Dia 73 - Fica comigo essa noite

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22 de setembro

Querido Diário,

As memórias que tenho do Hospital Redwood não são as melhores..., mas assim que consegui a transferência de Kyle de Charleville para a capital, sua mãe e sua irmã Gwendolyn vieram correndo para Taenia, seu pai, assim como o meu, não pôde abandonar momentaneamente alguma atividade da Coroa pela saúde do filho.

Dentro do quarto assim que ele acordou, escutei toda a história enquanto Peter saiu para o corredor para atualizar os pais do seu próprio estado.

— Nunca mais quero viver algo parecido. — Kyle murmura, ele ainda sente muita dor no ombro e na cabeça também, uma tomografia foi feita, na cabeça e na região cervical, os médicos ainda não contaram para ele, mas há uma leve mancha no lado direito da cabeça de Kyle que deixa sua visão um pouco embaçada, eles vão dar mais algumas horas de observação (um enfermeiro está 24 horas no quarto para qualquer mudança no quadro do meu melhor amigo).

Me parte o coração ele não ter acesso 100% ao seu quadro clínico, mas os médicos disseram que já estão tendo progresso, logo a mancha vai se "expirar" e Kyle receberá alta.

Enquanto Gwen zoa o irmão pelas imagens que vazaram dele sendo carregado na imagem e o quão não fotogênico ele é quando está dopado, pego meu celular e finalmente respondo as últimas duas conversas. A primeira é de Hassan no grupo com Zoe:

"Estou bem, desculpem a demora, tem acontecido um zilhão de coisas, mando mensagem mais tarde. Amo vcs!"

Encaro o outro número... de Trevor, sem foto de perfil ou nome no contato. Meus olhos focam em sua mensagem de algumas horas mais cedo:

"Eles vão me levar de volta agora pela manhã... queria te ver uma última vez, mas acho que não vai rolar. Te mando mensagem assim que chegar em Petrovich. Podemos continuar nos falando?"

Digito metade de uma resposta, mas ela não parece satisfatória, apago rapidamente e só respondo com um pequeno "Claro" antes de bloquear a tela do celular novamente.

— Bran?

Pisco algumas vezes e olho para Kyle que me encara.

— Está tudo bem? — pergunta.

— Hã... está sim. — engulo em seco. — Mal toquei no desjejum hoje de manhã então... — indico a porta. — Acho que vou atrás de um lanchinho na lanchonete ou algo do tipo.

Kyle balança a cabeça concordando, me despeço de sua mãe e irmã. Quando passo pela porta vejo Peter se aproximando, seus olhos estão fundos, não tem dormido direito desde o lance da Academia. Sorrio na sua direção enquanto os dois guardas que ficam na sola do meu pé agora me acompanham até o elevador do andar.

Quando chego na lanchonete do hospital, as pessoas me olham... sei que já deveria estar acostumado com isso, afinal, já faz mais de um ano que sou o príncipe herdeiro do reino, que meu nome entrou para os livros de história e para os boletins de notícia da televisão, mas essa pressão, esse cochichos quando chego em espaços públicos ou que não sejam os lugares que sempre estou me deixam levemente desconfortável.

Depois de me servirem uma torta de queijo quark um suco de laranja (eles disseram que é natural, mas aposto que é de alguma polpa industrializada), fico entrando e saindo do meu Instagram, desativei todas as marcações e comentários. Faz dois dias que não posto nenhum story ou algo do tipo. É estranho não estar tão ativo nas redes sociais, mas ao mesmo tempo chega a ser uma válvula de escape, como um detox momentâneo depois de tudo o que rolou.

Bloqueio a tela do meu celular para focar no meu café da manhã que tecnicamente deve ter virado um brunch pela hora que estou comendo..., mas o bendito começa a vibrar. Ignoro o nome de Jeanine na tela, eu avisei que estaria no Redwood pela manhã para fazer companhia para Kyle.

Diario de um jovem (príncipe) gay - Ano 02 | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora