Diario de um jovem (príncipe) gay - Ano 02 | EM ANDAMENTO

Dia 60 - Louco

Trevor Shaenvski

Vejo stories atrás de stories do retorno a Academia nos perfis dos meus amigos que não me bloquearam no Instagram. Vejo Diego com bebida escondida, vejo Peter de casal com Kyle, vejo Daphné e Beatrice correndo na chuva e assim por diante...

Bloqueio a tela do meu celular e olho para o outro lado da sala enquanto Lavinia termina de passar o batom claro nos lábios.

― Anime-se, Trevor. Parece que você vai para um enterro. ― ela diz me olhando.

A ignoro.

― O chofer está pronto. ― diz o mordomo surgindo na sala.

Lavinia se levanta e sai alegre. A sigo para fora do palácio. Aperto o casaco contra o meu corpo quando entramos na SUV.

― É uma nova era, irmão. ― diz ela quando o carro já está em movimento.

A ignoro mais uma vez. Enfio os fones de ouvido e aumento a batida de uma música no máximo.

O prédio do Colégio Sir Haugust Maranovia fica localizado no bairro central da capital. O prédio alto e centenário, formou dezenas de centenas de figuras públicas de Petrovich. Como ministros e condes. Até um ator de uma das franquias de filmes de corrida automobilística de Hollywood se formou com honras no Maranovia.

Desço do carro para o colégio novo e os olhares já chegam em cima de Lavinia e de mim.

Paro no mapa de informações do hall de entrada do colégio. O pé-direito é alto, há quadros nas paredes e o uniforme cinza e roxo do local é horrível. Sem contar que a calça é de tweed e não é bacana andar com ela.

Não é difícil encontrar a minha turma no quarto andar. Lavinia fica nos primeiros andares. A primeira aula é de Química III, me afasto de todos e não tenho pretensão de puxar assunto com ninguém ― e ninguém parece interessado em fazer o mesmo.

A professora pede para que eu me apresente.

― Me chamo Trevor. ― digo, apenas, e me sento novamente. Como se eles não soubessem quem eu sou...

Ela dá continuidade a aula.

Na hora do intervalo tento não encarar as pessoas de volta quando Lavinia se senta na mesa em que só nós dois estamos.

― Já fez um amigo, Trev?

― Não. ― respondo.

― Conheci uma tal de Sarrya, ela é filha do prefeito de Trumid, uma graça. ― Lavinia começa a falar e observo o refeitório, vendo alguns dedos apontados na nossa direção, burburinhos e risadinhas... ― Ei! ― Lavinia estala os dedos na frente do meu rosto. ― Você está me ouvindo?

Olho na direção dela.

― O que disse? ― pergunto.

Ouço as risadas numa mesa mais próxima.

― ... não acredito que aqueles idiotas vieram para cá. ― ouço um dos rapazes sussurrar e me levanto da mesa.

― Trevor? ― Lavinia se levanta e me segue enquanto aproximo da mesa dos rapazes.

― Quem são os idiotas? ― pergunto dando um soco na mesa.

O barulho de conversa diminui no refeitório.

O carinha sardento limpa o dente com as línguas.

― Esse é o meu território, princesa. ― ele diz.

― Foda-se. ― murmuro.

Ele ri olhando para os amigos.

Meus punhos se fecham e ele é pego de surpresa quando a minha mão encontra o seu rosto e os gritos de “Briga, briga, briga” ecoam pelo lugar.

Agarro o paletó do seu uniforme enquanto a minha mão soca o seu rosto. Os nós dos meus dedos se mancham de vermelho enquanto o rapaz tenta se defender dos meus golpes. Não ouço nada. Tudo está abafado.

Solto o rapaz quando umas das bandejas de ferro do Haugust Marinovia bate com tudo nas minhas costas. Me viro e vejo um dos amigos do “dono do lugar”. Meu gancho de esquerda pega com tudo na sua barriga enquanto a minha mão direta dá um soco em sua cara. O carinha que me bateu com a bandeja cai no chão desacordado.

O apito é quem faz com que eu pare.

Minha respiração acelerada enquanto volto a ouvir tudo.

― Trevor, você está louco? ― Lavinia está desesperada.

― Sr. Shaenvski, para a diretoria, nesse exato momento! ― olho para a moça com o apito, uma inspetora?

Limpo o sangue dos meninos contra a calça de tweed e saio do refeitório com todos me encarnado.

Nenhum dos meus pais aparecem no colégio.

Vejo Lyeva, uma das ajudantes pessoais da minha mãe conversando com a diretora. Em silêncio caminhamos para fora do Sir Haugust Marinovia com o papel da minha suspensão nas mãos de Lyeva.

Dentro do carro, ela conversa no telefone com a minha mãe, dizendo que está tudo bem comigo. Apenas uma semana em casa.

Desvio meu olhar dos prédios da cidade e os meus ouvidos da conversa de Lyeva com a minha mãe e encaro as minhas mãos. O que sobrou do sangue se secou... sinto a dor agora nos meus dedos.

Fecho meus olhos e respiro fundo.

O que eu estou fazendo com a minha vida?

O que eu estou me tornando?

 [N/A: AAAAA, HAPPY NEW YEAR! Não podíamos entrar em 2021 sem capítulo novo de Brandon... e aí, o que acharam? Quem tem um palpite do que rola por aí? Beijão e fui!!!]