Faz dez minutos que o Josh se trancou no banheiro. Estávamos conversando sobre o colégio naturalmente, até que ele, do nada, ficou vermelho feito pimentão e decidiu permanecer lá dentro sem me dirigir uma palavra sequer.
Estou sentada num banquinho ao lado da bancada da cozinha, encarando o corredor estreito. Está tocando Last Christmas na voz de Wham! e estou pensando no que devo fazer para que Josh fale comigo de novo. Caso contrário, vou passar a nevasca inteira, sozinha numa sala de estar no apartamento do cara que se trancou no banheiro.
Mentalmente, faço uma lista de coisas que posso ter dito durante nossa conversa que o fez surtar. Mas, sinceramente, não lembro de nada "polêmico" que talvez tenha comentado. Falamos sobre May Timothy, Jane Williams, Bradley Fallen, Suzie Parker e os garotos do time de basquete. Nenhum desses fizeram algo no ensino médio que deixe alguém desconfortável. Josh só deve estar ficando maluco.
Batucando os dedos na madeira no ritmo da música, uma lâmpada acesa surge na minha cabeça feito cena de desenho animado. Só há um jeito de fazê-lo sair de lá. Nem que eu tenha que acordar todos os moradores do prédio.
Agilmente, puxo o celular do bolso traseiro e procuro a música mais pesada de rock natalina do século. Desligo o toca fitas e conecto meu aparelho a caixa de som, via Bluetooth. Nem preciso dizer o tanto de volume que coloquei. Quando Jingle Bells na versão rock começa a estourar pelo apartamento, eu me sinto o Macaulay Culkin naquela música Black or White do Michael Jackson.
Eu não gosto de dançar, mas estou me esforçando de uma maneira bizarra para que ele saia do banheiro. Jogo minha cabeleira de um lado para o outro, com as mãos no alto, pulando feito um índio em festa da tribo. Não é tão ruim se mexer um pouco, para falar a verdade. Você acaba se sentindo mais… vivo.
Imito o movimento de Josh, aquele da guitarra imaginária. Flexiono os joelhos até o chão e os deslizo pelo assoalho. Levanto em um único salto, balançando a cabeça de um lado para o outro e chutando o ar, como se tivesse coisas na minha frente.
Quando a música já está no meio, eu giro no mesmo lugar até ficar enjoada e quando paro um momento para recuperar o fôlego, dou de cara com o Josh, parado de braços cruzados, encostado na bancada, carregando nos lábios um sorriso peculiar.
Não consigo não sorrir ao olhar para ele. É meio que instantâneo, coisa que eu mesma não consigo controlar.
— O que foi isso? — Ele pergunta entre risadas.
— Você não queria… — Respiro fundo, puxando o ar depressa. Alguns passos de dança e eu já estou morta. — Não queria sair do banheiro.
Josh fecha os olhos ainda sem acreditar no que acabei de fazer. Sinceramente, nem eu mesma acredito. Foi tudo tão rápido!
— Você é doida, Nora Summer. Sabia disso? — Ele ergue o dedo na minha direção, exibindo nos lábios algo que eu chamaria de um obrigado por isso.
Passo a mão pela testa suada, me curvando em reverência. Nunca imaginei que fosse tão boa em fazer as pessoas rirem. Geralmente, eu fico quieta no meu canto, imerge em um silêncio eterno. A gente meio que aprende a se soltar conforme o tempo vai passando. Eu não danço assim desde que eu tinha dez anos. Sem perceber, Josh despertou um antigo sentimento em mim. Ainda não consigo dizer se ele é positivo ou negativo.
— Tudo bem. — Ergo a cabeça para encará-lo. — Quer saber? Vamos montar uma tenda de lençóis, aqui mesmo na sala.
— O quê!? — Pergunto confusa, apesar de estar sorrindo.
— Você não está cansada? Porque eu estou. — E como quem decreta que a conversa está encerrada, ele ergue os polegares para cima e se vai pelo corredor.
Esse foi o diálogo mais estranho que já tive com alguém. Principalmente, quando esse alguém, estava a poucos minutos, sem trocar uma palavra sequer comigo e provavelmente, sentado num vaso sanitário.
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Vamos conversar?😉
Qual o personagem preferido de vocês?
O que mais gostam nele?
Querem kisses?
O que será que vai acontecer quando a Nora descobrir que o Josh está mentindo?
