Blackout

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Os professores e a direção do Colégio Moraes inventaram de fazer uma comemoração de encerramento do semestre letivo. Era meio-dia, de uma sexta-feira pré-férias e todos pareciam animados, indo ao contrário da semana anterior, em que demonstravam cansaço excessivo. No meu caso não havia nada disso, apenas uma ansiedade, pois encontraria Carolina no sótão misterioso.

Desde que conversamos, há uns meses atrás, almoçamos juntas quase todos os dias. Nesses momentos descobrimos pontos comuns e outros contrários. E para mim era muito interessante. Não tínhamos nos beijado mais ou algo do tipo, o que era um pouco torturante, entretanto era só lembrar-me do dia em que Felipe me pegou saindo do sótão, que sinto uma dor de cabeça crescente.

Felipe era meu amigo desde que nos conhecemos. Fomos apresentados no dia em que ele fora visitar sua irmã, Catarina, na república que dividíamos. Ela e eu namoramos por quase um ano e Felipe torcia pelo relacionamento, o que era maravilhoso, pois seus pais não sabiam de nada. Nosso término foi tranquilo, sem traições, só percebemos uma amizade maior que qualquer sentimento romântico. Confesso que fiquei mais próxima de Felipe, pela sua personalidade e sinceridade, e com o tempo, nos tornamos melhores amigos. Eu no Rio Grande do Sul e ele aqui no Rio de Janeiro. E foi justamente quando minha vida virou de cabeça para baixo que Felipe fez de tudo para o meu bem, inclusive me trazer para Resende com uma boa proposta de emprego.

Não preciso dizer que Felipe entendeu tudo quando Carolina saiu correndo da sorveteria. Nem preciso mencionar que ouvir isso de novo me torturava demais. Eu a havia machucado? Ela me odiava? Era injusto? Depois de conversar por horas com meu amigo, optei por dialogar com Carolina sobre estas questões, afinal deixa-la no escuro seria a pior decisão a se tomar.

Estar com a Carolina era apaixonante. Sua mente era de uma clareza incrível. Sua bondade me encantava. Tudo me deixa extasiada. Começamos a nos encontrar com uma frequência maior e pude perceber suas mudanças sutis, como o conforto que adquiriu ao conversar comigo, contrastando com sua timidez inicial. A companhia dela não me deixava estar mais sozinha e fiquei contente quando percebi que era reciproco.

Minha mente estava viajando pelas órbitas dos olhos cor de âmbar, quando Felipe senta rindo do meu lado.

- Bobinha você hein. – fala ele.

- Para com isso.

- Sério. Se pudesse se ver agora.

- Acha que isso aqui vai demorar a acabar? – sussurrei em seu ouvido.

- Santa mãe do céu! Laura Rita Weber Herrmann, aposto que ela está te esperando.

- Nunca mais pronuncie esse nome gigante. – ri dando um tapinha em seu ombro. – É que hoje é o ultimo dia de aula e nem sei quando a verei.

- Daqui a pouco, oras. E do jeito que fala, parece estar apaixonada.

- Felipe – dei outro tapa. – não fala isso nem em imaginação.

- Ok, não digo. – deu um gole no suco em sua mão. – Aliás, mais tarde vai ter uma comemoração mais adulta.

- Como assim?

- Enquanto você ficava sentada ai, sozinha, nós conversávamos sobre irmos a um bar ou ao apartamento de um dos professores. Acho que vai rolar no terraço do nosso prédio.

- Que loucura. E que rapidez.

- Você é lenta. E você comparecerá. né?!

- Não sei. Estou cansada. – sorri. – E tenho que arrumar minhas malas.

- C-H-A-T-A. Para com isso.

- Bem, depois a gente se fala. – disse me levantando. – Vou pegar uns salgadinhos e sair à francesa.

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