Você me ajudou...

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Conforme cada página era engolida pelo cérebro de Rafaella, Bianca assistia cada reação da maior, que estava deitada em sua cama enquanto Bianca estava apoiada na grade do lado de fora, vendo o movimento dos corredores e, disfarçadamente, admirando Rafaella.

Um riso gracioso chamou a atenção de Bianca, que até tentou ignorar, mas não conseguiu.

-- O que está lendo? -- Bianca perguntou e Rafaella abaixou o livro e ergueu a vista para Bianca, vendo-a de braços cruzados do lado de fora.

-- Uma comédia romântica. -- Rafaella disse e Bianca assentiu. A maior percebeu que Bianca iria dizer algo, porém fechou a boca sem proferir palavra alguma. -- Já leu esse? -- Ela perguntou, erguendo o livro para Bianca ver a capa alaranjada e amarelada, onde continha duas mulheres.

-- Já li todos eles. Esta semana chega mais livros que pedi. -- Bianca falou e Rafaella assentiu.

-- Posso pedir alguns também. Só preciso esperar minha irmã vir me visitar. -- Rafaella disse e Bianca deu um passo para dentro da cela.

-- Ela ainda não veio te ver ou estou enganada?

-- Veio no dia que cheguei, mas ela anda ocupada com algumas coisas importantes. -- Rafaella disse, colocando o marcador de páginas no livro antes de fechá-lo.

-- Quanto tempo você, uh, pegou? Você disse à médica que não pode ter a pena reduzida. -- Bianca falou, entrando de vez na cela antes de encostar na parede, parando de frente para Rafaella.

-- Vinte e dois anos. -- Rafaella disse, vendo Bianca arregalar os olhos. -- E você?

- Não te in.....

-- Para com isso. -- Rafaella pediu, vendo os olhos castanhos a encararem após terem fitado o chão. -- Está claro que você quer conversar comigo e se aproximar. Eu não sei por qual razão você precisa tentar manter sua pose de durona, mas comigo isso realmente não está funcionando. -- Rafaella bufou.

-- Não é uma pose. -- Bianca falou e Rafaella riu baixinho.

-- Tudo bem, mas mesmo que você seja assim, comigo não está funcionando. Está ficando vergonhoso você tentar me evitar, mas sempre puxar assunto.

-- Eu não sei por que eu ainda ouço o que você diz. -- Bianca reclamou e Rafaella riu, levantando rapidamente da cama para prender os dois braços ao redor de Bianca, impedindo que ela voltasse a sair.

-- Não precisamos ser amigas, se é isso que teme, porém tampouco precisamos ser duas desconhecidas, Bianca. -- Rafaella falou e Bianca olhou para os braços ao seu redor.

-- Você realmente não tem medo de mim, não é? -- Bianca perguntou com o músculo do maxilar enrijecido e Rafaella sorriu.

-- Às vezes, mas cuidando de mim e se preocupando comigo do jeito que você faz fica difícil manter em mente que preciso ter medo de você. -- Bianca suspirou e a fitou.

-- Só senti pena de uma pobre coitada que seria vítima de Bárbara. -- Bianca disse e Rafaella sorriu. Qual era o problema dela que, não importava o que Bianca falava, sempre sorria?

-- Você se preocupou mais cedo com a minha alimentação, Andrade. Você realmente precisa melhorar seus argumentos. -- Rafaella disse e Bianca a empurrou.

-- Eu não preciso melhorar porra nenhuma. -- Bianca disse exasperada e Rafaella encolheu os ombros.

-- Como quiser. -- Rafaella falou, voltando a se deitar em sua cama e retornando para sua leitura. Os olhos castanhos fitaram a decepção estampada no rosto da maior e logo ela bufou.

-- Não precisamos ser amigas se conversarmos? -- Bianca perguntou e Rafaella a fitou.

-- Não quero mais conversar com você. -- Rafaella disse, voltando a olhar para o livro.

-- Por quê? Você queria até trinta segundos atrás. -- Bianca disse confusa.

-- Você precisa aprender que nem tudo é como você quer. -- Rafaella rebateu e Bianca bufou.

-- Eu não sei porque perco o meu tempo com você. -- Bianca disse bufando, saindo da cela novamente e voltando a cruzar os braços.

Rafaella se escondeu atrás do livro apenas para sorrir. Decifrar Bianca era fácil demais e, em apenas alguns dias, ela não entendia como todas as detentas temiam aquela garota.

Ela viu como a maior bufava a cada cinco segundos e sabia que estava com seu ego ferido, então fez algo para a outra restabelecer a paz interior.

-- Bianca? -- Rafaella chamou e a garota colocou a cabeça para dentro da cela. -- Está entediada?

-- Por qual outra razão eu teria puxado assunto com você? -- Bianca disse e Rafaella sorriu. A resposta grossa já era imaginada.

-- Quer ler comigo? -- Rafaella perguntou e Bianca piscou lentamente, cética. -- Já disse, não seremos amigas. -- Falou, deitando mais para o canto e Bianca assentiu, se deitando ao seu lado.

-- Em qual parte está? -- Bianca perguntou.

-- Na parte onde o meninão é descoberto pelas amigas da protagonista. -- Rafaella disse e Bianca riu.

-- Eu adoro esse livro. -- Ela disse e Rafaella se permitiu contemplar sua beleza de perto. Não foi uma olhada de soslaio, foi uma olhada daquelas que deixam bem claro para você que está sendo observada. 

-- Não vai mesmo me dizer quanto tempo pegou? -- A maior perguntou e Bianca a fitou.

-- Sempre insistente assim? -- Rafaella sorriu e aquiesceu.

-- Sempre. -- Respondeu sorrindo e Bianca bufou.

-- Sete anos, mas já cumpri três e por bom comportamento já reduzi mais dois. -- Rafaella sorriu ainda mais e se virou de lado, ficando de frente para a maior.

-- Bom comportamento, hm? -- Rafaella perguntou provocando enquanto o sorriso enfeitava seus lábios. -- Não estou surpresa.

-- Não está? -- Bianca perguntou surpresa e Rafaella meneou a cabeça.

-- Não. Eu não sei por que as garotas temem você, mas já percebi que você é boa.

-- Ninguém nunca ousou cruzar o meu caminho aqui dentro para eu provar o contrário. -- Bianca disse friamente e Rafaella sorriu com a língua entre os dentes.

-- Eu ousei. -- Rafaella disse rindo baixinho. -- Te desafio o tempo inteiro, não percebeu? E ainda assim você não fez nada.

-- Talvez eu não queira fazer nada. -- Bianca falou e Rafaella fitou seus lábios. Deveria ser delicioso beijar aquela boca.

-- É nisso que eu queria chegar. -- Rafaella disse, fitando-a. -- Por que comigo é diferente? -- Bianca se obrigou a fitar apenas seus olhos, porém a forma como os olhos de Rafaella estavam fixos em seus lábios não estava ajudando muito em sua concentração. A menor suspirou rendida e começou:

-- Você me ajudou... -- O barulho de um cassetete atingindo as grades atraiu a atenção de ambas.

-- Rafaella, você disse que iria à enfermaria e já está quase na hora das celas se fecharem. Então vá. -- Uma policial morena requisitou e Rafaella assentiu.

-- Me conta depois? -- Rafaella sussurrou e Bianca negou, se levantando.

-- Não tenho nada para contar.

-- Bianca! -- Rafaella disse e Bianca cruzou os braços.

-- Estão te esperando. -- Ela disse e Rafaella bufou, mas deixou o livro sobre a cama e saiu.

Bianca iria lhe contar, droga! Mas apesar de Bianca ter mudado de ideia em relação a dizer, Rafaella não desistiria fácil.

Presa Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora