Capítulo 5

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-POV Sophia - 

"eu estou bem, mãe, pode ficar tranquila" – digo o mais doce que consigo. Minha mãe vem me ligando todos os dias desde o divórcio para ver como estou. Todos os dias tenho que assegura-la que tudo está bem e que sou grandinha o suficiente para lidar com isso sem precisar do colinho dela pra chorar. 

Não que isso não tenha acontecido. Chorei por quase uma semana no colo dela depois que sai do escritório e mais alguns dias depois que vi a matéria na internet sobre Alex Blackwell e sua nova namorada. Minha mãe e meu pai são as únicas pessoas que veem minhas fraquezas e para quem eu não tenho medo ou vergonha de expô-las.

"só quero saber se está tudo certo com minha garotinha. Fiquei sabendo dos magnatas que vem daqui uma semana, vocês dois vão ter que se ver quase todos os dias quando eles estiverem aqui. Queria saber se não me quer em casa quando chegar depois de um dia todo com seu ex babaca" – eu dou uma risada. Ela o chama assim agora. Antes era "querido" ou "amor", mas agora esses apelidos foram trocados por "babaca" ou "filho de uma boa mãe" porque apesar do nosso término nossas famílias são muito próximas e eu não queria que isso mudasse, pois nossos pais são melhores amigos e a amizade deles faz um bem enorme para os quatro.

"por enquanto eu estou bem, eu ligo se precisar de você e do papai"

"é melhor mesmo, voamos no próximo minuto" – sorrio mesmo que ela não possa ver. Sempre tentando fazer o melhor por mim e me apoiar mesmo à distância.

"eu sei, obrigada por ligar e perguntar, mas eu preciso ir agora, tenho que começar a gravar" – trocamos despedidas e assim que o diretor grita meu nome, eu pego a pistola personalizada e entro em minha posição

As gravações tinham acabado a alguns minutos atrás. Entro no meu trailer e somente quando olho para frente vejo a figura alta de Alexander com os braços cruzados e o olhar duro que tanto estou vendo nesses últimos tempos. Ele costumava ter sempre o melhor sorriso estampado no rosto e esse mesmo sorriso iluminava meu mundo. Mas agora ele parecia sempre estar estressado e sempre respondia as coisas da maneira que bem entendia.
Se não soubesse melhor que isso, diria que o divórcio causou tudo isso, mas ele vinha agindo assim mesmo antes de eu descobrir de tudo.

"que droga está fazendo aqui?" – eu pergunto ainda meio assustada, afinal, nunca esperava chegar aqui e encontra-lo sentado com a cara de quem comeu e não gostou

"acho que você já é bem grandinha pra ser o assunto de manchete desse tipo" – ele diz com o mesmo tom forte e bravo que tinha quando estava tentando manter sua fúria dentro de si e não explodir na frente de ninguém. Ele quase me joga o tablet e leio o título "Sophia Parker e sua interessante volta pela nova vida de solteira". Eu sem aguentar deixo sair uma risada que eu percebo irrita-lo ainda mais.

"e o que tem de errado nisso? Eu estou solteira, não estou?" – seus olhos quase faiscavam enquanto ele me olhava no mais profundo dos meus olhos. Eu costumava me deixar aberta a ele, o deixava ver minha alma, porque além dos meus pais ele era a única pessoa que nunca me julgava por nenhuma das escolhas que eu fazia ou já fiz no passado.
Agora sentindo seu olhar implorar para me ver do jeito que costumava fazer, eu só conseguia me fechar mais e mais, nunca mais querendo que ele veja o que realmente tem dentro de mim.
Seria vergonho demais depois de tudo que ele me fez.

"qual sua necessidade de mostrar isso ao mundo todo?" – eu levanto as sobrancelhas

"qual era a sua necessidade de mostrar ao mundo nosso relacionamento?" – pergunto cruzando os braços e dando alguns passos em direção a ele

"era diferente" – ele diz sem ter certeza do que estava dizendo. Eu deixo sair uma risada irônica

"você não tem mais o direito de vir aqui no meu local de trabalho e cobrar algo assim de mim. Eu não sou mais sua bonequinha" – ele vem pra cima dessa vez, os olhos faiscando e as orelhas quase soltando fumaça.

"você nunca foi minha bonequinha. Eu nunca quis ou deixei que você fosse menos do que eu, sempre me certifiquei disso" – eu dou um passo para trás sem dizer nada. Nós dois ficamos em silencio por um momento, sem ter certeza qual de nós dois falaria primeiro ou atiraria a próxima pedra.

"vai embora, por favor. você tem uma mulher te esperando e eu sei bem o que é ficar acordada igual uma idiota enquanto seu namorado está com outra" – ele parecia afetado pelas minhas palavras, mas eu não recuei meu olhar amargo. Ele merecia sentir pelo menos um pouco da dor que eu sentia todos os dias enquanto ele estava na cama com ela e eu em casa morrendo de preocupação pelo seu sumiço.

"só peço que fique longe dos clubes e baladas por essa semana, pelo menos até termos passado pela visita dos investidores. Não por mim, pelo bem da nossa empresa" – ele diz enfim com a voz mais calma e uma camada de mágoa. Ele não fazia ideia o que era ter mágoa de verdade

"pela empresa. Assim que eles assinarem, minha comemoração vai ser uma garrafa de champanhe caro e uma noite com o cara mais gato da balada" – não quero ver seu rosto quando termino de dizer isso então me viro de costas e começo a tirar os anéis e outras joias que estava usando.
Quando ouço a porta fechar, as lágrimas imploraram para sair, mas resolvo ser mais forte do que isso segurando-as todas dentro. 

Once Again (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora