Capítulo 14

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Ah, aquela sensação...
Eu estava no bendito céu com aquela sensação, nada se comparava, nada nunca chegaria perto do que acontecia dentro de mim quando nos beijávamos daquele jeito. Isso sempre fora algo de que me orgulhava muito no nosso casamento. Essa paixão com que nos beijávamos as vezes, nunca se foi nem com quase uma década de casamento.
E aqui, agora, depois de ambos passarmos por tanta merda, de andarmos pelo inferno por esses meses separados... nem depois de tudo isso o fogo, a paixão, o amor foi embora.
Suas mãos e seus dedos passando pelo meu cabelo e acariciando minha nuca enquanto dava toda atenção a minha boca. Minha pele estava completamente arrepiada e não tinha nada a ver com a brisa que soprava mexendo as ondas dos meus cabelos.
Levo minhas mãos até seu rosto e acaricio de leve com as pontas das unhas. Uma de suas mãos estava agora mais embaixo do meu quadril e por isso deixei escapar uma pequena risada entre o beijo

"se soubesse que ganharia isso por ser honesto teria dito antes" – ele sussurra antes de retomar o beijo, dessa vez com mais pegada e mais vontade que antes.
Meu corpo toma vontade própria quando subo em seu colo ajeitando uma perna de cada lado e pressiono nossos corpos para ficarem ainda mais colados. Aquilo estava tomando conta de todo meu ser, eu estava entregue de corpo e alma...
Mas ainda não podíamos dar esse passo.
Não agora.
Afasto nossos lábios milimetricamente ainda mantendo nossas testas coladas uma na outra. Nossas respirações batiam nos nossos rostos e estavam completamente desreguladas

"ainda não podemos ir até lá" – sussurro contra aqueles lábios rosados tão beijáveis

"então acho melhor se comportar... sabe como é meu controle quando está perto" – dou uma risada debaixo do meu folego. Devagar eu saio do seu colo e volto ao meu lugar ao seu lado, limpo a garganta e passo as mãos pelos meus fios de cabelo arrumando um pouco a bagunça que seus dedos tinham feito.
Ficamos em silencio por uns segundos até que eu explodi numa gargalhada que não dava a muito tempo. O som chamou seus olhos para o meu rosto e eu me derreti diante do que brilhou naquelas íris azuis.

"a gente parece dois adolescentes com tesão" – ele também solta uma gargalhada alta e contagiante.
Mais alguns segundos de um silencio confortável e ele se vira para mim

"por que mesmo que nunca quisemos ter filhos?" – mordi o lábio ainda tendo um sorriso fraco nos lábios

"porque somos dois viciados em trabalho e eu acho que eu seria uma mãe horrível" – minhas palavras foram levadas pelo vento

"por qual motivo acha que seria uma mãe horrível?" – não tinha julgamento em sua voz assim como nunca teve nas vezes raras em que tocamos no assunto.

"eu exijo demais de mim mesma e dos que estão a minha volta. Eu quero que eles se esforcem tanto quanto eu, sou muito perfeccionista, e... bem estabanada" – ele solta uma risada fraca e curta, fica em silencio por uns dez segundos antes de falar de novo

"bom... eu acho que seria uma mãe incrível" – sorrio agradecida. Uma parte estranha de mim amava que ele tinha dito aquilo e tinha sido sincero

"as vezes me culpo um pouco de ter tirado isso de você" – eu nunca tinha dito isso em voz alta. Nunca tivera coragem para admitir para ninguém. Muito menos a ele.

"não... não se culpe, nunca. Eu também nunca tive interesse e quando você disse que não era algo que queria, o assunto morreu ali para mim" – eu gostava disso nele. desse modo que ele colocava minhas necessidades e vontades em grande consideração antes de tomar as próprias decisões e nesse caso, pensar de verdade em uma possibilidade que me afetaria grandemente.

"já parou para pensar se as coisas teriam sido diferentes se tivéssemos uma criança para colocar em perspectiva?" – ele apenas olhar para as estrelas quando responde baixo

"já sim... mais do que gostaria na verdade" – então vira a cabeça para mim, os olhos azuis brilhando de um jeito que nunca havia visto. E eu conhecia bem meu ex marido para saber que lá no fundo, mesmo que nunca tivesse me mostrado... ele queria ter tido um bebe comigo.
Me deixo viajar nas possibilidades de uma vida que não aconteceu e bebes que não existem.
Sorrio com a imagem de uma garotinha dos olhos azuis e os cabelos tão negros quanto os meus.
Ou do garotinho aloirado de olhos verdes claros... correndo, brincando, rindo, pulando, me chamando de mamãe.

"como de um amor como nosso nunca saiu nada?" – pergunto tão baixo quanto sua resposta tinha soado.

"escolhemos não deixar acontecer..." – ele diz dando de ombros – "e quem sabe... talvez se tudo entre nós der certo e eu não estiver velho demais para andar por aí com um bebe no colo, podemos pensar em ter um filho" – meu estomago se aperta em expectativa. Mas apesar de a possibilidade quietamente me animar... por algum medo me segurando, não me permito pensar ainda tão longe.

-POV Alexander Blackwell –

"como foi seu dia?" – pergunto enquanto tirava o relógio do pulso

"caótico" – ela diz soltando um suspiro audível mesmo pelo telefone. Tinha acabado de chegar do trabalho e liguei pra ela exatamente como sempre fiz no ano que namoramos. É algo que quis resgatar, nunca conseguia falar com ninguém sobre meu dia, principalmente com alguém que entendia bem o que eu fazia. E era ótimo tirar tudo de mim e colocar para fora todos os problemas e as coisas que deram certo também.
Ela fazia o mesmo. Sempre gostou de me contar tudo que fazia no set ou nas reuniões com seu agente, falava sobre os roteiros e os scripts que chegavam para ela e eu amava ouvi-la animada sobre algum certo projeto que era especial para ela de alguma maneira

"os investidores de Londres me ligaram hoje, querem marcar de nós irmos para Inglaterra" – poderia até imaginar sua expressão cansada se iluminando depois de ouvir isso. Um lugar que ela amava mais depois da Itália era Inglaterra, mais especificamente o campo da Inglaterra onde sempre falamos de comprar uma casa para ser nosso segundo refúgio além da fazenda dos meus pais na Itália

"não me coloca em tentação desse jeito" – sua voz era risonha e claramente animada com a possibilidade

"lembra que a gente falava sempre de comprar uma casa de campo?" – ouço sua risadinha sonhadora

"envelhecer e morrer lá, naqueles campos, aquela vastidão de verde, paz e sossego" – ambos soltamos um suspiro desejoso. Sempre tivemos essa mesma ideia do que iriamos fazer quando estivéssemos cansados e preparados para nos aposentarmos. A casa na Inglaterra era onde concordávamos que terminaríamos nossas vidas.
Nós dois somos doidos por literatura de época, conversamos muito sobre livros que já lemos e assim nasceu nossa paixão pela Inglaterra.
A dela muito maior que a minha.

"vamos comigo. Podemos alugar um carro dirigir até onde quisermos e andar por aqueles campos" – peço sem nem tentar esconder o tom esperançoso na minha voz. Sentia que precisava me conectar de novo com ela nessa parte, reclamar de volta para mim essa parte sonhadora que ela sempre compartilhava comigo, mas agora parecia duvidosa e com medo demais para me contar as coisas como contava antes. E por isso eu não a culpo, as merdas que eu fiz foram profundas, atingiram e machucaram demais minha garota.
Ela fica em silencio por uns dois minutos. Conseguia visualiza-la deitada na cama com o celular pressionado no ouvido, mordendo o lábio considerando os prós e contras

"uma semana lá, mais que isso eu não posso, vou começar um projeto mês que vem e preciso estar em L.A para as primeiras cenas" – como sempre faço quando ganho algo que queria muito, faço uma pequena dancinha da vitória lembrando do quanto ela ria quando a fazia. É realmente muito idiota, mas é uma maneira de me expressar que faço desde bem pequeno.
Se quiser pode culpar meu pai que me ensinou e minha mãe que o incentivou a me ensinar.

"posso dizer para eles que saímos em dois dias?" – não me importo que ela ouça o quanto estou animado, é bom que ouça na verdade

"pode" – fecho os olhos mal contendo minha felicidade dentro de mim.
Essa viagem iria ser o boom que eu estava esperando. 

Once Again (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora