Capítulo 2

121 7 1
                                    

- POV Sophia Parker (7 meses atrás Vale do Silício, CA) –

"Queria que as coisas tivessem sido diferentes" – ele diz em uma voz baixa, quase falhando no fim da frase. É, bem, ele não tinha a mínima ideia.

"isso foi sua culpa e você sabe" – eu solto as palavras amargamente. Eu não pretendia dize-las nesse tom, mas não consegui controlar.

"não faz isso" – ele implora. Os seus olhos azuis claros cheios de uma dor diferente da dor esmagadora que eu estava sentindo.

"fazer o que?"

"falar como seu fosse o único a culpar por isso tudo" – eu olho de volta para ele, feliz que os advogados não estavam mais naquela sala de reunião desse escritório estúpido. Como ele pode dizer algo assim depois de tudo que passamos, depois de tudo que eu descobri?!

" como eu tenho culpa se foi você quem me traiu? Fui eu que você olhava nos olhos e mentia todos os dias por malditos dois meses. Você arruinou tudo! Você arruinou minha vida!" – eu grito a última parte não dando a mínima se alguém poderia escutar. Eu precisava tirar tudo do meu peito. Depois daqui ele iria para os braços dela e dizer o quanto tinha pena da pobre garotinha que teve seu coração partido e terá uma vida toda com ela. Quando eu ir embora, vai ser eu e aquela casa enorme que nunca mais será meu lar de novo.

"me desculpa... eu... eu nunca quis..." – os olhos dele estão cheios de lágrimas. Eu tenho vontade de rir. Esse filho da puta...

"sabe... pela primeira vez eu estou feliz que nunca nem pesamos em ter filhos" – eu olho em seus olhos 

"eu odiaria arruinar sua imagem pra eles. Contar a eles que o papai, quem eles pensaram que amava tanto a mamãe, é nada mais que a porra de um covarde e traidor que não tem o mínimo de consideração pela mulher com quem foi casado nos últimos dez anos" – eu lhe dou um último olhar antes de virar as costas e sair do seu escritório. Meu peito doía como inferno e tudo que eu queria era deitar com meu hubby enquanto sentia ele me beijar até que a dor fosse um sussurro esquecido dentro de mim. Queria que ele me dissesse que tudo iria ficar bem. Que tudo sempre iria ficar bem

-Dias Atuais (São Francisco, CA) –

Eu ouvia a agitação lá fora conforme a equipe se preparava para começar mais um dia cheio de filmagens. Uma das maquiadoras com quem trabalhei nos dois primeiros filmes da sequência, estava aplicando as camadas de sombra em meus olhos.
nesse trabalho eu interpretava uma bad girl, uma metade mocinha, metade vilã. O closet dela para mim era a melhor parte. Eu tinha autonomia para escolher o que vestir contanto que fosse sob as recomendações dos produtores e o tipo de cena que eu estava gravando.
interpreto minha personagem, Clara Brody por quatro anos agora. Ela me rendeu dois globos de ouro por atriz em um papel principal e por melhor personagem feminina em um filme de ação. Amava os aspectos da personalidade dela. Ela era linda, forte, determinada, sempre corria atrás do que queria e tinha homens e mais homens aos seus pés que frequentemente eram envoltos por um Louboutin. Sempre gostei de pensar que interpreto ela tão bem porque sou bem parecida com Clara...
Ou pelo menos, pensava isso até alguns meses atrás.
Quando todo o desastre aconteceu e eu tenho a plena certeza de que Clara nunca deixaria algo como isso sair impune.
Ah, claro que não.
Ela daria uma surra no bastardo, isso sim.
Quando Yrene me diz para abrir os olhos eu encaro meu reflexo no espelho.
Que droga, eu era linda!
E não era só pela maquiagem. Eu tinha um corpo que quando me olhava no espelho ficava feliz com o que via. Muitos dizem que não sou a pessoa mais complicado do mundo de se lidar com, então...
O que diabos tem de errado?!
E por que eu estou perdendo meu tempo pensando nisso, quando eu na verdade deveria estar focando nas minhas falas e em entrar para o personagem?!

"você está liberada, gata, pode trocar de roupa e eles te esperam no set em 10 minutos" – dou-lhe apenas um aceno com a cabeça e ela sai do trailer para me deixar trocar de roupa.
essa seria uma cena de ação. Estaríamos em uma festa disfarçados que acabaria em um tiroteio. Minhas opções todas eram maravilhosas, mas no final opto pelo vestido preto brilhante com um corte no meio coberto apenas por um tule transparente. 
Mais uma vez antes de sair eu me olho no espelho que refletia a mulher que eu deveria ser a todo instante da minha vida e me sentia culpada por não ser.
A melhor coisa é que nem com tudo que me aconteceu nesses últimos meses, no último ano... eu não tinha perdido meu talento ou minha credibilidade de ser uma das melhores atrizes que esse mundo já viu.
Disso, eu era extremamente orgulhosa. 

Once Again (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora