A Viagem

227 22 24
                                    


O tão aguardado sábado havia chegado. A tão aguardada viagem finalmente iria acontecer. Era sábado de manhã e o meu grupo estava reunido na frente da escola, esperando o ônibus. Alguns pais estavam ali também, além dos professores e do diretor do Colégio. Ele sempre gostava de acompanhar, pelo menos ver, o ônibus partindo. Provavelmente tinha a ver com sua mania de ter tudo sob controle.

Meu celular toca e já começo a sorrir quando vejo quem é:

- Alô?

- Carol, tudo bem?

- Oi, vó. - ri. - Que saudade da senhora.

- Aí minha filha, nem fale. Como você está?

- Muito bem. E ansiosa.

- Carmen comentou que você vai viajar, né!?

- Isso mesmo. Serrinha do Alambari.

- Tua mãe gostava de ir para aquelas bandas. Tem uma reserva ambiental lá?

- Isso mesmo. Nós iremos fazer um trabalho de preservação ambiental lá.

- Carol, vejo que você está seguindo os passos de sua mãe. Iguaizinhos. E fico muito feliz com isso. - falou com uma voz de choro.

- Ah, vó. Não chora.

- Você sabe que saudade dói, minha filha.

- Se sei, vó.

- Carol, te liguei para ouvir tua voz e desejar uma ótima viagem.

- Poxa, vó. Obrigada. Cuida-se, viu!?

- Minha netinha cresceu mesmo. Um beijo.

- Beijo. Tchau.

- Tchau.

Encerramos a ligação no exato momento em que o ônibus chegou. Quando falo com minha avó tenho a impressão de que o eu te amo não é necessário quando se demonstra o que sente. Mesmo sem estar ao seu lado, sei, ou imagino saber, que seus olhos estão marejados e seu rosto tem aquele brilho radiante do encontro entre avós e netos.

Como já era de se esperar, meu pai entra no ônibus para fazer as últimas verificações. Logo a porta do maleiro é aberta e o motorista pôs-se a organizar nossas malas.

A galera era uma mistura de sono e euforia, pois eram 07hrs da manhã. Alguns correram para o ônibus e se acomodaram, sem aquela coisa de se sentar no fundo. Isso, acho, se dá muito porque todos se gostam e estão confortáveis entre si. Os professores, como já esperado, se sentaram perto do motorista.

Talvez pelo horário, quando colocamos o pé na estrada, a maioria adormeceu. Não curto dormir e perder a vista, que é belíssima. Juliana estava ao lado de Pedro e também não dormiu. Ficou mexendo no seu Ipod, que ela nunca larga. Já eu fiquei limpando as lentes da minha Canon. Às vezes nos olhamos e riamos das caras dos nossos colegas. Aparentemente ela também é da zoeira, mas uma zoeira respeitosa. Não tirei fotos do povo. Felipe e Laura, ambos com óculos escuros, nos observava, mas não sei se tiravam cochilos também. Às vezes conversavam com o motorista, que parecia conhecer a região.

A Serrinha do Alambari não ficava muito longe de Resende. Aliás, eram poucos minutos do centro da cidade, mais ou menos uns trinta minutos. Lá não têm locais tradicionais para hospedagem, então optamos por acampar no Camping do parque. O cronograma da viagem consistia em visitas a piscinas naturais, palestras com o guia local, reunião para desenvolvimento e prática da atividade do projeto. Tudo isso no sábado e domingo, quando retornaríamos.

Assim que chegamos, fomos recepcionados pelo guia local, Alfredo Carvalho. Ele conhecia o professor Felipe, que já tinha feito outras viagens a Serrinha. Mas quando olhou pra Laura, seu encantamento foi tão grande que não conseguiu disfarçar. Estava deslumbrado com ela. Sinceramente, não tinha visto isso, ou reparado ou mesmo colocado maldade, mas Cams viu. Não só viu, como me cutucou para mostrar e saiu gargalhando enquanto tirava sua bagagem do ônibus. Senti uma sensação estranha, mas só balancei a cabeça negativamente pra minha amiga. Ela tinha isso de ver coisas onde não tinha. Olhei pra Laura e ela estava bem sem-graça.

Stubborn Love ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora