Is Over?!

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Oi, Carolina!

Não fique irritada por te chamar assim, mas amo como seu nome desliza na minha boca. Eu sei. Sim, já sei que não quer olhar na minha cara, se fosse você, também não o faria.

Desculpe-me!

Faltou-me coragem de te dizer tudo o que se passava comigo. Simplesmente não consegui e creio que nunca terei forças para fazê-lo. Por isso te escrevo essa carta, para se caso aconteça algo comigo, você possa saber o mínimo. Felipe saberá como.

Nesse momento estou em Montenegro, um município vizinho de Triunfo, tão nervosa, que essa carta terá uma letra horrível. Hoje uma parte do meu destino será decidida.

Nunca cheguei a te contar, porém queria muito te levar para conhecer minha cidade, minha casa, minha família. Não temos uma vida tranquila como a sua, nossa casa é bem simples, mas acho que iria gostar dos casarões antigos da cidade. Você comeria o strudel da minha mãe, que eu com certeza ajudaria, e teria o melhor sabor do mundo, porque seriam usadas as maçãs do pomar de casa. Não! O melhor sabor do mundo mora ai com você – desse não me esqueço nunca, nem se passar cem anos e nos perdermos no deserto. É impossível esquecer, Carolina!

O que tenho a te dizer é que te amo. Muito, muito, muito. E era isso que eu queria que você soubesse, que guardasse no fundo da memória: Eu, Laura Rita Weber Herrmann, amo você, Carolina Aleixo de Moraes. Com todo o meu ser, com tudo o que tenho de melhor e pior. Te amo!

E queria que isso bastasse. Queria que pudéssemos andar de mãos dadas por ai, limpar o canto da boca sujo da outra quando se suja com sorvete de banana com chocolate, que minha família entendesse que você é a escolhida, aquela que finalmente apareceu no meu destino.

E não ele.

Ele não!

Ele nunca!

Só de pensar em você, sinto aquilo que mais amo: a sensação dos teus olhos gulosos me observando. Esse puta tom de âmbar líquido quando sorri e se emociona. Eu amo isso! Não queria que esses olhos me mirassem de outra maneira. Não do jeito que olhou naquela noite.

Pensei que postergando isso faria com que tudo ficasse mais amortecido. Estava fazendo tudo para que você me odiasse, mas não me preparei para a expressão que vi no dia seguinte após o show de horrores daquela noite. Sim, vi você se despedindo da Lourdes antes de partir. Sua feição era um misto de desespero, tristeza, raiva e decepção. Aquilo me levou ao fundo do poço. Meu único intuito era acabar com isso logo de uma vez, acabar com essa merda.

Carolina, me desculpa! Sei que peço desculpas constantemente, só que...

... é muito difícil me mostrar inteira a alguém. Apesar de te amar muito, não queria que soubesse das minhas fraquezas. Sei que isso é idiota, porém me prendi em algo assim.

A coisa que mais amo em você é a que mais me arruína. A maneira como me olhava, como me colocava em um pedestal de cristal, tudo isso me fuderam pra caramba. Eu queria ser isso o tempo inteiro, essa força que você via e precisava quando as merdas da adolescência começavam a ruir sua personalidade, entretanto, o que acontecia era o contrário, você era minha luz. Era dentro do seu abraço onde me sentia forte. Era contigo, Carolina. Não é sua culpa, preciso dizer. Sou eu e minha especialidade de fuder com a cabeça das pessoas.

Não queria que me enxergasse de outra maneira, que me tirasse do seu pedestal. Não queria que pensasse que não era a única. Não queria te ver decepcionada achando que seduzo minhas estudantes. Não quero! Porém imaginei que teria ódio quando se inteirasse do João Augusto, não decepção. E isso me fudeu tanto.

Depois que se foi com sua avó e Carmem, fui para o local onde você ainda estava inteira: seu quarto. Tinha um cheiro forte de cigarro, por isso senti mais a sua falta, afinal isso era novo. Mesmo não querendo, precisava aceitar que não fazia mais parte de sua vida, como você fazia da minha.

Lourdes me ajudou a sair dali. Não me olhava com raiva ou nojo, apenas pena, tristeza. Ela sabia e fim. Não precisava ser dita nenhuma palavra sobre isso.

Espero que um dia você possa olhar na minha cara, para te contar um pouco da história e te pedir perdão.

O grande ponto é que não consigo finalizar essa carta, porque sinto que estaria encerrando com o nós e não posso fazer isso. É simplesmente impossível. Por isso essas frases desconexas

Um dia desses passou 'Você me bagunça' do O Teatro Mágico naquela loja de discos. Você sabe o quanto seria difícil algo assim ocorrer, né? Tudo em mim saiu do eixo e flutuei sem querer para quando te mostrei esse álbum pela primeira vez. Hoje você é aquela frase de 'aprender você sem te prender comigo', mas sempre será 'você me bagunça e tumultua tudo em mim'.

Carolina, enquanto você existir em qualquer parte do mundo e eu viver, seja numa cela 3 x 4 ou em um casarão amarelo em Resende, sempre vou te amar minha menina.

L.

Stubborn Love ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora