-POV Sophia Parker –
Passo os dedos pelas minhas bochechas limpando as lágrimas que tinham descido sem permissão. Eu ainda não conseguia lembrar sem chorar. Alguma parte da dor tinha sumido e sabia que isso era efeito do tempo que tenho passado com Alex.
De repente perceber que ele estava realmente me curando, mesmo que devagar, era... sobrepujante.
O som da campainha me assustou. Era tarde e não tinha marcado com nenhuma das meninas para nos encontramos hoje. Não me importei de calçar nada quando me levanto e desço as escadas para atender a porta.Quando abro a porta, Alex estava de pé, lindo como sempre, vestindo um terno preto já sem a gravata e dois botões de cima da camisa branca abertos.
Seu sorriso some e uma expressão preocupada toma conta do seu rosto quando vê meu rosto molhado e provavelmente meus olhos vermelhos."fiz alguma coisa de errado?" – eu apenas balanço a cabeça, mas ele dá dois passos à frente e pega meu rosto entre as mãos me forçando a olhar seus glóbulos azuis como dois pedaços do céu num dia quente de verão – me conta, pode conversar comigo.
"eu estava lembrando... daquele dia" – eu não tinha que especificar qual dia, ele sabia bem, ainda mais pelas lágrimas todas. Seu toque se retrai e seu rosto fica uma mistura indescritível de todas as piores emoções que alguém pode sentir, e por mais que eu ainda não o tivesse perdoado cem por cento, ver aquela expressão em seu lindo rosto, fez meu coração apertar e uma vontade de abraça-lo se apoderou de mim.
"sabia que cedo ou tarde isso ia aparecer" – sua voz era um sussurro temeroso e um espelho de tudo que estava sentindo por dentro. Sentimentos, talvez, que ele não conseguisse colocar em palavras. Assim como eu não conseguia colocar os meus.
Decidimos entrar e nos guio até a parte de trás da minha casa, no jardim, vulgo único lugar da casa que me traz um real senso de paz de espírito de verdade."eu não queria pensar. Evito pensar desde alguns dias depois que aconteceu. A dor ainda é grande" – eu não tinha certeza se queria chorar ou não, tudo dentro de mim era uma bagunça sem explicação correta.
"depois que sai da casa eu vomitei minhas tripas no canteiro perto do portão" – ele diz com a voz baixa. Eu volto meus olhos para ele – "me odiei tanto até algumas semanas atrás, não sabia como diabos eu tinha tido coragem de fazer aquilo, como eu tinha estragado anos de felicidade e luta com apenas três noites quando não via outra maneira de lidar com as coisas..." – ele estava cheio de vergonha e arrependimento
"três noites?" – franzo o cenho para o detalhe
"nunca dormi com ela..." – minha boca se entreabre e tudo agora parecia estar parado, o mundo não rodava mais.
"você... o que?" – ele me olha nos olhos pela primeira vez desde que entramos
"quer dizer, tive relações sexuais com ela depois do divórcio, mas antes... eu não consegui, eu não podia" – minha cabeça era um grande nó neste momento. Tudo em que meu ódio se baseou nesses últimos meses tinha sido o fato de que mesmo com nossa infinita tensão sexual mesmo depois de anos juntos, ele tinha tido coragem de dormir com aquela mulher.
"eu te odiei por quase 8 meses pensando que você tinha dormido com ela... e agora você me diz que nunca dormiu com ela quando estávamos casados?" – seus olhos eram agora confusos me encarando
"eu nunca disse que tinha dormido com ela" – reviro os olhos
"você disse 'me desculpa, eu fiquei com ela'" – repito suas palavras daquela noite
"fiquei tipo, 'me desculpa, eu beijei ela uma vez e quando percebi o que tinha feito quase coloquei todo meu jantar no vaso do banheiro daquele bar'"– ambos ficamos em silencio por uns bons minutos. Ele me olhando esperando meu próximo movimento e eu digerindo tudo aquilo que acabara de saber.
"mas você a beijou?" – pergunto enfim
"uma vez, por cinco segundos" – ele diz ainda meio envergonhado, mas agitado o suficiente por minha assumpção.
"ela foi melhor?" – fecho os olhos quando a pergunta escapa dos meus lábios. Ele me olha como se eu fosse louca
"é claro que não!... ninguém é" – ele sussurra as duas últimas palavras e apesar de toda a situação, meu ego infla um pouquinho por saber disso.
Ainda era muito satisfatório saber que eu não me comparava a ninguém que ele já teve ou se tudo der errado, ainda vai ter."o que aconteceu pelas outras duas noites?" – ele demora um pouco mais para responder dessa vez
"a gente conversou. Ela me disse que do jeito que eu estava, o que eu estava passando, você estaria bem melhor sem mim... minha mente estava tão fodida com tudo que... eu acreditei nela... acreditei que seria melhor você estar sem mim do que passar a vida tentando me consertar e consertar minha mente fodida" – eu solto uma risada sem um pingo de humor
"já tinha te ajudado com sua mente fodida vezes demais para pensar desse jeito" – digo cruzando meus braços na frente do peito
"quando minha mente está fodida como estava eu sou suscetível a fazer merda" – ele diz também cruzando os braços e jogando a cabeça para trás, seus olhos agora encarando o céu com estrelas enfeitando a vasta escuridão – "nesse caso a maior merda que poderia fazer na minha vida" – ficamos ambos em silencio por mais um tempo até eu falar de novo
"bom, pelo menos agora vai ser mais fácil para mim te perdoar pela traição" – ele rapidamente volta os olhos para mim
"jura?" – o tom de sua voz mudou completamente para esperançoso
"sempre me aterrorizou saber que você encontrou uma garota qualquer num bar e foi pra cama com ela... porque foi exatamente isso que nos uniu em primeiro lugar" – volto meus olhos para os seus – "senti como se ela tivesse pegado algo que pertencia não somente a mim, mas... a nossa história. Nossa incrível, maravilhosa e épica história" – apenas nos encaramos por um momento, pensando um no outro, pensando em tantas coisas que já aconteceram e desejando que muitas mais ainda aconteçam.
De repente aquela mesma sensação que senti alguns anos atrás, aquela certeza dentro de mim de que ele era o único e que nunca mais sairíamos da vida um do outro, tomou conta de todo meu ser.
Eu iria para aquela viagem com ele e tentaria do mesmo jeito que ele está tentando. Eu me esforçaria para restaurar a confiança, eu trabalharia junto com ele para nós reconstruirmos essa relação nunca esquecendo dos momentos bons que passamos através dos anos juntos. Nunca esquecendo ou deixando morrer essa paixão e esse amor enlouquecedor que é a maior das razões pela qual estou disposta a fazer isso em primeiro lugar.
Aquilo iria dar certo.
Só tínhamos que nos certificar que nenhum esteja tentando mais que o outro dessa vez.
Ele estende sua mão direita para acariciar minha bochecha. Seus dedos fazendo contornos calmos e carinhosos com suas pontas e eu fecho os olhos diante da familiaridade daquele toque calmante."pode me prometer uma coisa?" – ele apenas assente sem dizer nada – "promete que não vamos um tentar mais que outro?" – ele morde o lábio bem de leve, as carícias continuam no mesmo ritmo
"já vimos onde isso nos levou... nunca mais... nós dois vamos tentar da mesma forma, todos os dias. Casamento não foi feito para ser fácil, e honestamente se fosse fácil perderia completamente a graça..." – fecho os olhos por um segundo, agora o sorriso tomava o lugar das lágrimas – "ainda vamos brigar porque somos bom demais nisso para parar de vez" – nós dois damos uma risada.
Aquela noite nós ficamos ali por horas conversando, praticando a honestidade um com o outro. Rimos lembrando de momentos que passamos juntos e ouvi quando ele me pediu desculpa pela milésima vez por ter me dado tanta dor, por ter traído minha confiança.
Entre risadas e lembranças, minha mala no andar de cima foi temporariamente esquecida.
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Once Again (pt-br)
RomanceThe Blackwell Family Duology Livro I O que fazer quando a pessoa que voce mais ama no mundo te machuca, quebra seu coração em mil pedacinhos? Eu estava positiva de nada assim nunca aconteceria comigo. Como poderia imaginar? Como poderia saber que...