Aquilo não ficaria assim.

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-- Hoje é meu dia de ir lavar o banheiro. -- Gizelly reclamou e Rafaella fez uma careta.

-- O meu foi ontem. -- Ela respondeu e Bianca sorriu.

-- O meu não foi semana passada e nem essa. Acho que esqueceram de mim. -- Ela falou e Rafaella olhou desapontada para a semente da fruta em sua mão.

-- Bia, minha maçã acabou. -- Rafaella disse e fitou sua namorada. -- Eu queria outra. -- Rafaella falou e a morena de olhos castanhos ergueu a cabeça para olhar para o lugar aonde deixavam as frutas.

-- Olha que sorte, Rafa. Ainda há frutas. -- Ela disse e Rafaella deitou a cabeça em seu ombro.

-- Busca para mim? -- Ela pediu com a voz manhosa e Bianca riu.

-- Está bem. -- Ela replicou após alguns segundos, se esquivando da maior antes de ir buscar a fruta.

-- Ela ficou frouxa demais, não é certo explorar ela assim, Rafinha. -- Gizelly falou e a morena riu.

-- Não a estou explorando. -- A maior rebateu. -- Eu pedi para ela, ou seja, ela teve a opção de dizer não.

-- Céus, ela está apaixonada. Não te dirá não para essas coisas que te agradam. -- Gizelly falou e Rafaella sorriu.

-- Aqui está. -- A voz de Bianca soou atrás de Rafaella e a maior se virou, pegando a fruta e esperando Bianca se sentar ao seu lado novamente para se inclinar e depositar um beijo manso em seus lábios.

-- Obrigada. -- Ela disse sorrindo. -- Mas você sabe que pode dizer não quando eu te pedir algo, não é? -- Rafaella indagou e Bianca assentiu.

-- Eu sei, mas gosto de te dar todos os sim's possíveis. -- Ela replicou e Rafaella mordeu o lábio inferior.

-- Então... -- Rafaella começou, inclinando-se sutilmente para sussurrar algo no ouvido de Bianca. -- Que tal dizer sim para a ideia de irmos para nossa cela para eu te dar alguns orgasmos, hm? -- Indagou sensualmente, pincelando seu nariz ao longo do pescoço de Bianca. -- Essa noite a gente nem fez nada disso, apenas dormimos.

-- Sua proposta é muito tentadora. -- Bianca disse respirando fundo, ouvindo o riso genuíno da maior.

-- E então? -- Rafaella perguntou mordendo o lábio inferior.

-- Rafaella! -- A voz firme de uma das policiais soou e a menor a olhou instantaneamente.

-- Sim, senhora?

-- Visita para você. -- Ela disse e a maior franziu o cenho.

-- Mas não estamos em horário e nem em dia de visita. -- Ela falou confusa.

-- Vai recebê-la ou não? É a sua advogada. -- A mulher disse sem paciência.

-- Oh. -- Ela falou assentindo. -- Eu já volto, pensa no que eu disse. -- Rafaella falou, se inclinando e dando um selinho em Bianca antes de se levantar e seguir a policial.

Caminharam em silêncio até o lugar, tendo sido algemada no percurso. Quando chegaram lá a advogada voltou a pedir que a soltassem e assim a policial o fez. Rafaella agradeceu com um sorriso, porém a expressão solene no rosto de sua advogada quase lhe trouxe náuseas.

-- Devo admitir que me surpreendi com sua visita inesperada. -- Rafaella falou, se aproximando alguns passos. -- Não se supõe que eu sairia só em alguns meses? -- Mari assentiu. -- Então a que devo a honra de sua visita?

A advogada suspirou e ajeitou os óculos que usava. Ela alisou seu blazer preto e endireitou sua coluna, encarando Rafaella no momento seguinte.

-- Eu não sou a favor de injustiças, senhorita, quero deixar isso claro antes de tudo. -- Rafaella arqueou uma sobrancelha e uma sensação de mal-estar varreu sua paz interior naquele momento.

-- Por que diz isso?

-- Eu fui contratada por sua irmã após sua audiência. -- Ela começou. -- Porém levo meu trabalho à níveis elevados e, por determinada razão, eu fui procurar o advogado que representou a senhorita no tribunal. -- Rafaella assentiu atenta. -- E o que descobri não me atraiu de forma alguma.

-- Por favor, explique-me. -- Rafaella pediu aflita, cruzando os braços.

-- Eu estranhei o fato de um advogado tão bom não ter conseguido resolver uma simples coisa. Seu caso era simples, era apenas localizar a pessoa da farmácia e pronto, não teriam como te prender.

-- O que está sugerindo? -- A advogada umedeceu os lábios e se aproximou um pouco mais.

-- Eu fui procurar a pessoa dessa farmácia e ela tinha desaparecido. Me deixei guiar pelo instinto e segui os rastros do cartão de crédito dessa pessoa, senhorita, e quando a encontrei aleguei que ela poderia ser presa caso se negasse a comparecer no julgamento. -- Falou. -- Claro que eu já tinha provas de sua inocência, porém quis ir à fundo e, bem, a amiga do seu irmão ficou com tanto medo que acabou confessando ter sido comprada para se afastar. -- Rafaella arregalou os olhos em total surpresa.

-- Oh meu Deus! -- Exclamou boquiabierta. -- Quem poderia ter feito isso? -- A advogada suspirou e a fitou.

-- Sua irmã, senhorita. -- Rafaella sentiu de supetão um vazio tão grande que congelou sua alma por um instante. Aquilo não poderia ser real. Por que Gabriela faria algo cruel daquele jeito?

-- Como disse? -- Rafaella indagou e a advogada arrumou seus cabelos com uma expressão apenada em seu rosto.

-- Foi Gabriella.

-- Vo-você... uh, tem certeza? -- Ela questionou e Saad assentiu.

-- Por isso vim lhe procurar. -- Advertiu. -- Eu me demito do posto de sua advogada, pois sou completamente contra esse tipo de ação, a menos que a senhorita que me contrate.

-- Eu... -- Rafaella queria chorar, porém se conteve. -- Não acredito que perdi o natal e ano novo aqui; o aniversário de minha sobrinha... -- Disse indignada.

-- Não costumo cometer negligências em meu trabalho, senhorita, por isso fui a fundo nisso. -- Saad disse e Rafaella assentiu.

-- Eu agradeço, Mari. Eu... vou querer, sim, os seus serviços. -- Ela disse, ainda arrasada demais.

-- Ótimo. Prepare-se então, senhorita. Abrirei um novo pedido de audiência, desta vez por fraude. Garanto que em menos de um mês estará completamente fora daqui e muito bem remunerada pelo descuido tanto do estado como do seu antigo advogado.

-- Sou imensamente grata. -- Rafaella disse, sorrindo fraco. Não podia crer o tipo de monstro que sua irmã se transformara.

-- Qualquer novidade eu volto. Passar bem e tenha um ótimo dia, Rafaella.

-- Você também, Mari. Obrigada de novo. -- A advogada assentiu com um terno sorriso no rosto e se retirou.

O momento onde a policial a algemou, para levá-la de volta ao pátio, mal foi notado por ela. Em sua mente só se passava perguntas e mais perguntas do porquê de sua irmã ter feito aquilo e trazia consigo uma só certeza: Aquilo não ficaria assim.

Presa Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora