Capítulo 6

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-POV Alexander Blackwell –

Dessa vez Nora estava acordada quando cheguei. Pela sua expressão, eu sabia que estava brava, mas honestamente não tinha a mínima energia para brigar sobre qualquer que fosse a besteira da vez.

"achei que íamos jantar fora hoje" – seu tom era como esperava, falsamente fofo e calmo. Ela não tinha nada de fofa ou calma. Era um furacão, um tipo bem diferente de Sophia e que eu não tinha nem de longe a mesma paciência para desarma-lo.

"desculpa, tive que resolver uma pendencia de última hora. Coisa do trabalho" – ela balança a cabeça me olhando como se estivesse magoada por eu perder um jantar – a gente pode remarcar

"claro que pode, a gente sempre pode remarcar" – ela diz com uma irritante falsa compreensão. Aquilo nem tinha começado e já estava me irritando

"vou subir, preciso dormir" – ela se levanta e coloca-se no meu caminho. Levanto as sobrancelhas querendo uma explicação para aquela cena que estava causando.

"você não vai nem admitir que estava com ela?" – respiro fundo passando as mãos pelos meus cabelos – "porque está mentindo pra mim?"

"eu não estou mentindo, Nora, ela é um assunto de trabalho" – quando tento passar, ela bloqueia meu caminho de novo

"como quer que eu acredite nisso?" – ela pergunta cruzando os braços

"eu quebrei o coração dela pra ficar com você! Eu a deixei, deixei minha esposa, chorando no chão da nossa casa e voltei pra cá pra ficar com você... Se não confia em mim, sabe onde fica o caminho da porta, não posso fazer nada quanto a isso" – ela enfim me deixa passar e entro pra dentro do meu quarto ouvindo a porta do meu apartamento bater com força.
Incrivelmente, eu não senti nada ao notar que ela havia ido embora.

-Uma Semana Depois (Vale do Silício) –

"e aqui é onde toda a mágica acontece, todos nossos produtos são fabricados aqui com a melhor equipe do mercado" – digo enquanto andamos pelos corredores onde os funcionários trabalhavam nas montagens dos nossos aparelhos, alguns ainda nem estavam no mercado ainda.

"parece um tédio, mas na verdade é bem interessante assistir todo o processo" – a voz doce ecoa pelo cômodo, e eu assim como os outros três investidores se viram. Ela estava lá com um sorriso lindo no rosto e por mais simples que estava vestida, seu corpo se destacava de uma maneira deliciosa. Ela estava linda e não tinha como reclamar do que estava usando. Até porque ela comeria minhas tripas se eu dissesse alguma coisa – "desculpem o atraso, minha gravação levou mais tempo do que eu previ" – seu tom era profissional e senti saudade de ouvir aquela doçura em sua voz para comigo de novo. Sempre me enfeitiçava da melhor maneira possível, e ela sabia disso.

"acabamos de começar" – ela não diz mais nada para mim especificamente, então continuo andando e mostrando juntamente a ela os pontos mais importantes dos setores da nossa empresa. Ela como a excelente profissional que é, tinha algo importante a acrescentar em todos os setores que visitávamos. Acho que tem suas vantagens trabalhar com a mulher que conhece sua empresa tão bem quanto você.

"são instalações muito impressionantes, cada parte complementa a outra, muito bom mesmo" – diz um dos homens quando estávamos dentro da última sala de reuniões. As reações deles pareciam ser todas positivas e não poderia ficar mais feliz e aliviado com isso.

"a parceria de vocês é muito comovente, vocês têm uma química excelente juntos. Parecem estar sempre em sintonia" – dou um meio sorriso ao ouvi-lo dizer isso. Ele não nos conhecia antes, não tem ideia do quanto nossa química era algo inexplicável, tão forte que parecia quase palpável.
Sophia dá o mesmo sorriso fraco e instantaneamente sei que ela pensava o mesmo que eu. Ela tentava esconder como estava se sentindo, mas eu conhecia essa garota melhor do que ninguém, ela foi o foco de todos os meus pensamentos por nove anos diretos. Dizer que eu era obcecado pela minha garota era um enorme eufemismo. A conhecia até do avesso e por isso sabia quando estava sentindo uma certa emoção. Mesmo que ela quisesse se fechar ainda mais para mim e que por um lado estivesse conseguindo, ainda conseguia lê-la muito bem, afinal, você não desaprende em um ano o que ficou quase dez aprendendo.

"ainda teremos o jantar hoje à noite na sua residência, senhor Blackwell?" – um deles pergunta, sempre educado, sempre calmo, sempre sem mostrar suas intenções.

"sim, claro, esperamos vocês as oito, vai ser um prazer tê-los em minha casa"

Depois de leva-los a porta e ter plena certeza de que eles estavam longe, Sophia se vira para mim com os olhos desconfiados.

"esse jantar... por um acaso vai acontecer na nossa casa? Ou melhor, aquele lugar horrendo que um dia chamei de lar?" – ela pergunta séria. Os braços estavam cruzados e sem querer querendo descansei meu olhar em seus seios por um tempo pequeno, porém o suficiente para que ela notasse – "meus olhos estão mais em cima. Responde minha pergunta" – solto um suspiro, meus ombros acompanhando o movimento

"sim, vai ser lá" – ela fecha os olhos e passa os dedos pela têmpora. Só então eu percebi o quanto sentia saudade de ver o anel de diamante juntamente da aliança encrustada de pequenas das mesmas pedrinhas que ela usava e nunca tirava do dedo por nada.

"por que?" – sua voz estava cheia de pesar, e aquilo tirou mais um pedaço da minha alma. Odiava ouvir algo mesmo perto de o mesmo tom que usou comigo quando descobriu da traição e o pedido de divórcio, aquilo me matava, tirava toda a parte de mim que ainda tinha algo bom para oferecer.

"combinamos isso meses atrás quando eu ainda pensava que você vivia lá. Juro que se soubesse eu não marcaria um jantar importante assim lá naquela casa" – ela desvia os olhos dos meus. Naquele momento a mulher forte, determinada, cabeça-dura e provocativa, tinha sumido. Algo sobre a vulnerabilidade daqueles lindos olhos verdes me fazia querer abraça-la como costumava fazer para espantar qualquer traço de dor e sofrimento do lindo rosto da minha menina. Eu não tinha nem palavras para o quanto me odiava pelo que eu fiz a ela, e com certeza, se soubesse que estaria milhões de vezes mais miserável agora do que a meses atrás, eu nunca teria jogado no lixo a única boa parte da minha vida.

"muda tudo pra minha casa" – eu volto meus olhos para ela – "não importa o que eu tenha que fazer, quem eu tenha que ligar' – ela diz quando eu abro a boca para protestar – "se tiver o mínimo de respeito por mim, por nós, você vai aceitar" – eu não podia nem iria contradizer isso, então somente assinto

"tá, tudo bem, quer alguma ajuda?" – ela balança a cabeça

"só preciso saber para quem ligar e eles vão lá pra casa" – ela diz já com o iPhone na mão

"lembra da Allie? A mocinha que montou nossa festa de aniversário de 5 anos?" – algo se acende de volta dentro de mim quando um pequeno sorriso aparece em seus lábios vermelhos. Meu Deus, eu senti falta desse sorriso!

"claro, me lembro dela. Vou ligar e dizer o que precisamos, só esteja lá as sete e meia, posso precisar de você" – ela diz e sem mais nenhuma palavra sai andando já colocando o telefone no ouvido. 

Once Again (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora