Ela escolheu você?

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Rafaella teve o resto do dia tranquilo na medida do possível, tomou seu banho sem ninguém incomodar, sequer viu Andrande naquele horário e as outras detentas tampouco incomodaram, porém, seu medo ainda se baseava em Bárbara. Ela sairia em poucos minutos da detenção e iria para a cela delas.

Rafaella se desencostou da cama e se levantou quando viu que seria revistada. Tudo ocorreu bem e o horário chegou. O mesmo sorriso prepotente da noite anterior brincava nos lábios da outra garota.

-- Sentiu minha falta? -- Ela perguntou, se aproximando.

-- Por favor, me deixe em paz. Eu não te fiz nada. -- Rafaella disse, um pouco mais temerosa do que gostaria. Estava cansada de lutar, no entanto, sabia que ainda tinha muito mais pela frente.

-- Sabe que ficar em um quarto escuro por vinte e quatro horas não me agradou muito? -- A mulher disse, vendo Rafaella se levantar e ir para o canto da parede.

-- Eu não quis...

-- Chega de conversa. -- A garota disse, puxando Rafaella pela cintura com força. A menor tentou se soltar, mas a garota imobilizou suas mãos e pressionou sua pélvis contra a menor, não deixando-a ser capaz de chutá-la. -- Sua pele é muito macia. -- A garota murmurou, distribuindo beijos por seu pescoço.

-- Bianca não gostaria disso. -- Rafaella disse em seu ímpeto, fechando os olhos fortemente e, como num passe de mágica, a garota se afastou, a olhando confusa.

-- O que ela tem a ver com isso? -- Bárbara perguntou e Rafaella respirou fundo. Teria que dizer aquelas palavras em voz alta, seria estranho, primeiro porque teria que fazer parecer ser verdade, segundo porque não sabia até onde a outra sustentaria aquela mentira.

-- Bem, ela me escolheu para, huh, ser a mulher, você sabe, dela. -- Rafaella disse bastante hesitante, experimentando o sabor estranho daquelas palavras em sua boca e Bárbara estreitou os olhos.

-- Desde quando?

-- Esta tarde. -- Disse firmemente e a outra passou a mão na nuca, parecendo um pouco desnorteada.

-- Acha que tenho medo dela? -- Bárbara perguntou e Rafaella negou rapidamente.

-- Eu só, bem, estou te avisando. -- Rafaella disse, vendo Bárbara a olhar ainda cética.

-- Amanhã falarei com ela, mas se isso for uma mentira, espero que saiba que não serei carinhosa na noite de amanhã. -- Rafaella assentiu e suspirou aliviada quando a outra subiu no beliche e se calou.

Deus que tivesse misericórdia dela, se descobrissem a mentira ela estaria em maus lençóis.

[...]

O corpo magro corria desesperado para a cantina no dia seguinte, procurando pelos olhos castanhos. Assim que encontrou, foi em direção à Bianca, se sentando na sua mesa sem pedir autorização.

-- Você disse para eu dizer aquela merda, então por favor, não volte atrás em sua palavra, caso contrário eu estarei bem, bem, bem fodida. -- Rafaella disse eufórica.

-- Quem te mandou sentar? -- Bianca perguntou rudemente.

-- Eu só... Só precisava falar com você antes da, huh, Bárbara. -- Rafaella disse fitando suas mãos.

-- Já falou. -- Bianca disse friamente e Rafaella suspirou, assentindo e se levantando.

-- Desculpe, eu não quis te atrapalhar. -- Ela pediu cabisbaixa.

-- Esteja na minha cela no mesmo horário de ontem e deixe os outros saberem disso. Vá sorrindo. -- Bianca disse seriamente e Rafaella assentiu, indo para a fila.

-- Hey, não teve problemas ontem à noite? -- A voz fina de Manu soou preocupada assim que parou atrás dela na fila.

-- Não. -- Rafaella disse, vendo Bárbara surgir na porta da cantina. Rafaella viu o exato momento onde ela marchou em direção à mesa de Bianca e se debruçou sobre ela, apoiando as duas mãos na mesa.

Aparentemente aquela era a nova atração do lugar, porque Rafaella viu todos os pares de olhos voltados para as duas. Bianca a olhou friamente antes de dizer algo que Rafaella não pôde ouvir devido à distância.

Bárbara pareceu irritada e Bianca disse mais alguma coisa, fazendo Bárbara dar um soco na mesa. Bianca se levantou e deu a volta na mesa, ficando cara a cara com Labres. Ela disse algo com o músculo do maxilar enrijecido e Bárbara bufou antes de abaixar os olhos, assentir e ir a passos duros até a fila, ou seja, bem atrás de Manu.

Rafaella viu Bianca se aproximar dela e então sorrir. Caramba! Era a primeira que via seu sorriso.

A maior não se atreveu a olhar para Manu, afinal Bárbara estava bem atrás dela e não sabia o que ela tinha conversado com Bianca.

A surpresa de Rafaella aconteceu quando sentiu um braço delicadamente se enlaçar em sua cintura antes de colar seus corpos. Era Bianca.

Rafaella prendeu a respiração ao se atrever a olhar para cima: Os olhos castanhos fixados nos verdes e um sorriso lindo brincando em seus lábios.

-- Nos vemos mais tarde? -- A voz rouca e sexy fez Rafaella engolir em seco e assentir, totalmente paralisada ante àquela visão.

Bianca se inclinou e deixou sua boca a centímetros de distância da de Rafaella , fazendo seus narizes se tocarem e seus olhos mergulharem um no outro. A maior podia jurar que sentiu seu corpo tremer e seu coração disparar em seu peito.

-- Então eu te espero na minha cela. -- Bianca disse ligeiramente mais baixo, apertando um pouco mais Rafaella contra seu corpo antes de se inclinar um pouco mais e relar seus lábios suavemente sobre os de Rafaella, em um selinho demorado.

Bianca se afastou e Rafaella sentiu seu corpo inteiro tremer; ela ainda era capaz de sentir a chama que se acendeu em seu interior graças ao calor dos lábios macios de Bianca.

-- Menina, o que foi isso? -- A pergunta de Manu e trouxe Rafaella de volta.

-- Eu não sei. -- Rafaella disse levemente desnorteada, se virando e olhando para Manu com a expressão paralisada.

-- Como não sabe? -- Manu perguntou confusa.

-- Meio que desde ontem nós... Estamos juntas. -- Rafaella falou, olhando para a figura de Bianca, que se afastava enquanto olhares se abaixavam para não cruzar com o dela.

-- Ela escolheu você? -- Manu perguntou retoricamente. -- Uau, parabéns. Você é a primeira garota que ela arruma aqui dentro. Ela sempre renegou todas e eu só não achava que ela fosse heterossexual por causa do meu gaydar.

-- Salada? -- A mulher na frente delas perguntou e Rafaella assentiu.

-- Espere! Você é tipo minha patroa agora? Porque se é a mulher da Andrade e tudo o que a Andrade pede todas fazem, farão isso para você também. -- Manu deduziu. -- Oh céus, eu devo te chamar de senhorita?

-- Você deveria calar a boca desse assunto e irmos comer. -- Rafaella disse rindo, mas viu Manu assentir freneticamente antes de fazer o que ela pediu.

Apesar da conversa que engatou com Manu após isso, a única coisa que sua mente conseguia pensar era: O que Bianca queria com ela mais tarde?

Presa Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora