Dia 71 - E se eu não quiser ser rei?

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21 de setembro

Querido Diário,

As horas passam lentamente após uma visitinha de Howard, não sei mais o que fazer a não ser ficado sentado num canto da salinha e colocar os joelhos contra o meu peito. É um bom momento para ficar pensativo, refletindo sobre algumas coisas dos últimos dias.

Mas Trevor Shaenvski não está na mesma sintonia que eu, já que (em médio) entre 10 e 15 minutos ele chama pelo meu nome para saber se estou bem. Fico pensando se até agora ninguém notou nosso sumiço... se Kyle, Petra ou Delancy não deram pela minha falta, se Lady Amelie já mandou mensagem perguntando sobre o meu dia, ou o próprio Rei Harrison querendo saber se estou precisando de algo.

Talvez eles pensem em me matar... esse pensamento me deixa angustiado, estar preso nessa salinha sem (a primeira vista) não ter nada para ajudar numa fuga me deixa em pânico. Howard pode simplesmente entrar na sala e meter uma bala no meio da minha cabeça e fugir para a Sibéria ou Tasmânia. Morrer parece ser mais fácil do que eu já tinha me importado antes... inferno!

Porém é incrível como acontece tantas coisas ao redor de nós... não tenho a mínima ideia de quanto tempo passou desde a última vez que algum capanga de Howard veio encher o meu saco e nem da última vez que Trevor chamou pelo meu nome, mas o barulho de tiro é reconhecível a distância... levanta minha cabeça e fico em alerta.

— Trevor? — grito chamando por ele. — Acha que... que eles adiantaram o que iriam fazer na Feira Bienal?

Silêncio.

Trevor?

Ouço o trinco da porta de ferro da salinha se virando e em segundos a porta se abre. Encaro Trevor com o uniforme da Academia Real de Taenia todo sujo de sangue.

— C-como? — me levanto do chão.

— Eu explico depois...

— Pode explicar agora. — digo enquanto ele se aproxima de mim com um molho de chaves em mão.

— Er... pode ser. — ele começa a tentar cada uma das chaves, as douradas primeiro. — O guarda tinha pavio curto, não foi difícil incitar ele a entrar na minha salinha, um golpe na traqueia dele e o fiz se engasgar com o próprio ar, uma rasteira e ele caiu no chão, soco e soco e o desarmei.

Abaixo meu olhar para a cintura dele e vejo a pistola parada ali.

— O sangue que você vê é do nariz dele que quebrei... ele está amarrado no meu lugar agora. — continua e a sexta tentativa é a que abre o cadeado do meu tornozelo, me libertando das correntes. — Vamos nessa antes que não tenhamos outra chance.

Balanço a cabeça concordando e me afasto do canto da sala.

O corredor está deserto... não há sinal de nenhum outro guarda a caminho, mas Trevor caminha na frente com a arma em punho, pronto para atirar em qualquer um que aparecer em nosso caminho.

Subimos a escada devagar, ouvindo vozes... Trevor e eu nos entreolhamos. Sabia que não seria fácil sair daqui, mas... puta que pariu, destino... ajuda a gente aí, por favor.

Quando ele sobe mais um degrau...

— Ei!

Sinto meu corpo gelar. Olho para trás no momento em que um dos guardas surge no começo da escada, antes que ele tire a arma do coldre, Trevor saca a dele mais rápido e um tiro acerta o peito do homem. Um grito de susto sai pela minha boca.

Passos ecoam do corredor de cima... não temos muito tempo. Trevor grita alguma coisa na minha direção, mas não entendo direito, apenas fico ali estático enquanto ele desce o degrau que subimos e rouba a arma do corpo caído a entregando para mim, ele passa rápido por mim... olho suas costas enquanto ele dispara mais e mais no corredor de cima.

Diario de um jovem (príncipe) gay - Ano 02 | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora