Liberdade

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Rafaella caminhava de um lado para outro ansiosa; estava morrendo de saudades de Bianca, afinal mal tinha podido se despedir decentemente de sua namorada. Ela subiu as mangas de sua camisa branca social e ajeitou os cabelos. Será que deveria ter trocado de roupa antes de passar ali? E se Bianca não se atraísse por ela vestindo social?

Negou com a cabeça e riu para si mesma. Bianca não era esse tipo de garota, jamais se incomodaria com o tipo de roupa que ela usava. Não mesmo.

-- Poderia se sentar? Está me deixando nervosa. -- Mari disse e Rafaella a fitou, rindo baixinho.

-- Desculpe, é que estou ansiosa. -- Ela disse esfregando as mãos em sua calça.

-- Jura? Eu não poderia dizer isso se não tivesse me avisado. -- Mari foi irônica, fazendo Rafaella negar com a cabeça.

-- Não use de sua ironia comigo. Você só está aqui para que eu não precisasse ficar nua na frente daquelas mulheres. -- Mari riu.

-- Ou seja, eu vim segurar vela. -- A morena iria dizer algo, entretanto o ruído da porta se abrindo fez Rafaella virar o rosto na mesma hora.

Seu sorriso morreu quando encontrou Marcela com uma cara não tão boa.

-- Por favor, não me diga que ela está com aquela frescura de que eu não deveria vir. -- Rafaella pediu, vendo Marcela se aproximar.

-- Desculpe, mas ela não quer te ver.

-- Por quê? -- Rafaella indagou confusa e Marcela riu com escárnio.

-- Por quê? -- Marcela perguntou irritada. -- Como "por quê?" Você saiu sem mais nem menos. -- Informou. -- Não deu nem um tchau, a abandonou. Aquele dia ela te esperou por horas. Se atreveu até a ir à enfermaria ver se você não estava por lá. -- Marcela falou, respirando fundo. -- Ela te procurou por todos os lados achando que tinham aprontado algo com você e quando disseram que você foi solta e que preferiu não vê-la...

-- Ôh, ôh, ôh! -- Rafaella disse, erguendo as mãos na frente de seu corpo ao ouvir o tom acusatório na voz de Marcela. -- Primeiro que eu não sabia que eu sairia. Segundo que eu não tinha como avisá-la desde que jamais me avisaram que eu sairia e ela deveria deduzir isso. -- Falou firmemente. -- E terceiro que eu dei dois mil dólares para uma policial apenas para ela lhe entregar um bilhete. -- Marcela se calou, a olhando surpresa. -- E pelo jeito a vadia não deu a ela meu bilhete. -- Deduziu, respirando fundo.

-- Você não... não a deixou? -- Marcela indagou, tentando comprovar que o que ouvira era real. Tudo não havia passado de um mal entendido.

-- Como eu poderia? -- Rafaella disse. -- Eu estou aqui, não estou? -- Marcela assentiu. -- Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo, desfrutando da minha liberdade, mas ao invés disso estou bem aqui, em uma prisão no meio do nada, unicamente para vê-la. -- Marcela viu a forma como os olhos de Rafaella brilharam e como a ternura invadiu seu ser.

-- Oh meu Deus, você gosta mesmo dela. -- Rafaella sorriu debilmente e assentiu.

-- Sim, eu gosto. -- Ela disse com doçura e Marcela suspirou.

-- Olha, vou tentar falar com ela de novo. Ela está meio nervosa com isso de gastar um pouco do dinheiro da fiança e pode estar descontando na situação, mas...

-- Fiança? -- Rafaella perguntou confusa. -- Que fiança?

-- Droga. -- Marcela murmurou. -- Não é nada.

-- Marcela, que fiança? -- Rafaella insistiu e Mari arqueou uma sobrancelha, mais interessada na conversa.

-- Ela vai me matar. -- Marcela murmurou, tomando coragem antes de comprimir os lábios. -- A fiança dela, Rafa. -- A morena piscou confusa.

-- Bia pode sair com fiança? -- Rafaella perguntou surpresa.

-- Você não sabia disso? -- Mari perguntou confusa.

-- É claro que não. Você sabia?

-- Óbvio. Eu pedi para ser advogada dela, tive que ler seu caso.

-- E por que não me disse nada? -- Rafaella questionou.

-- Porque eu pensei que você soubesse. -- Mari se explicou e Rafaella fitou Marcela.

-- Não entendo por que ela não me contou isso... -- Rafaella disse e Marcela umedeceu os lábios.

-- Olha, Rafa, Bianca gosta mesmo de você. -- Marcela começou. -- Nunca a vi tão leve e feliz igual quando estão juntas. -- Explicou. -- Você já a perguntou se ela estava com você por dinheiro. Você acha mesmo que ela te contaria isso? -- Marcela riu tristemente. -- Ela jamais colocaria o sentimento dela em dúvida diante de seus olhos.

-- Eu perguntei aquilo quando mal a conhecia. Quando ela não me contava nada e me protegia sem eu entender o motivo. -- Rafaella se explicou. -- Eu jamais pensaria isso dela.

-- Fico feliz. -- Marcela disse sorrindo aliviada. -- Porque aquela garota te adora.

-- É recíproco. -- Rafaella disse ruborizando levemente. -- Então... -- Disse limpando a garganta. -- Aquele dia você mencionou que naquele mês você tinha conseguido mais duzentos. Era dinheiro para a fiança, não era? -- Marcela assentiu.

-- É. Gizelly e eu nos encarinhamos mesmo com ela e a queremos como madrinha de nosso casamento, então estou juntando para pagar a fiança. -- Marcela disse. -- O casamento será simples, porque a fiança é alta e não tenho condições, mas está convidada.

-- Sabe o quê? -- Rafaella disse sorrindo. -- Pegue todo esse dinheiro que você guardou para a fiança da Bia e invista em seu casamento ou lua de mel, o que preferir. -- Rafaella disse animada. -- Porque a fiança de Bianca estará sendo paga hoje. -- Marcela arregalou os olhos incrédula, emocionada e agradecida.

-- Co-como? -- Indagou e Rafaella riu.

-- Isso mesmo que você ouviu. Só... poderia dizer a ela que você que conseguiu? -- Marcela fez uma careta ao ouvir aquilo.

-- Ela não vai gostar se...

-- Não se preocupe. Essa não será uma daquelas situações onde a pessoa fica magoada quando descobre a verdade e etcétera. -- Rafaella disse rindo. -- Eu contarei a ela assim que olhar em seus olhos. Só sei que ela pode ser teimosa, então...

-- Entendi. -- Marcela disse sorrindo emocionada. -- Obrigada. Eu realmente não sei como agradecer.

-- Eu que agradeço. Saber que ela pode sair foi a melhor notícia que recebi em muito tempo. -- Rafaella disse verdadeiramente. -- Pode me fazer um favor? -- A policial assentiu. -- Diga à Manu que virei visitá-la e que no dia que ela sair eu mesma farei questão de vir buscá-la.

-- Eu direi. -- Marcela respondeu e Rafaella assentiu sorrindo.

-- Bem, quanto é a fiança? -- Rafaella indagou.

-- Treze mil dólares. -- Marcela disse receosa e Rafaella fez uma careta. Bianca estava presa por tão pouco?

-- Bem, então esses serão os treze mil dólares mais bem gastos da minha vida. -- Rafaella respondeu sorrindo. -- Nos vemos, Marcela. Agora tenho uma namorada para soltar, se me der licença.

E dito isso se retirou, fazendo Marcela  sorrir emocionada. Ela pôde ler no olhar determinado de Rafaella que, de fato, ela não sossegaria enquanto não tivesse Bianca em liberdade.

Presa Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora