O Escondite

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A festa de aniversário de Camila Machado acabou tarde. Indo ao contrário de meus pensamentos anteriores, a comemoração não foi ruim ou entediante. Teve seus momentos e nuances.

Cheguei em casa com os pés cansados e mega doloridos. Só queria tirar essas sandálias e deitar em minha cama com o Platô. Ao tirar o que me incomodava e sentar na cama, iniciei uma automassagem nos pés e não deixei de estar arrependida pelo motivo da dor. No assunto dança, sou um completo desastre, mas o diretor João Augusto me convidou e não queria ouvir não como resposta. Sem alternativas rodopiei com ele no comando.

Deitei e fiquei fitando o teto do apartamento por um tempo, repassando tudo o que havia acontecido naquela noite. O momento que Carolina chegou, com seu novo corte de cabelo, ela ficou tão bonita! Os alunos muito agitados, aparentando embriaguez. O encontro com Carolina e nosso posterior beijo no banheiro. O beijo dela com aquele garoto, quem era ele? Observei que chegou com a Camila. A dança com o diretor do Colégio. E por fim, a carona silenciosa.

Minha cabeça era um turbilhão de interrogações, por quê Carolina havia me beijado? E por quê retribuí? O que acontecerá caso essa história se espalhe? E por quê senti ciúmes quando vi ela com aquele garoto? Tenho medo de imaginar qualquer coisa que esteja ligado a um envolvimento antiético. Porém eu sei que, por mais que negue, aquele beijo surpresa despertou em mim aspectos que estavam adormecidos há um tempo e que eu veementemente negava.

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Geralmente nos dias de Domingo aproveito para dar uma faxina em casa. Acordei um pouco mais tarde do que o costume e fiquei de preguiça na cama com o Platô, quando olho ao redor e percebo a bagunça da casa. Sim, meu apartamento é bem pequeno e da cama consigo vê-lo quase que inteiro. Foi amor à primeira vista. Assim que adentrei no local senti uma animosidade estranha, um conforto indescritível, tudo ali era perfeito para meus poucos móveis. E não, não sigo tendências minimalistas, apenas sou uma professora de História humilde, que havia acabado de sair de sua cidade natal para uma cidade totalmente diferente.

Levantei, coloquei uma chaleira para ferver e fiz minhas higienes. Meu café da manhã, um brunch dessa vez, consistia em chá preto e umas torradas com geleia de maçã com canela, que trouxera da minha cidade. Comi rápido já vendo o tanto de arrumação que teria que fazer. E aproveitando que estava na cozinha decidi iniciar a faxina por ali. Liguei o som e já fui colocando meu pen drive velhinho para tocar. Obviamente havia uma playlist para faxinas e essa começava com 'Não Enche' do Caetano Veloso.

Eram umas 18hrs quando tinha terminado. O apartamento é pequeno, mas têm suas nuances. Louças, roupas, banheiro, chão e caixas de areia, tudo bem limpinho e cheiroso. Estava morta e ainda com sono vencido da noite passada. E ainda tinha que preparar a aula do dia seguinte. Só de pensar que darei aula na sala da Carolina meu coração começa a bater descompensado. Meu Deus, isso precisa parar.

Só tomei banho, organizei minhas aulas, esquentei uma lasanha congelada para o jantar e dormi.

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Acordei com as lambidas do Platô no meu cabelo. Meu gato assim como todos, são como reloginhos e ele não me deixava perder a hora. Eu o mimava da maneira que podia, visto que éramos grudados desde seu nascimento. A mamãe do Platô, a Cora Coralina era um membro Herrmann desde o começo de minha vida adulta, e a ninhada do meu menino foi sua primeira e última, antes da castração. Passei a madrugada em claro acompanhando o parto da Cora Coralina e assim que vi o Platô foi amor à primeira vista. Acho que foram seus olhos monocromáticos e sua pelagem branca. Ele me seguia pela casa e dormia na minha cama desde sempre. Na época da faculdade morei em república e não podia leva-lo, sentíamos tanto a falta um do outro, que ele adoeceu. Não tive alternativas se não o carregar junto. E cá estamos nós.

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