Capítulo 4

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MAGGIE BRYER

Estão batendo na porta. Com um gemido frustrado e sem abrir os olhos, rolo de costas na cama e resmungo tanto quanto possível para alguém que ama tanto dormir e tem seu sono interrompido. Foda.

Tateio pelo colchão até minha mesa de cabeceira, quando finalmente encontro meu celular abro minimamente um olho para verificar as horas. Nove da manhã e há alguém querendo derrubar a maldita porta.

Será que as pessoas não têm mais respeito por quem trabalha durante a noite? Jogando as cobertas para o lado salto da caminha e marcho na direção da porta, pronta para cometer um crime. Quando fico na ponta dos pés para conferir o olho mágico levo um susto ao ler Ethan ali.

Ele não costuma aparecer tão cedo e definitivamente não com um sorriso tão brilhante no rosto. Devo estar sonhando, não é possível. Retiro a corrente e destranco a porta para encontrar Ethan na porta com um sorriso enorme e uma caixa de donuts e café nas mãos.

-Bom dia, gata. - Passa por mim entrando no apartamento, fazendo uma pausa rápida para me dar um beijo na testa.

Estranho, no mínimo.

-Eth, o que faz aqui? - Pergunto enquanto fecho a porta, meu sistema ainda está iniciando. Acabei de acordar, vamos me dar um desconto.

-Vim ficar com você, a casa está entediante e aquele tédio parece fatal. - Abre a caixa sobre o balcão e o cheiro maravilhoso de donut me atinge com força. Eth me estende um café e o pego enquanto me aproximo daquela maravilhas recheadas - Desculpe te acordar, baby.

-Você trouxe comida. - Tomo um gole da revigorante bebida quente - Está perdoado. O que faz aqui tão cedo?

-Eu disse que estávamos passando mais tempo juntos. - Um sorriso sedutor aparece em seus lábios - Além disso preciso de sua ajuda.

-Em que?

-Preciso que me ajude a escolher um apartamento novo amanhã. Abby e Lexy marcaram algumas visitas para nós e quero que vá comigo.

-Por que?

-Porque sua opinião conta.

-Ethan.

-Sim, querida?

-Você não está tentando fazer o que disse no outro dia, não é?

-Seja mais específica.

-Você não está tentando me seduzir, não é?

-Seria um problema? - Pergunta com ceticismo e um leve toque de deboche.

-Claro que seria! - Pego uma rosquinha e faço meu caminho até o sofá, dando uma mordida generosa naquele pedaço de paraíso na tentativa de acalmar os nervos - Somos amigos, não interesse amoroso um do outro.

-Você mente muito mal.

Todo o meu corpo tensiona e Ethan se desencosta do balcão enquanto caminha calmamente até o sofá, ele parece um predador aproximando-se cautelosamente de sua presa. Ethan não pode estar falando sério, eu tenho certeza que não deixei transparecer meus sentimentos por ele. Não quero arriscar tudo e perder sua amizade, também não posso sacrificar meu coração e ficar aqui assistindo-o levar sua vida de astro do rock.

-Não minto, não. - Ele se senta ao meu lado e tento respirar fundo discretamente, tentando controlar minhas emoções - Você sabe que isso não pode acontecer, Eth.

-Estamos acima disso, gata. - Coloca seu braço sobre o encosto do sofá e se inclina perigosamente em minha direção. Céus, eu nem escovei meus dentes ainda. Por isso quanto mais ele se inclina mais eu me reclino - Acabará caindo dessa forma, Maggie.

-Então pare de se aproximar. - Resmungo tomando mais um grande gole de café.

-Por que não posso te seduzir?

-Porque é uma ideia insana e você não pode garantir que estamos acima de alguma coisa, não acho que sentimentos pode ser controláveis.

-Eu já disse, gata, estou te ajudando a esquecer seu interesse amoroso.

-Você não pode fazer isso.

-Sim, eu posso.

-Não pode. - Por o interesse amoroso é você, idiota - Nós somos amigos, Eth.

-Justamente, estou te ajudando como um amigo. - Eu poderia estar pensando melhor, ter um bom raciocínio sobre a situação, mas estou praticamente deitada no sofá e Ethan está praticamente deitando em cima de mim. Socorro.

-Eth, afaste-se agora.

-Qual é, Maggie? Eu quero te ajudar.

-Eu não acho que minha situação possa ser ajudada. - Volto a me sentar e Ethan se acomoda como um ser humano civilizado, ou quase - Eu aprecio sua vontade de me ajudar, mas eu não há nada que você possa fazer sobre isso.

-Tudo bem. - Solta um suspiro exasperado e bebe seu próprio café - Se é isso que você quer.

-Sim, é o que eu quero.

Isso pareceu sossegá-lo. Colocamos uma série qualquer para assistirmos e terminamos de comer todos os donuts, tomei um banho rápido, meu sistema mental reiniciou com sucesso e agora finalmente me sinto um ser humano de verdade.

Eu já estou trabalhando muito em lutar contra meus sentimentos, é claro que estar deitada no peito dele enquanto assistimos The Office não ajuda muito. Talvez eu seja uma masoquista que gosta de se torturar com o que não pode ter? É uma teoria bem plausível, vamos concordar.

Ethan está sempre comentando sobre eu me perder em minha própria cabeça por muito tempo, o que é um bom equilíbrio para nós se consideramos que Ethan costuma falar demais. Talvez seja minha culpa, quero dizer, eu não tinha realmente a intenção de ser uma amiga tão próxima dele, simplesmente aconteceu e era previsível que em algum momento eu acabaria apaixonadinha por ele.

Alto, lindo, loiro, nórdico, baterista, roqueiro, engraçado, atencioso, misterioso. Quem, em sã consciência de que se sente atraída por bad boys, deixaria esse homem passar despercebido? Ethan é do tipo de pessoa que faz tantas piadas possíveis para encobrir seus problemas do mundo. Meu palpite é que tenha relação com seu passado, ele não fala muito sobre, mas suponho que seja algo delicado.

Não que eu seja o tipo de pessoa que insiste no assunto - por mais que minha curiosidade me corra por dentro -, prefiro respeitar seu espaço e pensar que ele me contará quando estivermos pronto. Ou acabarei indo para a Inglaterra e começarei a surtar sobre o assunto, criarei alguma desculpa e me afastarei com a desculpa de curar meu coração desses sentimentos indevidos. Ao mesmo tempo não posso confiar que Ethan vá seguir todo o meu planejamento porque o homem é essencialmente teimoso e apronta como uma criança levada.

-Eth?

-Sim? - Movimenta sua mão por minhas costas, sobe e desce, sobe e desce, sobe e desce, estou quase dormindo novamente.

-Você parou mesmo com a ideia de sedução, certo?

-Tudo o que você quiser, gata.

Eu não acreditei em sua resposta nem por um mísero segundo, mas sem querer insistir na discussão, deitei outra vez em seu peito e passamos o dia maratonando série, ao menos até a hora em que precisei me arrumar para o trabalho e Eth foi embora.

O Baterista - A5 livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora