Capítulo cinco

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Nora

Eu sempre soube que Josh Will era fissurado por livros de fantasia.

No primeiro ano, por exemplo, ele fez a minha mãe preparar cupcakes de chocolate para vender durante os jogos de futebol do colégio, tentando desesperadamente conseguir dinheiro para os livros. E não é que deu certo? Josh acabou comprando a coleção inteira dos livros do Harry Potter e ainda os três primeiros de Senhor dos Anéis. Ele simplesmente não os largava. Não deixava ninguém tocá-los. Nem mesmo eu.

Em seus aniversários e feriados, eu comprava um novo livro de fantasia. Se fosse para calcular quanto gastei com cada um deles, o resultado final daria uma nota preta. Mamãe sempre dizia: "Com essas páginas velhas, dava para pagar uma viagem daqui até Miami. Não sei porquê você perde tempo com isso se nem os lê."

Eu sempre perdia tempo com isso porque era para o Josh. Nunca li nenhum deles. Minhas colegas de trabalho me apedrejam todos os dias por não ter a mínima idéia do que é uma orcrux.

Na maioria das vezes, quando elas surgiam com uma pergunta ou outra sobre o motivo de eu ter comprado os livros na época e nunca ter chegado a ler, ou cochichavam sobre alguma parte da saga, eu sempre lembrava de Josh. De como ele ia saber a resposta de todos aqueles questionamentos eufóricos, de como ele imitaria cada um dos personagens em jogos de mímica e tal. E isso me deixava triste. Depois de um tempo, elas pararam.

Achei que essa ainda seria a essência de Josh Will, que aquelas pessoas estranhas do ensino médio não teriam arrancado dele. Ingenuinamente, acreditei que ele ainda bebia leite de soja, sentava no sofá velho de vinil dos pais e colocava Harry Potter nas mãos como se fosse um tipo de tesouro raro.

Aparentemente, as coisas mudaram.

No lugar dos clássicos que eu me lembrava, agora os espaços são ocupados por revistas de gibi. De todos os tipos e classificações. Um mangá e outro entre as revistinhas dos Vingadores da Marvel. Curiosa, passo os dedos por alguns ainda plastificados e prendo uma risada no fundo da garganta.

Josh pigarreia atrás de mim antes de dizer:

— Apartamento legal, né?

Viro-me para ele, com um sorriso amarelo.

— Imaginei que fosse maior. — Comento, cruzando os braços.

É essa coisa aqui que ele chama de casa? Não é uma coisa que se diga — oh, minha nossa! — Mas é tipo… blé!
Olhando bem, no máximo, só cabem dez pessoas aqui dentro. A sala de estar é em conjunto com a cozinha e um balcão cor de caramelo os separa. Um corredor estreito leva até o banheiro e o único quarto em toda a casa. Um sofá meio velho ocupa espaço na sala e a maioria dos moveis estão cobertos por bonequinhos de plástico, provavelmente dos personagens dos gibis.

Não consigo ver pedacinhos de Josh Will em nada aqui. É como se todo o ambiente não pertencesse a ele. Mas o que eu posso dizer? Não nos vemos há um ano e meio, então, eu já deveria imaginar que ele se transformaria numa versão bizarra de fã de quadrinhos.

— Quer beber alguma coisa? — Ele chama minha atenção novamente. — Uma coisa quente, pode ser?

— Posso usar o banheiro? — Eu peço, desenrolando o cachecol do pescoço. Josh faz o mesmo com o casaco, jogando no sofá.

— Claro.

Estar em banheiros que não seja o da minha casa, me faz sentir desconfortável. Acomodo a cabeça na porta de madeira, suspirando.

O que você está fazendo aqui, Nora? Devia estar no trabalho. O Sr. Grinni vai te esfolar.

Puxo o celular do bolso de trás do jeans e como que instantaneamente a tela do celular brilha, mostrando o nome gritante do Sr. Grinni, meu chefe. Às vezes acho que ele pode ler os meus pensamentos. Ele tem algum tipo de poder estranho e ultrasecreto quando sabe que seus funcionários estão fazendo merda. Receosa, decido desligar o celular. Não quero ninguém me enchendo o saco dizendo que eu deveria limpar as mesas ou desentupir o vaso sanitário para receber o último salário do ano.

Sério, Nora! O que está fazendo aqui? O que está querendo com o Josh?

Definitivamente essa foi a pior escolha do universo. Era melhor ter ficado toda molhada, ir para o trabalho, receber a droga do salário e gastar tudo em presentes de Natal. Não deveria estar no apartamento totalmente estranho de Josh Will. Não queria nem ter encontrado com ele.

Uma batida leve na porta me faz dar um salto.

— Nora? — Ele arrasta meu nome, lentamente. É tão estranho ouvir as letras saírem dos lábios do garoto que partiu o meu coração. — Eu fiz chocolate quente. Está tudo bem?

Bufo, revirando os olhos. Claro que não está tudo bem.

Aperto a maçaneta, usando mais força do que deveria e abro a porta, dando de cara com um Josh usando um suéter de natal verde escuro, com uma rena de nariz vermelho e gorro ocupando todo o peito. Ele sorri, erguendo uma das canecas com a cara do papai Noel estampada que está em suas mãos. E como um milagre de Natal, a raiva toda vai embora.

— Por onde começamos a empacotar?

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Me conta aí.

Me: 1. Simon vs a agenda homo-sapiens (Com amor, Simon).

2. A probabilidade e estatística do amor a primeira vista.

Sou bem clichêzinha e vocês?

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora