Capítulo dezoito

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Josh

O apartamento oito cheira a alvejante. Literalmente falando.
O sofá com capa de plástico grudenta, as cortinas floridas das janelas, o pequeno balcão que separa a sala da cozinha e o próprio carpete.
É como se eles tivessem cometido um crime e fizeram uma limpeza profunda para encobrir as provas. Por isso, enquanto Nora se acomoda no sofá, eu permaneço de pé, usando o velho mecanismo de defesa de não sentar para caso os velhinhos tentem alguma coisa, eu tenha uma chance de fugir.
Eles são inofensivos, como a própria Nora diz. Mas não custa nada ficar de olho e em alerta.

Tá legal. O apartamento é esquisito, mas parece aconchegante. Principalmente, para quem deseja se abrigar da navesca de St. John's e passar o Natal com uma caneca de chocolate quente e biscoitos. Está tocando Oh Holy Night num rádio velho na mesinha de centro. As notas passeiam pela sala de estar como uma brisa e eu automaticamente me contorço para observar o velho atrás do balcão.

Agora olhando bem, ele me parece familiar. Os ombros um tanto curvados, os cabelos grisalhos e o rosto rechonchudo… espera! Ele é o velho que discutiu com a mulher gorda naquele café. E a senhora que está vindo do corredor é a esposa dele.

— Desculpe perguntar, mas… — Digo de repente, e Tim, o velho, ergue a cabeça e para de guardar biscoitos num potinho. — Vocês estavam naquele café da rua quarenta, não estavam?

Os dois trocam um olhar.

— É. — O homem diz. — Éramos nós.

A velhinha nos entrega duas toalhas azuis de bolinhas. Agradeço com um aceno de cabeça e Nora faz o mesmo com um sorrisinho maroto. Aquela água que ela atirou em nós estava gelada para caramba.

— A mulher com quem vocês discutiram… — Começo, observando atentamente a mudança de expressão no rosto dele. — … conheciam ela?

— Nossa filha. — Tim responde rápido, dando as costas e transferindo a atenção aos pratos sujos na pia da cozinha.

— Temos uma relação complicada. Mas tudo bem. — Janet é quem responde antes mesmo que eu consiga dizer mais alguma coisa. — Vocês querem comer algo? — Ela vai ao encontro do marido.

— Posso usar o banheiro? — Nora se pronuncia.

— Claro, querida. — A mulher sorri, indicando com a cabeça a direção. — No fim do corredor.

Ótimo. Nora era minha proteção. Agora ela está trancada no banheiro, enquanto eu estou petrificado no meio da sala de estar de um apartamento estranho que acabei de invadir. O que preenche o ambiente é a canção de HomeTown. Se não fosse por isso, o silêncio era sinônimo de constrangimento.

Encaro os meus sapatos.

— Garoto? — Ergo a cabeça, encarando o casal atrás do balcão. — Posso fazer uma pergunta?

Hesitante, eu avanço na direção deles. Janet ergue o pote de biscoitos para mim e eu pesco um em formato de estrela por educação. Estou observando o homem lavar os pratos.

— Você gosta da moça, não é? — Engasgo com o biscoito. Soco o meu próprio peito, puxando o ar, desesperado. — Desculpe ser tão direto.

Enquanto recupero o fôlego, vejo o vislumbre de um sorrisinho malicioso nos lábios da mulher. Ela cutuca as costelas do marido com o cotovelo.

— Pare de ser xereta. — Ela diz.

— Só estou curioso. Eu vejo como ele olha para menina.

— Somos amigos. — Me apresso em explicar. — Nora e eu… não temos nada.

— Eu acho que ela gosta de você também. — Tim adimite, virando-se para me encarar. Estou, mentalmente, suplicando para que eles falem mais baixo. Se a Nora ouvir isso, estou em apuros.

— Quando se ama alguém, a gente precisa dizer antes que seja tarde. — Janet enlaça o braço no do marido. — Antes que as mentiras sejam grandes demais, antes que vocês acabem se afastando. O tempo é curto para esperar tanto para dizer alguém o que realmente sente.

Mordo outro pedaço do biscoito, disfarçando a vergonha evidente. O silêncio se instala na troca de música e ouço o destrancar da porta. Nora surge no corredor. A próxima canção que toca, eu não conheço.

— Obrigada por me deixar usar o banheiro. — Nora sorri para o casal. — É melhor irmos agora.

— Disponha, querida. — Janet retribui o sorriso.

— Dá próxima vez que quiserem usar, por favor, batam na porta. — Nora e eu trocamos olhares cúmplices quando Tim alerta.

Até que terminou bem para dois criminosos como nós. Saímos do apartamento com um pote de biscoitos de Natal, sem ser carregados pela polícia e com a ficha criminal ainda limpa.

 Saímos do apartamento com um pote de biscoitos de Natal, sem ser carregados pela polícia e com a ficha criminal ainda limpa

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Vocês gostaram dessa conexão que eu fiz lá do começo da história?

Vocês são a versão da Janet e do Tim. Os leitores jogando na cara do Josh que é óbivio que ele gosta da Nora. Hahaha

Ah! O KISS TÃO ESPERADO TÁ CHEGANDO. Prepara o surto!!!

Como será que vai rolar esse beijo, hein? Já vai bolando aí na sua cabeça. Tomara que eu consiga alcançar sua expectativa. 😊

Me indiquem aqui filmes clichêzinhos, pleaseee.

E aqui músicas melosas de todos os tipos.

Tô precisando aguçar a criatividade.

Até o próximo capítulo!❤
Adoro vocês!!!

Uma Noite de Neve |Reta Final|Onde histórias criam vida. Descubra agora