VACACIONES

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Na tarde em que chegamos tive febre. Nem minha avó, nem tia Carmen souberam a causa, muito menos eu. Fiquei reclusa no meu quarto durante uns três dias, pois a febre era altíssima e não abaixava por nada. No terceiro dia de febre, consegui ficar mais lucida e decidi pegar minha câmera para tirar umas fotos da janela mesmo. Ao abrir a mochila me deparei com o livro que Laura queria me dar, com um simples 'boas férias, L.' escrito no canto inferior da primeira página. Fiquei um tempinho olhando para aquela caligrafia perfeita e não pude deixar de sentir saudades, sim, uma saudade estranha, de ficar perto dela no sótão da escola. Mais que porcaria! Aquele era o segundo pé na bunda que levei dela e ainda me sentia assim. Essa febre tinha o nome de Laura Herrmann como causa? MERDA! Espero que não. Deixei o livro na mesinha, para então tomar um banho e entrar em contato social com as pessoas dessa casa.

Chegando perto da sala de visitas, escuto o som maravilhoso da gargalhada da minha avó. Ela e Carmen estavam em uma conversa animada e riam tanto que tive receio de atrapalhá-las. Jorge que estava saindo da cozinha com um bule de café em mãos, sorriu a me ver.

- Vejo que ela já está melhor!

- Estou quase 100%. – sorri de volta.

- Vem, sua vó vai adorar sua melhora. - então fomos juntos para sala.

Tia Carmen abriu um largo sorriso ao me ver e minha avó deu aquele abraço casa que só ela sabe fazer. Beijou minha cabeça e nos sentamos juntas no sofá que antes era dividido com sua amiga.

- Vovó, que saudade! – apertei mais aquela senhora que lembrava tanto minha mãe.

- E eu de você, minha linda neta.

- Adoro ver esse carinho de vocês. – ria Carmen no sofá em nossa frente.

- E eu também. – disse Jorge se sentando em uma das poltronas.

Olhei para aquelas pessoas e me senti emocionada pela família que tinha. Eram pessoas boas, sinceras e simples, que riam e choravam de verdade. Olhei novamente para Jorge e lembrei-me do garotinho que me levava para explorar pomares por aí, com apenas um canivete em mãos. Lembrei-me da nossa inocência quando exaustos dormíamos naquela mesma sala. O tempo passou e ali estávamos nós, como em quase todas as férias.

O Jorge era filho da cozinheira da vovó. A dona Estrela foi uma boa amiga para vovó assim como Carmen e elas trabalharam juntas por uns dez anos, até seu falecimento há uns quatro anos atrás. O Jorge - Jorgito como ela chamava - tinha uns dezessete anos e ficou sob a guarda da vovó. Pelo que ouvi, ele estava noivo de uma menina que morava aqui perto, reparei uma aliança grande em seu dedo anelar direito, super fofo. E estava perto de se formar veterinário.

Os dias se passaram rapidamente. Passava o dia andando pelas conhecidas ruas de Petrópolis e em alguns momentos ia a fazendas com Jorgito, pois ele cuidava dos animais de uns fazendeiros locais. E foi num desses passeios que conheci a Isabela, sua noiva, uma pessoa sensível e muito inteligente. Havia acabado de entrar na Universidade para cursar Biologia, então tínhamos assuntos em comum. Quando Jorgito não podia nos acompanhar íamos sozinhas visitar as cachoeiras dali.

Li o livro que Laura me deu em três dias. E cada dia que eu passava com ele em mãos sentia uma puta saudade dela, uma vontade danada de discutir sobre os desvios morais dos personagens. Sem a presença dela, discutimos vovó e Carmen, pois Jorgito havia saído com Isa para algo romântico. Voltando a Laura, minha raiva foi passando. Comecei a analisar os momentos que passamos no sotão e as implicações éticas do que aconteceu. Imagina se Dona Guilhermina Moraes descobre esse desvio? Despede nossa nova professora de História no mesmo instante. E foi com essa reflexão que decidi não mais encontrar Laura e tentar esquecer tudo isso. Seria difícil? Muito! Porém acho que fomos longe demais.

Stubborn Love ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora