O passado sempre bate a porta

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O cheiro forte de alguma comida me deixava enjoada. Senti esse cheiro antes mesmo de abrir os olhos. Pera, era cheiro de alho e cebola? Ai meu Deus

Dei um pulo grande da cama. E como se não fosse possível, meu enjoo se misturou com a forte dor de cabeça em sinal de...

- Ressaca das brabas, hein amiga? – uma voz ao longe falava comigo. – Ju deixou um copo de água aí do lado da cama.

Minha boca se encontrava tão seca, que parecia que tomei areia escaldante do Sahara e não alguns copinhos de cerveja no Happy Hour de ontem.

- Que horas são? – perguntei quando alcancei o copo. – Aiii

- Acho que tenho algum dipirona por aqui. Quer? – balancei a cabeça, mesmo sem saber se ela estava me olhando. - Já passa das 12h30, Carol. – MEU DEUS DO CÉU

Peguei uma camisa do monte que estava em cima da cadeira (aparentemente limpa), uma calça que deixamos no chão ontem (entramos com tanta pressa que nem deu tempo de guardar), meias na gaveta, all star sujinho (que não me pertencia). Pronta! Ah, escovar os dentes. Importante.

- Ceci, - disse passando pela cozinha e vendo me amiga temperar uns bifinhos. – o comprimidinho ainda está de pé?

- Claro! – ela deixava uma caixa de primeiros socorros em cima da geladeira. – Seu cabelo parece um ninho de pássaro. – comenta enquanto me entrega o remédio.

- Acho que até chegar no trabalho dou um jeitinho nele. – não vou perder tempo penteando. Cabelos cacheados precisam de todo um ritual e tenho exatos 10 minutos para não chegar atrasada de novo.

- Sabe que Ju mandou mensagem não tem nem dois minutos, hein? – balancei a cabeça fazendo cara feia com aquele gosto amargo do comprimido. – Pedia pra te acordar para que não perdesse a hora. – riu. – Tem a melhor namorada do mundo, já sabe, né?

- Sei. – ri pegando minhas chaves e saindo. – E também tenho uma melhor amiga. Obrigada, Ceci!

Mesmo que nosso prédio ficasse perto da parada de ônibus, muitas vezes o perdia. Não foi o caso de hoje, mas ainda assim cheguei muuuito atrasada. Bati o ponto com trinta minutos de atraso. Não era muito, porém essa não era a primeira vez.

- Carol? – a voz da minha supervisora soou no ambiente. Pensei que pegando outro caminho pra chegar no laboratório, ela não me veria. Errado! – Preciso que venha a minha sala.

Cheguei colocando meu jaleco em sua sala. Esse sim, branco e passado (obrigada melhor namorada do mundo!).

- Oi, boa tarde!

- Oi. Fecha a porta, por favor. – falou apontando para porta. – E senta aqui. – é agora que receberei o maior esporro do mundo.

Me sentei, já sentindo seus olhos me observando.

- Carolina, - respirou fundo. – temos um assunto sério a tratar. Já sabe, né? - balancei a cabeça positivamente. – Você sabe, ou talvez tenha notado, que eu não sou igual aos demais supervisores. Que chama atenção, que briga, que enche o saco. Só que venho observando que você vem passando dos limites aceitáveis. – Sabia que uma hora ela me chamaria, mesmo que tentasse não fazer isso. – Já havíamos conversado sobre horários. Você sabe o quanto isso é sério. Fazemos experimentos com horários pontuais, se você se atrasa, teremos problemas no futuro. Você já sabia isso, certo? – balanço a cabeça, enquanto ela mais uma vez respira fundo. Como se estivesse triste ou até decepcionada. – Você é uma das melhores estudantes que já tive. Nem preciso te contar ou te encher de elogios sempre, mas essa situação está passando dos limites. Olhe para mim, por favor. – a olhei, morrendo de vergonha. – O que anda acontecendo?

Stubborn Love ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora