Capítulo 29

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É maratona que você quer? É maratona que você vai ter! <3

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MAGGIE BRYER

O carro percorre as ruas de Los Angeles em alta velocidade. Phoebe continua chacoalhando a arma em sua mão e me espremo cada vez mais contra meu banco; ela não parece ser o tipo de pessoa que tem alguma habilidade com projéteis e segurar o resolver com tanto desleixo me deixa aterrorizada.

-Vamos para o Oregon. Podemos mantê-la na cabana até toda a merda ser feita. - O homem fala pela primeira vez, sua voz é grossa e baixa, tudo nele grita ser perigoso e um arrepio percorre minha coluna.

-Podemos ficar em um motel*, é mais perto para resolvermos tudo.

Para aumentar o meu terror, o homem estende a mão e fecha os dedos no cabelo de Phoebe, trazendo-a para perto de si. Isso deve ter doído muito.

-Se ficarmos por aqui a polícia terá tempo demais para nos achar. Vamos para a cabana nas montanhas, sua cadela burra do caralho. Eu quero o meu dinheiro e não vou ser preso de novo. - Solta os cabelos de Phoebe, empurrando-a para seu banco novamente.

Um clarão brilha dentro do carro e some rapidamente, outro surge pouco tempo depois e sem entender nada tento me esticar para olhar pelo vidro, mas Phoebe aponta o revólver para mim novamente e ela mesma encara o vidro.

-Merda, merda, merda! Os paparazzi!

Os flashes se intensificavam e Phoebe se acomoda em seu banco novamente, seu namorado pragueja e acelera o veículo tentando despistá-los. Sem poder fazer muita coisa agora puxo o cinto de segurança colocando-o. Na velocidade em que estamos basta poucos segundos para uma tragédia.

Uma moto aparece na minha janela, o piloto se concentra na estrada para acompanhar a velocidade do veículo e o garupa mantém uma câmera enorme em minha direção, o flash me cega por alguns segundos. Não sei ao certo quantos sãos, mas uma segunda moto aparecer na lateral oposta do carro, estamos praticamente cercados quando o namorado de Phoebe joga o carro contra as motos.

Os paparazzi conseguem desviar de última hora e o motorista criminoso dispara pelas ruas, mas os fotógrafos não desistem e continuam a nos perseguir. Em geral, quando ocorre um sequestro, espera-se que a perseguição ocorra com a polícia, não com pessoa segurando câmeras e disparando flashes de maneira alucinante.

Será que nenhuma dessas pessoas ligou para a polícia? Ninguém notificou as autoridades que estou sendo mantida contra a minha vontade e que estes dois estão armados? São pessoas perigosas, instáveis e gananciosas.

Eu não quero ir para uma cabana nas montanhas. Eu quero abraçar minha mãe, telefonar para o meu pai e ficar com Ethan. Quando finalmente estou decidida a abrir minha loja isso me acontece. Seria um tremendo azar ou a vida brincando com a minha cara? Não estou pronta para morrer e controlar meu desespero parece impossível enquanto Phoebe continua a balançar essa arma.

Os paparazzi se aproximam outra vez, seus flashes disparando para dentro do veículo e cegando todos nós novamente. O homem perde o controle e o carro começa a se descontrolar pela pista, os flashes continuam sendo lançados em nossa direção. Tudo parece tão confuso, com apenas pequenos lances de imagens que consigo capturar.

Sinto o impacto da batida, sou jogada para frente e minha cabeça bate em alguma coisa causando uma dor terrível antes que eu seja puxada para trás pelo cinto de segurança. Mesmo na área do cinto começa uma pequena ardência, meu braço parece não estar em seu melhor momento também.

Sinto-me ainda mais desorientada, estou tonta e um pouco enjoada também. Escuto o som de pneus derrapando no asfalto como em uma parada veloz, há sirenes ao longe também e mais uma vez tento mover minha mão procurando por uma maçaneta, apenas para nada ser encontrado.

Mais flashes iluminam o veículo e finalmente percebo que o estrago foi muito grande na parte frontal do carro, chamo por socorro e tudo que recebo em troca são mais flashes. As sirenes estão mais altas e luto para me manter acordada, mas se repente sinto um cansaço tão grande. Não há como eu sair daqui, não consigo ver meus sequestradores em meio ao caos de ferragens, vidro e... concreto? Aquilo poderia ser facilmente uma coluna de sustentação.

Sem forças para me mover, fecho meus olhos e imploro aos céus que me enviem ajuda. Posso não ter sido a filha perfeita ou a amiga exemplar, tive minhas falhas como qualquer outro ser humano, porém não acredito que minha hora tenha chegado. Quem lembrará minha mãe de tomar seus remédios nas devidas horas? Rob é tão desligado quanto ela. Acabei de melhorar meu relacionamento com meu pai, como posso perder seu casamento com Josie? Ainda tenho que apresentá-la aos meninos da banda.

Há Ethan também, seu sorriso fácil e convencido, seu olhar sarcástico com uma leve pitada de deboche. O modo como ele está constantemente passando as mãos por seus cabelos cor de ouro e sempre com as mãos em movimento, batendo as palmas contra todo e qualquer objeto para conseguir tirar alguma melodia dali. Ele é um baterista nato, uma estrela do rock e o melhor companheiro que alguém poderia ter.

Eu não deveria estar pensando nisso agora, deveria estar lutando pela minha vida e tentando sair daqui de qualquer maneira. O problema em toda essa cena de heroísmo e autossuficiência é que meu cérebro continua muito bem e o meu corpo não responde. Parece que tenho corrido por dias sem uma única pausa para descansar. Meu corpo só deseja a minha cama e uma longa noite de sono para se recuperar.

No momento mais inoportuno possível um filme começa a ser exibido na minha cabeça, sempre pensei que esse tipo de coisa só acontecesse na ficção, aparentemente eu estava muito errada e basta um momento de incerteza sobre o próprio futuro para você rever todos os melhores momentos da sua vida. O grande sorriso da sua mãe, o olhar carinhoso do seu padrasto, a expressão de pânico do seu pai quando ele te olhou como se você fosse uma garotinha mesmo já sendo uma mulher adulta, o abraço caloroso da sua madrasta, os momentos com a banda. Seria engraçado se não fosse tão irônico que uma simples barista tem tanta intimidade com uma banda de rock famosa e estranhamente ama o seu baterista.

Não há como não amar Ethan Stone e toda a sua loucura. Sim, eu o amo muito e para o aumento da esperança em meu peito a porta traseira do carro foi aberta por um cara usando o uniforme dos bombeiros.

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Motel* - Lembrando que nos EUA, motel é apenas um hotel mais barato, conhecido por estar geralmente localizado em beira de estrada. Nada relacionado ao cunho sexual que há no Brasil.

O Baterista - A5 livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora