MAGGIE BRYER
-Nesse site outra vez?
-Sim, ainda não estou certa - Forço um sorriso e minha mãe lança aquele olhar conhecedor que todas as mães têm.
-Pensei que já havia se decidido.
-Eu também pensei, mas agora não tenho certeza.
Me viro na cadeira para olhá-la melhor, é como se eu estivesse me olhando no espelho daqui a alguns anos, com exceção de seus cabelos longos e olhos castanhos da mesma cor. Uma das minhas grandes preocupações em relação à mudança era ela, sei que me apoiaria em qualquer coisa - afinal, sempre fomos apenas nós duas -, mas desconfio que no fundo ela não esteja confortável com tudo isso. Meu pai simplesmente retornou para a Inglaterra e nunca fez um grande esforço para participar de nossas vidas, tive a delicadeza de não questionar muito sobre ele ao longo do tempo, mesmo que em alguns dias eu realmente sentisse falta de uma presença masculina em minha vida.
Rob mudou o cenário, nunca vi minha mãe tão feliz antes do grande urso entrar em nossas vidas. Claro que eu já estava velha demais para considerá-lo uma figura paterna, mas ver minha mãe realizada rendeu muitos pontos para Rob comigo. Eles estão felizes juntos e é isso que importa para mim.
-Ethan?
-Já faz três dias. Tudo o que eu recebo são pequenas atualizações pelos meninos ou por Lexy.
-E como você tem lidado com isso? - Cruza os braços e se encosta na mesa do escritório, seus olhos focados nos meus estudando minha alma. Mães.
-Mal, para todos os efeitos.
-Isso explica porque está no bar durante a sua noite de folga.
-Eu só queria conversar com ele, esclarecer as coisas.
-Se as coisas não estão claras nem mesmo para você, como pretende esclarecer com ele, querida?
-Ele só não precisava sumir assim.
-Concordo, mas entendo a atitude dele. Ethan nem está aqui e você está indecisa, se ele estivesse o que teria feito?
-Não sei. O que a senhora faria?
-Querida, vá para Londres e passe alguns dias por lá. É a oportunidade perfeita para se aproximar do seu pai e ter outras experiências.
-Mas Ethan...
-O que é mais importante para você: Ethan ou a doceria que sempre sonhou? Não estou dizendo que vocês nunca ficarão juntos, mas criar uma perspectiva das coisas pode ser bom.
-A senhora se incomoda que eu esteja indo ver meu pai?
-Acho que sua curiosidade é normal, vê-lo é um direito seu e não posso intervir nisso. Você não é mais uma criança Maggie, é uma adulta e sabe o que está fazendo.
-Eu não quero que fique chateada comigo.
-Meu amor. - Seus braços me circulam em um abraço apertado e de boa vontade encosto minha cabeça em seu peito, escutando as batidas ritmadas de seu coração - Eu e seu pai tivemos um romance turbulento, tivemos bons momentos, mas não éramos a pessoa certa um para o outro. Passei momentos difíceis com ele, muita raiva confesso, mas faria tudo de novo porque tive você. Preciso admitir que ele me deu minha maior preciosidade e por mais que não morramos de amores um pelo outro, você tem todo o direito de conhecê-lo.
-Posso estar fazendo uma besteira grande, não é?
-Sim, mas acredito que os erros fazem parte da aprendizagem. - Se afasta com um sorriso tranquilizador, apontando para a tela do computador - Mantenha seu plano, vá para Londres.
-Querida, pode me ajudar aqui? - Rob coloca a cabeça para dentro do escritório e seu rosto esboça surpresa ao meu detectar ali - Posso saber o que a senhorita está fazendo aqui na noite de folga, Maggie?
-Usando seu computador sem permissão. - Rob abre um sorriso brilhante para a minha resposta, os olhos ostentando seu agrado com a minha resposta.
-Cobrarei taxas sobre o uso.
-Coloque na conta do meu padrasto.
-Anotado!
-Tudo bem. - Minha mãe nos interrompe, fazendo seu caminho até a porta - Antes de qualquer coisa Maggie, faça o que achar certo.
-Sim, senhora.
Volto para o computador e encaro o site aberto das passagens de avião. Ethan disse que apoiaria minha mudança e certamente ele tem sido um dos grandes incentivadores para que eu abra minha loja, preciso dar-lhe esse crédito. Enquanto ele segue desaparecido por aí e eu o xingava de todos os nomes conhecidos percebi o nível de loucura do que estou fazendo. Vou atravessar o atlântico para um lugar praticamente desconhecido querendo recomeçar minha vida sem a mínima noção do que estou fazendo. Fui a Londres algumas vezes durante minha infância, a experiência como turista foi realmente muito boa, mas viver ali, tornar-me uma moradora do lugar é diferente.
Vou primeiro conhecer o ambiente, estudar como tudo funciona e descobrir se posso realizar a mudança ou não. Pior que deixar minha mãe e todos a quem amo nos Estados Unidos, seria retornar desolada porque fui morar em outro país e não me adaptei. Não é algo incomum, pelo que pude encontrar na internet. Há motivos e motivos e viver longe das pessoas, dos costumes, de tudo aquilo que te é familiar pode ser difícil.
Optando pela experiência clico em "comprar", sem dar às minhas inseguranças tempo suficiente para me enlouquecer.Quando tudo está resolvido tenho dois dias na cidade, dois dias para encontrar Ethan e conversar antes de partir. Não preciso exatamente dizer à ele que estou indo temporariamente, certo?
Quando se tem "sentimentos proibidos" por alguém ao qual se sabe que as chances são pequenas, não estamos preparados para que os sentimentos sejam correspondidos e quando Ethan disse que me ama foi o maior plot twist¹ da minha vida.
Claro que nas minhas fantasias a declaração acontecia de maneira bem diferente, nada parecido com um soco no estômago acompanhado por toda a carga de um passado difícil. Eu também não esperava que ele simplesmente aceitasse que não é bom o bastante e me permitisse cogitar um futuro com outra pessoa. Os filmes de romance poderiam nos estragar mais para a realidade da vida?
Pegando meu celular digito rapidamente uma mensagem de texto para Ethan ver quando ligar seu telefone, simples e direto, avisando que estou indo para Londres em dois dias e quero vê-lo antes de ir. Envio a mensagem e pego minhas coisas, pronta para voltar para minha casa e entrar em mais uma crise existencial.
*****
Plot twist¹ - momento de mudança radical na direção esperada ou prevista da narrativa de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa. É uma prática muito usada para manter o interesse do público na obra, para normalmente surpreendê-los com uma revelação surpresa.
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O Baterista - A5 livro 2
RomanceEssa história é de minha autoria, ou seja, DIREITOS AUTORAIS. É sempre bom lembrar que plágio é CRIME! Todos gostamos daquele famoso clichê: Amor ou Amizade. Quem sabe agora não teremos finalmente uma passagem por Vegas? Tudo é possível, baby! Maggi...