-- Eu já disse que você tem que se calar. -- Rafaella repreendeu após longos minutos de discussão com sua irmã. -- Depois do que você fez...
-- E o que eu fiz? -- Gabriela indagou irritada e Rafaella riu com escárnio.
-- Não se faça de sonsa, garota. -- Rafaella disse. -- A minha conversa com você eu deixo para depois. Agora vou levar a mamãe.
-- Você não vai, sua idiota!
-- Gabriela, por que está falando assim com a sua irmã? -- Genilda indagou ao voltar já pronta para o local e a garota respirou fundo.
-- Mãe, você não precisa ir com ela. Você está bem! -- Gabriela disse.
-- Não. Ela não está e você sabe disso. -- Rafaella retrucou. -- Qual é a droga do seu problema, Gabriela? Está esperando que o episódio se repita?
A garota então se calou, fitando o chão por segundos intermináveis.
-- Não posso deixar que tire a mamãe de mim. -- Ela disse finalmente em um tom baixo, todavia, desesperado. -- Eu só tenho ela. O papai se foi...
-- Só vou ao médico, querida. Não exagere. -- Genilda disse rindo.
-- Não, mãe. Ela vai te internar. Ela quer te trancafiar num maldito sanatório. -- O sorriso de Genilda morreu ao ouvir a voz firme de sua filha. A mulher piscou confusa e se virou para Rafaella .
-- Não. -- Ela disse. -- Nós só vamos ao médico, não é, querida? -- Genilda perguntou e Rafaella suspirou.
-- Você não devia ter feito isso. -- Rafaella disse irritada para Genilda. -- Mãe, escuta, você precisa ficar lá por um tempo.
-- Não. -- Genilda disse sentindo a irritação a inundar. -- Eu não preciso. -- Falou magoada. -- Não acredito que me apunhalaria pelas costas. -- Ela disse, começando a negar com a cabeça freneticamente conforme seu corpo começava a tremular de raiva. -- São eles. Sempre eles... Esses malditos demônios que querem me ver morta, filha. Eu não sou louca. Não sou... Você sabe, não sabe? -- Ela indagou, fazendo Rafaella assentir.
-- Você só precisa de ajuda, mãe, e está tudo bem isso. Todos nós precisamos em algum momento da vida. -- Rafaella disse, sacando o celular de sua bolsa para chamar uma ambulância.
-- O que está fazendo? -- Gabriela indagou.
-- Concertando novamente as merdas que você faz. -- Replicou.
-- Não sou louca. Não sou. -- Genilda repetiu negando ainda com a cabeça freneticamente. -- Foi só ficar longe de mim que você se transformou em uma cobra, uma falsa que quer me destruir, acabar com a minha vida. -- Genilda disse irritada, elevando o tom de voz. -- Você se aliou com eles para me matar. Sua perdida, infeliz...
Rafaella sabia que aquela não era a sua mãe, era só alguém tentando atingi-la, porém não conseguiria, afinal ela já estava acostumada. Assim que finalizou a ligação ( apesar da tentativa de Gabriela para que ela desligasse ) ela fitou novamente sua mãe.
-- Titia? -- A voz fina vinda do topo da escada fez Rafaella se apavorar. Ela sabia que a qualquer momento Genilda começaria a jogar coisas nela.
Tal pensamento a fez subir as escadas as pressas e pegar Sofia no colo, descendo com ela antes de correr em direção ao primeiro empregado que encontrou pelo caminho. Ela sentia sua mãe correr em seu encalço, mas sequer olhou para trás.
-- Preciso que se tranque no meu carro com ela e só saia de lá quando eu ir avisar. -- Rafaella disse, entregando a garota rapidamente para a mulher e pegando sua chave de seu bolso para logo fazer o mesmo com ela.
-- Está acontecendo de novo, não está? -- A mulher indagou e Rafaella assentiu.
-- Porém essa será a última vez. -- Ela respondeu, correndo na direção contrária de sua sobrinha para livrá-la da ira de sua mãe que crescia conforme ela perdia a noção da realidade.
[...]
Vinte minutos depois, com um pequeno corte acima da sobrancelha devido à algo de vidro que sua mãe havia conseguido acertar nela, Rafaella se via sentada nos degraus da escada principal. Sua mãe acabara de ser levada da pior forma possível: Arrastada como um animal devido à imensa força que criava quando estava naquele estado. Haviam colocado ela em uma camisa de força e se o quintal não fosse tão extenso ela poderia jurar que os vizinhos a teriam ouvido.
-- Feliz? -- Ela indagou para Gabriela ao se levantar. -- Era assim que você queria que ela fosse levada, não é? Pois bem, conseguiu.
-- Eu não queria que a levassem. -- Gabriela disse e Rafaella se aproximou exalando raiva do olhar.
-- Você ficou os malditos últimos meses no Japão, desfrutando da sua vida perfeita enquanto eu tinha que aguentar os surtos. -- Rafaella disse irritada. -- Você não queria que a levassem, mas não era capaz de aguentá-la.
-- Eu a prometi que não seria mais intern...
-- Foda-se! -- Rafaella gritou, assustando a mais nova. -- Era eu que cuidava dela e meu erro foi não ter feito isso anos atrás. -- Umedeceu os lábios. -- Eu era mais nova e mais boba, estava focada em cuidar de vocês, porque adivinha só? Era eu que cuidava na maior parte do tempo. -- Gritou. -- O Rafael morreu, Gabriela. Eu não poderia deixar que alguém mais corresse esse risco.
-- Mas ela piora lá. -- Gabriela disse com os olhos marejados.
-- Eles vão achar um jeito de cuidar dela. -- Ela disse. -- Agora me diz... Era por isso que queria que eu ficasse presa? -- Indagou. -- Por saber que eu a internaria?
-- Óbvio! -- Bianca disse irritada e Rafaella negou com a cabeça.
-- Ela matou o nosso irmão, Gabriela, e se você, mesmo após saber disso, ainda fez isso... -- Disse com amargura. -- Você está pior do que ela. -- Disse e logo apenas olhou com desprezo para a garota, se virando e indo em direção à porta.
-- Se gosta de ser a heroína do mundo então se vire com a Sofia. -- Exclamou irritada. -- Porque eu cansei de bancar a babá e estou sumindo daqui hoje mesmo. -- A mais velha estacou no lugar e se virou para ela.
-- Se cuidar de nossa sobrinha faz você se sentir uma babá, então realmente não deveria estar com ela. -- Rafaella disse. -- Preciso que escreva uma documento e assine alegando isso e que me acompanhe até um cartório, afinal não quero problemas com a justiça e não confio na sua palavra.
-- Eu nunca vou te perdoar por ter tirado a mamãe de mim. -- Ela disse desgostosa.
-- Você mesma fazia isso em cada viagem longa que fazia. Não parecia sentir saudades naquela época. -- Rafaella rebateu com ironia.
-- Vou me arrumar e em um segundo desço. -- Gabriela disse, ignorando a fala de sua irmã.
A maior olhou em volta antes de caminhar até seu carro. Ela deu algumas batidas na janela antes da mulher lá dentro abrir a porta.
-- Se machucou, senhorita. -- A mulher disse ao ver o pequeno corte acima da sobrancelha enquanto Rafaella erguia nos braços sua sobrinha que estava apenas de calcinha.
-- Estou bem, não se preocupe. -- Ela disse, dando um delicado beijo na pele macia do rosto de Sofia.
-- Você veio me dar banho? -- A criança perguntou e Rafaella riu.
-- Precisa tomar banho? -- A maior perguntou e Sofia assentiu.
-- A titia não quis me dar banho hoje e a vovó estava com dor de cabeça. -- Ela se inclinou e sussurrou no ouvido de Rafaella: -- Eu não gosto que outlas pessoas me deem banho. Fico muito envergonhada. -- Rafaella riu e assentiu.
-- O que eu faço com você, hm? -- Indagou em um suspiro. -- Se lembra sobre o que conversamos de você morar comigo? -- A pequena assentiu. -- Você ainda quer?
-- Siiiim. Você me dá todos os banhos. -- Rafaella riu graciosamente daquela fala.
-- Só quer morar comigo pelos banhos? -- Sofia arregalou os olhos e negou com a cabeça.
-- Não é só por isso. É porque eu te amo, tia. -- Aquilo definitivamente derreteu o coração de Rafaella e, de repente, ela se sentiu ansiosa em ter as duas mulheres de sua vida sob o mesmo teto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Presa Por Acaso
FanfictionO que você faria se, por um golpe do destino, você fosse presa mesmo sendo inocente? Rafaella Kalimann não se assustou tanto quando foi mandada ao julgamento, afinal sua família tinha a conta bancária transbordando dinheiro o suficiente para pagar...