende o celular entre a orelha e o ombro e me esquece completamente. — Eu sei, Mike. Estou indo pra aí. — Então ela encerra a ligação e se apressa colocando o casaco.

— Nora… — Dou a volta na bancada, me aproximando.

— A gente se vê outro dia. — É tudo que ela diz, quando enlaça o cachecol no pescoço e, praticamente, corre porta afora, batendo logo em seguida.

Ela nem me dá tempo de perguntar o motivo. Que merda acabou de acontecer?

Penso em correr atrás dela, mas sou detido pelo celular que vibra no bolso.

Liga a TV, cara. Vou ficar preso no trabalho.
— T. Pulman

Confuso, procuro o controle no sofá e como um raio, aperto o botão e a televisão acende.

É o noticiário de St. John's. Há uma mulher loira apresentando a previsão do tempo na cidade. E ao que parece, a neve cobriu tudo quanto é lugar. As pessoas estão presas nas casas, as crianças nas escolas, os adultos no trabalho. Eles não sabem ao certo quando vai parar de nevar, e nem mesmo como vão liberar as ruas.

Ao invés de estar decepcionado com a notícia, alguma coisa me diz que isso foi obra do papai Noel. Então, de repente, tudo que ouço são batidas insistentes na porta.

 Então, de repente, tudo que ouço são batidas insistentes na porta

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E a nevasca chegou, meus amigos!!!

Marca aqui quem é mais provável de ficar preso com você em um apartamento por causa de neve.

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora