ETHAN STONE
-Mas se a espada era mágica, então porque outro feiticeiro não desencantou?
-Estamos conversando sobre a lenda ou sobre o filme?
-Eu não sei, só me parece muito conveniente que apenas uma única pessoa no planeta poderia retirar a espada da pedra. O rei Arthur não tinha um primo distante?
-Todo esse debate é para fugir do assunto sobre Maggie?
-Sim.
-Não quer mesmo falar sobre isso?
-Não.
-Mas vamos falar mesmo assim.
-Então por que me perguntou?
-Para te irritar! - Um sorriso convencido cresce em seu rosto - Agora deixe-me ver se entendi, Maggie tem planos de sair do país porque se apaixonou por você e não deveria ter feito isso, ao mesmo tempo ela disse que não há nada que a prenda aqui e que ir para Londres seria uma oportunidade de recomeço?
-Exato.
-Devemos chorar por você ou saltar de felicidade por ela?
-Ela está se mudando, Vince. A última coisa que faremos é saltar de felicidade.
-Mas eu não quero chorar. - Vince passa a mão pelos cabelos cortados, antes seus cabelos chegavam a altura das costelas, agora está mais para estilo Elvis - Já estou entediado o bastante aqui, não preciso de choro para completar o drama.
-Como é vida de presidiário voluntário?
-Melhor agora. Já estou avisado que a parte mais difícil será quando eu sair daqui.
-Você tem a todos nós, sabe disso.
-Ter apoio é sempre bom, mas essa é uma batalha mais interna.
-É bom acordar sóbrio depois de tanto tempo? Não querendo ser indelicado, mas você estava um pé no saco.
-O pior lado é que acordo ciente das merdas que fiz e que preciso arcar com as consciências, mas vou sobreviver. Tenho muitos pedidos de desculpas para fazer quando sair daqui.
-Não se preocupe, pode contar com minhas visitas nessa prisão.
-É uma clínica, não uma prisão.
-Chame do que quiser. - Movo a mão com desleixo para ele - Eles o obrigam a comer comida saudável também?
-Você não sabe o que eu daria para comer um hambúrguer. - Encosta a cabeça na parede, fecha os olhos e solta um suspiro cansado - Preciso urgente de comida gordurosa.
-Sua pena logo estará cumprida e te levarei a uma lanchonete.
-Obrigado, cara. Agora voltando a falar sobre o desastre da sua vida amorosa...
-Eu não chamaria de desastre.
-É um desastre, não vamos fingir o contrário.
-Okay, talvez seja um meio desastre.
-Você se declarou e tudo.
-E você está em uma clínica de reabilitação, quem é o fodido aqui.
Vice abre um grande sorriso debochado para mim, mesmo que o alvo de seu deboche seja eu, estou feliz de vê-lo com o rosto mais corado, ele até ganhou peso. Parece quase um ser humano de novo.
-Você.
-Preciso rever as pessoas a quem chamo de amigos. - Reviro os olhos de brincadeira e Vince ri - Mesmo para um presidiário voluntário, você parece muito bem.
-Eu me sinto bem, ainda não sei explicar a sensação, só me sinto diferente e engordei um pouco também.
-É bom não ver suas costelas tão detalhadamente. - Vince joga uma almofada na minha cara e rimos juntos - É sério Vince, apesar das brincadeiras estou orgulhoso de você.
-Mais um elogio e marcarei uma consulta com a psicóloga para você.
-Não seja exagerado, posso voltar a te ofender sem muito esforço.
-Deixei de ser o garoto problema para ser o presidiário voluntário?
-Não, problem boy soa muito melhor.
-Acha que ela vai mesmo se mudar? Não sou muito bom com questões de família, mas pelo que me lembro Maggie não é próxima do pai, certo?
-O que a prenderia aqui? Nada, ela mesma disse isso.
-Ela gosta de você.
-Assim como pode acabar gostando de um cara melhor. Não posso dar a segurança de um relacionamento como o Jake, não sou um good boy. Esse não é um clichê romântico para fazer Maggie abandonar todos os seus planos por um romance, é impensável de se fazer.
-Então ficará sentado assistindo Maggie se mudar para o outro lado do atlântico? Que poético, acho que você é nosso novo menino sofredor.
-Odeio concordar com você, mas terei que aceitar o título.
-E o que pretende fazer agora?
-Não sei, talvez pegar a estrada. Dirigir por aí. Não quero ficar em LA e impor minha presença, sabe? Pedi a Drew para que me mantenha informado e volto no dia que Maggie viajar para me despedir. Não quero que minha presença por perto a faça mudar de opinião.
-Acho que nunca te vi agir de modo tão racional. Ainda não decidi se te parabenizo ou me preocupo mais.
-Não precisa se preocupar, ficarei bem e ela... Eu não posso responder por ela.
-Vai dirigir por aí sem rumo?
-Também não sei te responder.
-Você está mesmo fodido.
-Muito.
-Você poderia ter me trago comida escondido.
-E sua terapeuta ter mais um motivo para me odiar? Não, obrigado. Seu tempo recluso está acabando, logo o problem boy estará de volta a sociedade.
-Sem causar mais problemas, eu espero.
-Não se preocupe, se tentar fazer alguma merda eu posso te socar.
-Nossa! Me sinto reconfortado. O que seria de mim sem a sua amizade?
-Pergunto-me a mesma coisa, cara. Sorte a sua ter me conhecido.
-Ou um azar tremendo, vai da percepção de cada um.
-Que comentário mais venenoso, Vince. - Finjo-me de ofendido - Estou decepcionado com você.
-Estou com abstinência de comida gordurosa, sabe como sinto falta de uma pizza de queijo?
-Sabe como me sinto ao você tentar que eu infrinja as regras? Logo eu? Eu me orgulho muito de sempre ter sido um bom moço!
-O que? Acho que devo estar alucinando! Você disse que sempre foi um bom moço?
-Na minha cabeça, sim. Julgue-me, baby.
-Você é um idiota.
-Aprendi contigo. - Respondo com um grande sorriso.
O restante da visita correu muito bem, rimos e brincamos bastante. É bom ter o velho Vince de volta, mesmo que ele tenha se metido em confusões muito cedo e toda a merda tenha se potencializado quando ganhamos fama, ele está se recuperando muito bem. Vê-lo fazendo anotações em seu caderno foi uma surpresa grande e como resposta recebi "estou entediado aqui dentro". O homem está entediado e cria músicas, o mundo pode ser mais injusto?
Saindo da clínica envio uma mensagem de texto para Drew avisando que estou vivo antes de desligar o celular. É bom poder sair para pensar sem toda a responsabilidade e compromissos de agenda da banda, tendo em vista que diminuímos nossa atividade quando Vince se internou, dividindo nosso tempo em eventuais entrevistas, participações em podcasts ou ocasionais aparições em programas. Somos uma banda, um conjunto, não podemos sair desmembrados por aí. Precisamos que Vince esteja recuperado para voltarmos as atividades por completo. Subo na moto e sinto-me pronto para sair. Hora de ordenar os pensamentos e dar à Maggie o espaço que ela precisa.
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O Baterista - A5 livro 2
RomanceEssa história é de minha autoria, ou seja, DIREITOS AUTORAIS. É sempre bom lembrar que plágio é CRIME! Todos gostamos daquele famoso clichê: Amor ou Amizade. Quem sabe agora não teremos finalmente uma passagem por Vegas? Tudo é possível, baby! Maggi...