Presídio feminino do estado de Kansas.
Seu corpo foi lançado com força para a frente, fazendo-a quase cair antes de conseguir se equilibrar. Seus olhos castanhos percorreram a extensão de todo o pátio, analisando meticulosamente todas as garotas do local. Rafaella pôde perceber que andavam em bandos, e que ela aparentemente era a carne nova no pedaço, pois todos os olhares estavam focados nela.
Enormes cercas elétricas eram coladas com paredes quilométricas. Havia câmeras de segurança por todos os lados e os uniformes laranjas se destacavam entre os marrons e brancos. Policiais femininas rondavam por ali, prestavam atenção em toda e qualquer aproximação estranha que poderia ser uma possível briga.
Rafaella não deixou de notar que, em algum momento, todos abaixaram a cabeça quando uma morena de pele extremamente clara e de cabelos pretos passava por elas. Curiosa como costumava ser, Rafaella jamais baixou o olhar, vendo a morena subir na mini-arquibancada, feita de ferro e madeira, e se sentar.
A morena percorreu o olhar pelo perímetro, contudo, ele parou em Rafaella. A expressão solene entregava que ela não queria que a olhasse, mas algo na garota a prendia.
-- Freitas? Estou te chamando! -- O grito da policial fez Rafaella pular de susto.
-- Desculpe, eu não te ouvi. -- Pediu, vendo a policial, de roupa azul escuro, lhe fitar seriamente.
-- Eu não costumo dar avisos para as presidiárias novatas, mas vi que ficará um bom tempo aqui, então sugiro que não a encare. Ela não gosta. -- A policial falou e Rafaella assentiu, dando uma última olhada para a garota antes de ler o nome no crachá da policial.
-- Em que posso ajudar, senhorita Mcgowan? -- Rafaella perguntou e a policial apoiou sua mão direita sobre a arma em sua cintura.
-- Tem visita para você, me acompanhe. -- Ela disse, prendendo as mãos de Rafaella em suas costas e a levando dali.
-- Visita? Sabe quem é? -- Rafaella
indagou.-- Não sou sua escrava, detenta. Da próxima vez descubra por si só. -- Marcela disse friamente. -- Nem todas as policiais aturam essas perguntas. Algumas são realmente más, entao procure nao falar com elas. -- A policial alertou. -- Enfim, é sua advogada e sua irmã.
-- Obrigada pelo conselho. -- Rafaella disse.
Caminharam o resto do caminho em profundo silêncio e, quando finalmente chegaram, a advogada fez questão de deixar que soltasse Rafaella das algemas, e assegurava que ela não era perigosa.
-- Por onde esteve? -- Rafaella perguntou assim que a policial a soltou e se afastou. Sua irmã correu para seus braços e a abraçou fortemente.
-- Eu realmente quis tirar férias do mundo. A assistente social de Sofia que conseguiu me contatar através de um amigo. -- Falou, se separando do abraço.
-- Sofia ficará com você? -- Rafaella perguntou e Gabriela suspirou, assentindo. Sofia era filha de seu irmão mais velho, ele havia tido ela muito novo, porém a mãe da criança morreu na mesa de parto, logo após o nascimento da menina, desde então Rafaella que ajudava a cuidar da criança, junto com Genilda.
-- Sim, não pude acreditar que mamãe fez isso. -- Gabriela disse paralisada, prendendo o choro. -- Ela nunca havia feito nada mais do que nos agredir, mas isso há muito tempo. Nós deveríamos ter...
-- Hey... -- Rafaella disse, segurando sua mão e olhou de relance para a advogada, que mantinha a cabeça baixa esperando o momento íntimo delas acabar. -- Não dá mais para mudarmos isso, é melhor não nos machucarmos dessa forma. -- A mais nova assentiu cabisbaixa. -- Como você está?
-- Como eu estou? -- A irmã dela perguntou incrédula. -- Você é que foi presa injustamente, não eu. Como você está? -- Rafaella suspirou.
-- É, mas você também perdeu um irmão.
-- Você não precisa ser tão empática o tempo inteiro, Rafa. Eu estou me virando aqui fora e eu vou te tirar daqui. -- Gabriela disse com determinação. -- Essa é nossa advogada, Mari Saad, perdão não lhes apresentar antes. -- A mulher estendeu a mão para Rafaella e apertou de modo formal.
-- Temos boas e más notícias para você, senhorita. -- A advogada Saad anunciou. Rafaella analisou que ela vestia um conjunto social cinza, com uma blusinha branca por baixo. Sua saia batia um pouco abaixo do joelho e sua expressão era solene.
-- Diga qualquer uma primeiro, pior do que estou, só morrendo. -- Rafaella disse dando de ombros
-- Certo. A boa é que ainda nessa semana juntaremos provas o suficiente para te tirar daqui. -- Mari disse, apoiando as duas mãos sobre a mesa de alumínio. -- E a má é que, embora sejam uma família rica, a juíza decretou o próxima audiência somente em seis meses. -- Os olhos de Rafaella se esbugalharam.
-- O quê? -- Exclamou atônita. -- Vou ter que ficar seis malditos meses aqui?
-- Infelizmente o julgamento já foi finalizado e para reabrir o processo a fila é enorme, é fim de ano, temos poucos juízes neste estado, teremos que esperar. Não posso oferecer dinheiro, seria suborno. -- Rafaella levou as duas mãos até seu rosto e meneou a cabeça, aflita demais para processar a informação.
-- Virá me visitar com frequência? -- Rafaella indagou à sua irmã.
-- Vou dar meu melhor, com isso das papeladas da Sofia e meu trabalho, você sabe... -- Sua frase morreu, contudo, Rafaella assentiu.
-- Se não conseguir vir em menos de três semanas, pode me fazer um favor? -- Sua irmã assentiu. -- Compre um unicórnio enorme de plástico para nossa sobrinha. É o que ela me pediu de aniversário. -- Rafaella disse tristemente. -- E diga que foi presente da tia Rafa.
-- Tudo bem, agora precisamos ir, mas se cuida, maninha. -- Gabriela disse, dando um rápido abraço em Rafaella. -- E se mantenha fora do alcance das garotas daí, são perigosas. Não diga a ninguém que você é rica e tudo ficará bem. -- Rafaella assentiu e se despediram.
Quando a policial lhe colocou no pátio novamente, a primeira coisa que Rafaella notou foi o par de esferas castanhas sobre si e,instantaneamente, o aviso da policial Mcgowan soou em sua mente: "Não a encare, ela não gosta."
Se não gosta, então por que fica encarando também? Pensou encarando também? Pensou Rafaella, mas desviou os olhos mesmo assim, afinal, não queria brigas, muito menos em seu primeiro dia ali.
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Presa Por Acaso
FanficO que você faria se, por um golpe do destino, você fosse presa mesmo sendo inocente? Rafaella Kalimann não se assustou tanto quando foi mandada ao julgamento, afinal sua família tinha a conta bancária transbordando dinheiro o suficiente para pagar...