você é bem corajosa

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Os olhos verdes analisavam de longe a morena de olhos castanhos se sentando na mini-arquibancada do outro lado do pátio. Ela ainda tinha a pose séria e fria.

Fazia cerca de uma semana desde que conversaram e depois daquilo Bianca não lhe respondia mais. Rafaella tentara de tudo, porém fora impossível. Bianca realmente havia ficado chateada.

-- Brigaram? -- A voz de Manu soou por detrás de Rafaella, fazendo a maior assentir.

-- Fui um idiota com ela. -- Rafaella disse e Manu fitou Bianca, franzindo ligeiramente os olhos devido ao sol intenso.

-- Você é bem corajosa. -- Manu disse. -- Ninguém aqui ousaria ser idiota com ela depois de saber que ela quase matou a antiga líder daqui. -- Comentou. -- Só não matou porque a outra se rendeu.

-- Essas informações são verídicas? -- Rafaella perguntou.

-- Dizem que sim. Dizem que a mulher morreu dias depois e que foi Bianca quem matou, mas não levou a culpa porque soube disfarçar o crime.

-- Bianca não seria capaz. -- Rafaella murmurou e Manu riu.

-- Você está se apaixonando? -- Perguntou. -- Porque só assim para achar que ela não seria capaz. Ela é a líder daqui, Rafaella.

Rafaella ficou quieta. Não discutiria sobre sua opinião com mais ninguém, afinal ninguém ali conhecia Bianca como ela. Estava ali há pouco tempo, mas apesar disso ainda era a pessoa que mais conhecia Bianca ali. Claro que possivelmente Marcela e Gizelly conheciam melhor a garota e exatamente por isso elas não discutiam sobre Bianca. Ninguém entenderia.

-- Não estou me apaixonando. -- Rafaella disse. -- Mas gosto muito dela.

-- Três semanas e já está caidinha. -- Manu disse rindo, soltando um pequeno ronco junto.

-- Não estou muito bem para humor hoje, Manu. Desculpe. -- Rafaella disse tristemente, sorrindo fraco antes de caminhar até sua cela.

Naquele dia a luz do sol não faria diferença. Era para ser um dia feliz, ela havia organizado em sua agenda aquela data havia meses. Sua sobrinha completava três anos e ela sequer poderia dar um abraço, quem dirá aquele monte de coisas que havia organizado.

Ela se sentou em sua cama e se pôs a chorar baixinho, se perguntando aonde havia errado em sua vida para estar pagando um preço tão alto. Sua advogada não voltara a dar notícias, muito menos sua irmã.

Como será que Sofia estaria? Será que ela perguntara sobre Rafaella? Gabriella teria lembrado de comprar o unicórnio para a menina em seu nome?

Com o coração destroçado Rafaella apoiou o rosto nos joelhos, abraçando as pernas para chorar em posição fetal. Ela sempre brigava com seu irmão. Como não brigar? Ele era bastante irresponsável. Claro que tinha apenas dezoito anos, porém tinha uma filha para quem devia responsabilidade e muita das vezes não a exercia, deixando o cargo vago para Rafaella.

A garotinha era mais apegada à sua tia Rafaella do que ao próprio pai. Apesar de tantas brigas, Rafaella e Rafael haviam passado horas organizando aquele dia. Algo que jamais se repetiria. Nem Sofia completaria três anos outra vez e nem Rafaella teria seu irmão para organizar algo em conjunto. O nó se apossou de sua garganta e ela desabou em um choro intenso, porém parou quando sentiu uma mão em seu ombro.

-- É hoje o aniversário que você citou, não é? -- Bianca perguntou, ignorando toda a frieza do decorrer da semana e Rafaella assentiu, tendo seus olhos inchados e avermelhados.

A menor suspirou e se sentou ao seu lado, trazendo-a para seus braços em uma abraço apertado. Rafaella não hesitou, se deixando cair em um choro forte, tendo seu rosto enterrado na curva do pescoço da menor.

-- Sh... -- Bianca sussurrou e Rafaella a abraçou ainda mais forte, deixando suas defesas abaixadas.

-- Eu cuidava dela como uma mãe. -- Rafaella disse em meio ao pranto e Bianca suspirou. -- Eu contava histórias e brincava com ela. Eu... sinto tanta falta dela.

-- Como ela é? -- Bianca perguntou, querendo entreter a maior. Rafaella fungou e respirou fundo, pensando no que diria.

-- Ela é doce, divertida. -- Começou, se lembrando da pequena figura. -- Ela tem a cor dos cabelos um pouco clara e olhos castanhos, porém sua pele é um pouco mais clara. -- Rafaella disse, enxugando algumas lágrimas antes de se esquivar do abraço de Bianca para olhá-la. -- Ela é tão esperta para sua idade, você precisa ver, Bia... -- Bianca suspirou, vendo um brilho lindo cintilar nos olhos da maior.

-- Ela parece adorável. -- Bianca disse e Rafaella sorriu finalmente.

-- Céus, ela é. -- Rafaella disse e Bianca repuxou o canto dos lábios em um meio sorriso.

-- Gostaria de falar com ela? -- Bianca perguntou e Rafaella assentiu tristemente. -- Sabe que esta manhã eu consegui uma coisa... --Bianca falou, retirando algo de dentro de seu sutiã. -- Preciso devolver até as cinco, mas que tal se eu conhecer a voz dela, hm? -- Rafaella abriu a boca em completa surpresa ao ver um telefone celular na mão de Bianca.

-- Você, uh, me emprestaria mesmo? -- Rafaella perguntou e Bianca riu.

-- Está brincando? Você me deixou curiosa sobre essa criança. -- Bianca falou e Rafaella sorriu. -- Só espere um minuto, vou chamar Gizelly para vigiar enquanto estivermos na ligação.

-- Estivermos? -- Rafaella perguntou confusa.

-- Você realmente acha que eu não vou dar um oi para ela? -- Bianca perguntou e Rafaella se jogou em seus braços, a abraçando fortemente.

-- Céus, eu te beijaria agora mesmo. -- Rafaella comentou. -- Obrigada mesmo, Bia. Eu jamais vou me esquecer disso. -- A menor apenas assentiu um pouco sem graça por Rafaella ter citado beijo e logo se levantou.

-- Não precisa me agradecer. -- Ela disse, desaparecendo dali. Quando voltou viu que Rafaella tinha lavado o rosto e estava batendo o pé ansiosamente contra o chão.

-- E então? -- Rafaella perguntou em expectativa e segundos depois viu Gizelly parar na frente da cela, de braços cruzados enquanto Bianca tapava parcialmente a visão lá de fora com lençóis.

-- Vem cá. -- Bianca pediu, se sentando na cama de Rafaella com as costas na cabeceira, de costas para as grades e Rafaella se aproximou, sentindo Bianca a puxar para o meio de suas pernas antes de sorrir. -- Vire-se para a frente. -- Bianca disse rindo, vendo que Rafaella estava paralisada fitando seus lábios. -- Sua irmã tem alguma rede social ou algo que dê para fazer vídeo-chamada?

-- Tem. -- Rafaella respondeu e Bianca sorriu.

-- Então coloque ela na linha. Faremos uma vídeo-chamada. -- Bianca não podia entender o tamanho do sentimento que despertou em Rafaella ao ajudá-la com aquilo e, mesmo brigadas, era bom demais voltar a estar entre os braços da mais nova.

Presa Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora