Não podia acreditar no que estava ouvindo. Aquela voz que em quase todas as noites invadia os meus sonhos ao longo desses dez anos estava aqui, bem atrás de mim.
Congelada estava. Congelada fiquei.
— Grande Vicente Ferraço! — Lipe passou por mim feito um furacão. Não precisava ser um gênio para saber que deveria estar cumprimentando o velho amigo — Por onde você andou, meu irmão?
— Por aí! — Respondeu em tom brincalhão.
Sua voz ainda me causava arrepios pelo corpo, no entanto, a resposta dada por ele me fez despertar. Por aí?
Ergui meu olhar e encontrei Caio me analisando atentamente. Como boa dramaturga que sempre fui, viro-me lentamente em direção ao homem que um dia foi, e ainda é, o grande amor da minha vida. Vejo Lipe e Vicente conversando com animação, mas nada escutava, meus olhos focavam apenas em Vin.
Ao contempla-lo depois de tantos anos sinto meu coração acelerar além do normal, entretanto, consigo manter o controle e a pose. Ele estava ainda mais deslumbrante. Seu cabelo liso castanho escuro estava mais curto e penteado, diferente do jovem Vin de dezesseis anos que andava despenteado. Seu rosto, perfeitamente esculpido pelo próprio Deus, mais maduro e másculo com a barba por fazer, me deixou constrangida e encantada ao mesmo tempo.
Como ele poderia ainda ter esse efeito sobre mim?
Vestia uma calça de sarja preta e blusa polo branca, evidenciando seus belos músculos.
Que homem!
Respiro fundo me recompondo. Como se tivéssemos combinado, Caio pigarreia atrás de mim chamando a atenção dos dois homens à minha frente.
Vicente, que antes sorria com algo que Felipe lhe dizia, ao fixar seus olhos azuis nos meus, muda a expressão de felicidade para espanto e surpresa. Sua boca abre e fecha algumas vezes, mas nenhuma palavra saía de lá.
— Vicente! — Cumprimento com naturalidade e educação, como se tivéssemos nos falado pela última vez na noite de ontem. Por fora aparentava uma tranquilidade incomum. Em meu interior, um verdadeiro vendaval de sentimentos e emoções.
Ele abre a boca mais uma vez para me responder, mas é impedido pelo pastor André, que chega acompanhado por uma linda mulher loira de estatura média, pele alva como a neve e olhos azuis, que me encaram com expectativa.
— Ah! Aí está você, Caio! — André exclama satisfeito — Vejo que já conheceu seu companheiro de quarto, senhor Felipe!
— O Caio? — Meu amigo questiona e o pastor assente — Sim! Na verdade, nós já nos conhecíamos.
— Excelente! — Sua atenção volta para mim — Senhorita Agatha, esta é a Lídia, uma de suas companheiras. Ela irá lhe acompanhar até o quarto e lhe apresentará todo o resto. Assim como o Caio. — Seu olhar vai para Vicente, que ainda me encara com incredulidade — Senhor Ferraço, está tudo bem?
Ele pigarreia e fita o mais velho entre nós.
— Está sim, pastor. — Sua voz sai rouca e baixa.
— Ótimo! Siga-me, gostaria de conversar algumas coisas com você e o missionário Théo.
— Ok.
Os dois se despedem de nós e se afastam. Acompanho-os com o olhar por alguns segundos, até sentir uma mão pequena em meu ombro. Viro-me e dou de cara com a mulher loira, a Lídia.
— Vamos? — Questiona um pouco envergonhada.
— Sim! — Ofereço-lhe um sorriso forçado e pego minhas malas.
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Unidos Por Um Propósito [CONCLUÍDO]
RomanceUm dos principais motivo de separação entre casais é a divergência em suas prioridades e objetivos. No entanto, com Agatha e Vicente a história foi um pouco diferente. Ainda que possuíssem sonhos semelhantes, mal tiveram tempo de viver o tal amor, p...